São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2006

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Sandy e Junior esquentam o Tom Brasil em show único

Em apresentação da turnê para divulgar seu 15º trabalho, "Sandy & Junior", dupla lota casa paulistana com mamães, papais, adolescentes e fãs gays

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Quem aí está apaixonado?", pergunta Sandy, e estica o braço com o microfone apontado para o público:
"Eeeeeeeu!", respondo alto, junto com todo mundo. É domingo, hora do "Fantástico", mas o Tom Brasil - Nações Unidas está lotado, no único show em São Paulo da mais recente turnê dela e de Jr.
"O amor está no ar!", continua Sandy.
O problema é que o ar está muito quente, sem ventilação.
À minha frente, um rapaz de bochechas gorduchas e suadas, pançudo, com cerca de 30 anos, beija interminavelmente uma "Sandy" de uns 18, ao lado de um pratinho de croquetes.
"...Eu tenho inveja do vento que pode te tocar...", canta Sandy no palco, balançando a cabeça lentamente para a direita e para a esquerda, a escova incólume ao bafo quente.
O bochechudo olha nos olhos da Sandy-cover, enquanto ela se apóia com os braços esticados nos ombros dele e o beija com a boca e o nariz (tipo esquimó): sem interromper o beijo, a moça levanta a mão direita na lateral e registra o momento com a câmera digital.
Saio para tomar um ar (condicionado) no saguão, e conheço a professora Sílvia Figlioli, 47, que espera a filha Paola, 17. "Este ano, pela primeira vez, resolvi ficar aqui fora. Você não sabe como o show é chato", diz.
Sílvia conta que Paola é "toda certinha, igual a Sandy": "No colégio, ela tirava dez em física. Chegamos a pensar que fosse doente. Uma vez tirou dois em literatura, mas foi um boicote à professora, porque achou a prova ridícula", conta.
As mulheres são maioria na audiência: tem as "Sandys" adolescentes com suas mães, como Paola; as fãs com mais de 21, que acompanham a carreira da cantora "há 11 anos", como as irmãs Karina e Kamilla Bacellar ("com K"); e as garotas emancipadas, caso de Camila Cocia, 24: "Na terça vou ao show do Deep Purple", diz.
Os homens se dividem em dois grupos: os que se apressam em dizer que vieram acompanhar as mulheres, e, segundo a mãe de Paola, os "viados"...
Como assim?
"Minha filha trocou e-mails com uns meninos que conheceu no último show, você precisava ver, tudo gay", afirma ela.
O estudante de rádio e TV Michael Marques, 21, confessa:
"Até o 2º ano do ensino médio, eu tinha vergonha de dizer que gostava da Sandy. Era considerado pagar mico, coisa de menino "aviadado'", conta ele, cheio de purpurina no rosto, uma faixa na cabeça com o nome dos irmãos cantores e a camiseta preta com a silhueta em branco do bonequinho Jr. e da bonequinha Sandy.
Marques não vê mais problemas em dizer que costumava dublar Jr. nas quermesses da igreja próxima de sua casa.
"Eu adoro os dois, sempre os adorei!", desabafa.
No palco, Jr. se descabela em um solo de bateria , enquanto Sandy checa distraidamente as pontas dos cabelos longos.
"Eu quero meus R$ 500 de volta! Agora!", irrompe no saguão o empresário Wanderson Kleiton (nome fictício), com a mulher e as crianças, alegando que comprou o ingresso mais caro, e seu filho "foi atropelado pelos loucos da primeira fila".
Lá dentro, Sandy gira, sorrindo, flexiona as pernas e toma um gole d'água. Diz que vai levar "um jazz", e canta "Samba do Avião" (Tom Jobim).
Mas isso não é bossa-nova?
Não importa, o público que atropelou as crianças de Wanderson Kleiton canta (eu junto), como se fosse um baladão. Sandy sorri emocionada e verte a cabeça para o lado: "As músicas ficam muito mais bonitas quando vocês cantam."


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