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Sandy e Junior esquentam o Tom Brasil em show único
Em apresentação da turnê para divulgar seu 15º trabalho, "Sandy & Junior", dupla lota casa paulistana com mamães, papais, adolescentes e fãs gays
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Quem aí está apaixonado?",
pergunta Sandy, e estica o braço com o microfone apontado
para o público:
"Eeeeeeeu!", respondo alto,
junto com todo mundo. É domingo, hora do "Fantástico",
mas o Tom Brasil - Nações Unidas está lotado, no único show
em São Paulo da mais recente
turnê dela e de Jr.
"O amor está no ar!", continua Sandy.
O problema é que o ar está
muito quente, sem ventilação.
À minha frente, um rapaz de
bochechas gorduchas e suadas,
pançudo, com cerca de 30 anos,
beija interminavelmente uma
"Sandy" de uns 18, ao lado de
um pratinho de croquetes.
"...Eu tenho inveja do vento
que pode te tocar...", canta
Sandy no palco, balançando a
cabeça lentamente para a direita e para a esquerda, a escova
incólume ao bafo quente.
O bochechudo olha nos olhos
da Sandy-cover, enquanto ela
se apóia com os braços esticados nos ombros dele e o beija
com a boca e o nariz (tipo esquimó): sem interromper o beijo, a moça levanta a mão direita
na lateral e registra o momento
com a câmera digital.
Saio para tomar um ar (condicionado) no saguão, e conheço a professora Sílvia Figlioli,
47, que espera a filha Paola, 17.
"Este ano, pela primeira vez,
resolvi ficar aqui fora. Você não
sabe como o show é chato", diz.
Sílvia conta que Paola é "toda
certinha, igual a Sandy": "No
colégio, ela tirava dez em física.
Chegamos a pensar que fosse
doente. Uma vez tirou dois em
literatura, mas foi um boicote à
professora, porque achou a
prova ridícula", conta.
As mulheres são maioria na
audiência: tem as "Sandys"
adolescentes com suas mães,
como Paola; as fãs com mais de
21, que acompanham a carreira
da cantora "há 11 anos", como
as irmãs Karina e Kamilla Bacellar ("com K"); e as garotas
emancipadas, caso de Camila
Cocia, 24: "Na terça vou ao
show do Deep Purple", diz.
Os homens se dividem em
dois grupos: os que se apressam
em dizer que vieram acompanhar as mulheres, e, segundo a
mãe de Paola, os "viados"...
Como assim?
"Minha filha trocou e-mails
com uns meninos que conheceu no último show, você precisava ver, tudo gay", afirma ela.
O estudante de rádio e TV
Michael Marques, 21, confessa:
"Até o 2º ano do ensino médio, eu tinha vergonha de dizer
que gostava da Sandy. Era considerado pagar mico, coisa de
menino "aviadado'", conta ele,
cheio de purpurina no rosto,
uma faixa na cabeça com o nome dos irmãos cantores e a camiseta preta com a silhueta em
branco do bonequinho Jr. e da
bonequinha Sandy.
Marques não vê mais problemas em dizer que costumava
dublar Jr. nas quermesses da
igreja próxima de sua casa.
"Eu adoro os dois, sempre os
adorei!", desabafa.
No palco, Jr. se descabela em
um solo de bateria , enquanto
Sandy checa distraidamente as
pontas dos cabelos longos.
"Eu quero meus R$ 500 de
volta! Agora!", irrompe no saguão o empresário Wanderson
Kleiton (nome fictício), com a
mulher e as crianças, alegando
que comprou o ingresso mais
caro, e seu filho "foi atropelado
pelos loucos da primeira fila".
Lá dentro, Sandy gira, sorrindo, flexiona as pernas e toma
um gole d'água. Diz que vai levar "um jazz", e canta "Samba
do Avião" (Tom Jobim).
Mas isso não é bossa-nova?
Não importa, o público que
atropelou as crianças de Wanderson Kleiton canta (eu junto), como se fosse um baladão.
Sandy sorri emocionada e verte
a cabeça para o lado: "As músicas ficam muito mais bonitas
quando vocês cantam."
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