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Análise
De fato, "Baixio" foi o melhor do festival
JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Com todas as discussões
que possa suscitar do
aspecto ético ou estético -ou até por causa delas-,
"Baixio das Bestas", de Cláudio
Assis, foi o melhor filme concorrente ao principal Candango do 39º Festival de Brasília. O mais competente, o mais belo,
o mais inquieto e corajoso.
Tudo indica, entretanto, que,
para sustentar sua opção pelo
filme de Cláudio Assis ao prêmio principal, a turma mais "cinematográfica" do júri teve que fazer concessões à turma mais
"política". Isso explicaria, por
exemplo, os prêmios de melhor
direção para Helvécio Ratton
("Batismo de Sangue"), de melhor montagem para "O Engenho de Zé Lins", e de melhor roteiro para "Querô".
Para qualquer júri, é sempre
impossível ser inteiramente
justo ou agradar a todos. Em
Brasília, neste ano, sobravam
bons concorrentes em algumas
categorias -como fotografia,
com Walter Carvalho ("Baixio"), Hélcio Nagamine ("Querô") e o vencedor Lauro Escorel ("Batismo")- e faltavam em
outras, como a de atriz. A jovem
Mariah Teixeira, ganhadora
por sua corajosa atuação em
"Baixio das Bestas", praticamente não tinha concorrentes.
Os três longas de ficção são povoados predominantemente
por personagens masculinos.
Mais do que discutir eventuais erros pontuais do júri, talvez seja o caso de apontar o equívoco anterior da comissão
de seleção dos concorrentes, que deixou de fora da competição o belíssimo documentário "Hércules 56", de Silvio Da-Rin, exibido anteontem na cerimônia de encerramento do evento.
Com sua narrativa enxuta,
que elude habilmente os riscos
do panfletarismo e do sentimentalismo, o filme recupera o
episódio do seqüestro do embaixador norte-americano
Charles Burke Elbrick no Rio
em 1969 e a subseqüente libertação de 15 presos políticos.
Entre os seqüestradores estavam, como se sabe, o deputado
Fernando Gabeira e o jornalista Franklin Martins. Entre os
presos libertados, o ex-ministro José Dirceu.
O documentário de Da-Rin
(primeiro longa do diretor, um
dos mais respeitados técnicos
de som do cinema nacional) é
uma aula de vigor e rigor no tratamento de um momento de
inflexão da história política
brasileira.
O colunista JOSÉ GERALDO COUTO viajou a
convite do Festival de Brasília
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