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LIVRO/LANÇAMENTO
"A POLAQUINHA"
Obra sai pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil para sócios
Romance de Dalton Trevisan ganha edição para poucos
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
Ela voltou. A loira fatal de
subúrbio, a dama do lotação
paranaense, a Bela da Tarde de
Curitiba regressa com sua graça
"petite" e desta feita numa roupagem luxuosa: embora, verdade seja dita, para a alegria de alguns
poucos felizardos.
A Confraria dos Bibliófilos do
Brasil (CBB) relança "A Polaquinha", de Dalton Trevisan, que
conta a vida e os amores de uma
garota de programas acidental.
A edição é requintadíssima: totalmente ilustrada, texto impresso em serigrafia, capa dura produzida com papel de fibras vegetais, feito à mão.
Trata-se do décimo título da
CBB, que edita seus livros apenas
para sócios, mas você também
pode candidatar-se a uma vaga.
Este único romance do maior
contista brasileiro foi desdenhado
pela crítica e também pelo público quando foi publicado, mais de
15 anos atrás.
Talvez magoado, Trevisan retomou o conto, expressão para a
qual inventa versões cada vez
mais minimalistas, como o leitor
pode comprovar em "Pico na
Veia", recentemente lançado pela
editora Record.
Mas por que o mestre da elipse
reveladora, do enxugamento criativo, se aventurou pela seara romanesca, campo supremo da inclusão quase absoluta? De fato,
uma das razões para o desapontamento dos fãs com "A Polaquinha" foi a sensação de que este romance é um conto alongado, ou
uma sucessão de contos com uma
mesma personagem principal.
A polaquinha é uma moça de
classe média baixa, que trabalha
num hospital e faz bico de prostituta, para pagar o quartinho alugado e o cursinho noturno.
Namora um, namora outro.
Tem uma grande paixão de adolescência, um homem magro,
feioso e asmático. Os outros são
casados: Nando, o advogado gordo e manquinho; Pedro, o motorista de ônibus ciumento e insaciável na cama.
Sente-se que a personagem não
evolui e que suas relações, superficialmente variadas, são sempre
iguais. Essa impressão de inércia é
reiterada pela sequência final do
livro, uma sucessão de "programas" de polaquinha com seus
clientes, em que se mantém a
mesma estrutura com bem-humoradas variações.
O resultado é uma espécie de reverberação cognitiva, como se estivéssemos diante de um Philip
Glass da ficção.
Esse efeito estilístico sem dúvida é um dos pontos altos do romance. O outro está nas falas.
Trevisan herdou de Nelson Rodrigues a mestria na arte do diálogo. Não há ninguém hoje no Brasil como ele, capaz de escrever colóquios ao mesmo tempo prosaicos e dramáticos, exemplares e
naturais.
Em traje a rigor ou de vestido
curto e salto alto, "A Polaquinha"
é uma festa. Ainda que organizada com paupérrimos recursos.
A Polaquinha
Autor: Dalton Trevisan
Ilustrações: Darel Valença Lins
Edição: Confraria dos Bibliófilos do Brasil
Quanto: R$ 130 (146 págs., edição
limitada para sócios da CBB)
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