São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002

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LIVRO/LANÇAMENTO

"A POLAQUINHA"

Obra sai pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil para sócios

Romance de Dalton Trevisan ganha edição para poucos

MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA

Ela voltou. A loira fatal de subúrbio, a dama do lotação paranaense, a Bela da Tarde de Curitiba regressa com sua graça "petite" e desta feita numa roupagem luxuosa: embora, verdade seja dita, para a alegria de alguns poucos felizardos.
A Confraria dos Bibliófilos do Brasil (CBB) relança "A Polaquinha", de Dalton Trevisan, que conta a vida e os amores de uma garota de programas acidental.
A edição é requintadíssima: totalmente ilustrada, texto impresso em serigrafia, capa dura produzida com papel de fibras vegetais, feito à mão.
Trata-se do décimo título da CBB, que edita seus livros apenas para sócios, mas você também pode candidatar-se a uma vaga.
Este único romance do maior contista brasileiro foi desdenhado pela crítica e também pelo público quando foi publicado, mais de 15 anos atrás.
Talvez magoado, Trevisan retomou o conto, expressão para a qual inventa versões cada vez mais minimalistas, como o leitor pode comprovar em "Pico na Veia", recentemente lançado pela editora Record.
Mas por que o mestre da elipse reveladora, do enxugamento criativo, se aventurou pela seara romanesca, campo supremo da inclusão quase absoluta? De fato, uma das razões para o desapontamento dos fãs com "A Polaquinha" foi a sensação de que este romance é um conto alongado, ou uma sucessão de contos com uma mesma personagem principal.
A polaquinha é uma moça de classe média baixa, que trabalha num hospital e faz bico de prostituta, para pagar o quartinho alugado e o cursinho noturno.
Namora um, namora outro. Tem uma grande paixão de adolescência, um homem magro, feioso e asmático. Os outros são casados: Nando, o advogado gordo e manquinho; Pedro, o motorista de ônibus ciumento e insaciável na cama.
Sente-se que a personagem não evolui e que suas relações, superficialmente variadas, são sempre iguais. Essa impressão de inércia é reiterada pela sequência final do livro, uma sucessão de "programas" de polaquinha com seus clientes, em que se mantém a mesma estrutura com bem-humoradas variações.
O resultado é uma espécie de reverberação cognitiva, como se estivéssemos diante de um Philip Glass da ficção.
Esse efeito estilístico sem dúvida é um dos pontos altos do romance. O outro está nas falas. Trevisan herdou de Nelson Rodrigues a mestria na arte do diálogo. Não há ninguém hoje no Brasil como ele, capaz de escrever colóquios ao mesmo tempo prosaicos e dramáticos, exemplares e naturais.
Em traje a rigor ou de vestido curto e salto alto, "A Polaquinha" é uma festa. Ainda que organizada com paupérrimos recursos.

A Polaquinha


    
Autor: Dalton Trevisan
Ilustrações: Darel Valença Lins
Edição: Confraria dos Bibliófilos do Brasil
Quanto: R$ 130 (146 págs., edição limitada para sócios da CBB)



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