São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002

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LIVRO/LANÇAMENTO

IMS reforça comemorações do centenário da obra "Os Sertões", na segunda-feira

Um mar de "Sertões"

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Submerso nas águas do açude Cocorobó, o arraial de Canudos está nas alturas. Na segunda-feira são comemorados os cem anos de publicação de "Os Sertões". E o cenário e a saga de Antônio Conselheiro, descritas na obra clássica de Euclydes da Cunha, voltam com fôlego novo.
Coroando uma enxurrada de lançamentos importantes que ao longo deste ano esmiuçaram o centenário desse clássico do pensamento brasileiro chega hoje às livrarias a edição especial de "Cadernos de Literatura Brasileira" dedicada ao jornalista, escritor e engenheiro nascido em 1866 e morto em 1909.
Pela primeira vez voltada a um autor já desaparecido, a publicação do Instituto Moreira Salles, criada em 1996, monta um mosaico amplo do universo euclydiano.
Com o dobro do tamanho de suas edições normais, o "Caderno" segue o mote estrutural de "Os Sertões" -o tripé "A Terra", "O Homem" e "A Luta".
O trabalho abre com aprofundada cronologia da biografia euclydiana, feita pelo estudioso de sua vida e obra Roberto Ventura (morto em agosto deste ano), de quem a Publifolha lança em breve "Folha Explica Os Sertões".
Seguindo o exemplo de Euclydes, o dossiê rastreia a fundo a terra na qual se desenrolou a Guerra de Canudos. As regiões contíguas e o arraial da batalha são hoje revisitados em ensaio do fotógrafo Edu Simões e em reportagem de Roberto Pompeu de Toledo.
Substituindo o que seria "A Luta", em "Sertões", entra "A Obra", parte mais extensa do livro. Nesse segmento, que tem como atração a publicação de poemas inéditos do escritor, se destaca o esforço por buscar, em textos dos principais estudiosos do autor, pontos de vista pouco abordados na avalanche de obras euclydianas (são conhecidas quase 4.000). Walnice Nogueira Galvão, por exemplo, analisa o sentido da viagem no autor, aproximando-o de Joseph Conrad e Lawrence da Arábia. Francisco Foot Hardman, da Unicamp, complementa o dossiê de poesias abordando a produção do autor em versos.
Também estão nesse módulo depoimentos de grandes leitores de "Os Sertões", do economista Celso Furtado ao dramaturgo José Celso Martinez Corrêa.
Fechando a lista de seus "acepipes", "Cadernos" traz dois encartes especiais. "O Fim da Guerra do Fim do Mundo" é o fac-símile do ofício enviado pelo general Artur Oscar, comandante da 4ª Expedição, ao ministro da Guerra, marechal Carlos Machado de Bittencourt, em que relata o assalto final ao povoado do Conselheiro. "Passeio dentro de Canudos" apresenta um mapa feito pelo fotógrafo e pesquisador Claude Santos, tentando mapear as andanças de Euclydes pela região.
"Como epítome que é do pensamento brasileiro, o trabalho de Euclydes não poderia ser esgotado em nosso "Caderno". Mas acredito que conseguimos uma articulação rara do mosaico de possibilidades que a obra possibilita", diz Antonio Fernando de Franceschi, diretor-superintendente do Instituto Moreira Salles.


CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA - EUCLYDES DA CUNHA. Edição: Antonio Fernando de Franceschi e Rinaldo Gama. Editora: Instituto Moreira Salles (tel. 0/xx/11/3371-4455). Quanto: R$ 70.


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