INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Alguém pode imaginar, hoje, Kevin Costner ganhando o Oscar por um filme como "Dança com Lobos"?
Bem, pois então convém lembrar que há 15 anos, até menos, Kevin Costner era um misto de Brad Pitt com Tom Hanks (vamos convir, Tom Hanks parece que já não é aquele). O galã por excelência.
Nessa onda, ele se aventurou na direção e realizou um faroeste de uma integridade quase irritante. Ele mesmo fazia o papel do militar designado a servir num posto avançado -bota avançado nisso: avançadíssimo.
Ele vive cercado por gelo, índios e búfalos. Mas isso é o que o filme tem de muito particular: em cada plano, em cada fotograma quase, sente-se o respeito do autor pela natureza e suas manifestações, pelos silvícolas e seus direitos, pelo meio ambiente.
Costner hoje é pouco mais que um fantasma no meio cinematográfico, o que é intrigante. Terá ele sido esquecido por seus defeitos (a começar pelo bom-mocismo) ou por suas virtudes (a começar pelo mesmo bom-mocismo)? Ou seja: que lugar existe no mundo para a integridade ou para sentimentos decentes que não sejam estritamente egoístas?
Assim, o tempo de Costner passou, substituído por heróis mais pragmáticos e menos compassivos. Para ficar apenas com os citados acima, Tom Cruise e Brad Pitt são tipos pelo menos ambíguos. Seu charme consiste em, justamente, nunca sabermos se estão do lado certo ou do errado, até sabermos que normalmente estão do lado certo, ou seja, do lado deles mesmos.
Ora, diante disso é evidente que Kevin Costner tornou-se um anacronismo. Não tem ambiguidade. É monotonamente heróico. Mesmo quando faz o bandido, é um bandido íntegro. Kevin não satisfaz a perversidade do século 21. Mas é espantoso notar como certos traços de nossa mentalidade mudaram em pouco tempo.


DANÇA COM LOBOS. Quando: hoje, às 17h10, no Telecine Action.

TV ABERTA

"Cineasta da Selva" recria pioneirismo amazônico

Armadilha
Globo, 13h05.

(Entrapment). EUA/Alemanha/ Inglaterra, 99, 113 min. Direção: Jon Amiel. Com Sean Connery, Catherine Zeta-Jones. Ladrão de jóias tem de se entender com Zeta-Jones, que em princípio está lá para capturá-lo. Mas eles não são bem como pensamos. Veículo que se pode ver com prazer.

O Cineasta da Selva
Cultura, 15h30.

Brasil, 97. Direção: Aurélio Michiles. Com José de Abreu, Denise Fraga. Semidocumentário que reconstitui a carreira de Silvino Santos, pioneiro do cinema na Amazônia. De quebra, o que se verá é a história do Amazonas no início do século (período da borracha) e suas decorrências. A conferir.

Corrida Rumo ao Sol
Record, 18h45.

(Race the Sun). EUA, 96, 99 min. Direção: Charles T. Kanganis. Com Halle Berry, Casey Affleck. Alunos de última categoria, motivados por uma professora genial, reabilitam-se e constroem carro movido a energia solar.

Airborne, Ameaça Letal
Bandeirantes, 22h.

(Airborne). Canadá, 98, 93 min. Direção: Julian Grant. Com Steve Guttenberg, Kim Coates. Esquadrão policial resgata arma biológica terrível que está em mãos de grupo terrorista, num avião.

Inspetor Bugiganga
SBT, 22h.

(Inspetor Gadget). EUA, 99, 78 min. Direção: David Kellogg. Com Matthew Broderick, Rupert Everett. John Brown, segurança atrapalhado, é transformado em robô detetive e realiza seu sonho de virar detetive famoso.

Além das Nuvens
Bandeirantes, 0h30.

(Par-delà les Nuages). França, Itália, Alemanha, 95, 109 mim. Direção: Michelangelo Antonioni. Com Marcello Mastroianni, Fanny Ardant. Basicamente, três episódios que marcaram o retorno de Antonioni ao cinema, assessorado por Wim Wenders, após um derrame que o deixou com o corpo semiparalisado. Que dizer? Antonioni meio paralítico é melhor do que 99% dos cineastas em atividade. A primeira história, dos amantes (ou não amantes) de Ferrara, Itália, é memorável.

O Cadete Winslow
Globo, 1h.

(Winslow Boy). EUA, 99, 104 min. Direção: David Mamet. Com Nigel Hawthorne, Guy Edwards. Baseado em uma peça britânica, "O Cadete Winslow" retrata um caso real na Inglaterra, em 1912. Cadete adolescente é expulso da escola naval após ser acusado de roubo. Convencido de sua inocência, o pai do rapaz vai mover montanhas para forçar a coroa britânica a rever o caso. Como estamos às vésperas da Primeira Guerra, as coisas vão se complicar para a família, e o imbróglio adquire proporções maiores.

Os Espiões que Entraram numa Fria
Globo, 2h45.

(Spies Lie us). EUA, 85, 102 min. Direção: John Landis. Com Chevy Chase e Dan Aykroyd. Dupla de espiões da CIA, que nunca deixou seus escritórios, sonha com aventuras à James Bond. A oportunidade aparece quando eles são convocados para salvar o mundo de um desastre nuclear e enviados à União Soviética. Comédia datada, da direção e atores à sátira da Guerra Fria.
(INÁCIO ARAUJO E BRUNO YUTAKA SAITO)


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