São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2006

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Análise

De fato, "Baixio" foi o melhor do festival

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Com todas as discussões que possa suscitar do aspecto ético ou estético -ou até por causa delas-, "Baixio das Bestas", de Cláudio Assis, foi o melhor filme concorrente ao principal Candango do 39º Festival de Brasília. O mais competente, o mais belo, o mais inquieto e corajoso.
Tudo indica, entretanto, que, para sustentar sua opção pelo filme de Cláudio Assis ao prêmio principal, a turma mais "cinematográfica" do júri teve que fazer concessões à turma mais "política". Isso explicaria, por exemplo, os prêmios de melhor direção para Helvécio Ratton ("Batismo de Sangue"), de melhor montagem para "O Engenho de Zé Lins", e de melhor roteiro para "Querô".
Para qualquer júri, é sempre impossível ser inteiramente justo ou agradar a todos. Em Brasília, neste ano, sobravam bons concorrentes em algumas categorias -como fotografia, com Walter Carvalho ("Baixio"), Hélcio Nagamine ("Querô") e o vencedor Lauro Escorel ("Batismo")- e faltavam em outras, como a de atriz. A jovem Mariah Teixeira, ganhadora por sua corajosa atuação em
"Baixio das Bestas", praticamente não tinha concorrentes. Os três longas de ficção são povoados predominantemente por personagens masculinos. Mais do que discutir eventuais erros pontuais do júri, talvez seja o caso de apontar o equívoco anterior da comissão de seleção dos concorrentes, que deixou de fora da competição o belíssimo documentário "Hércules 56", de Silvio Da-Rin, exibido anteontem na cerimônia de encerramento do evento.
Com sua narrativa enxuta, que elude habilmente os riscos do panfletarismo e do sentimentalismo, o filme recupera o episódio do seqüestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick no Rio em 1969 e a subseqüente libertação de 15 presos políticos.
Entre os seqüestradores estavam, como se sabe, o deputado Fernando Gabeira e o jornalista Franklin Martins. Entre os presos libertados, o ex-ministro José Dirceu.
O documentário de Da-Rin (primeiro longa do diretor, um dos mais respeitados técnicos de som do cinema nacional) é uma aula de vigor e rigor no tratamento de um momento de inflexão da história política brasileira.


O colunista JOSÉ GERALDO COUTO viajou a convite do Festival de Brasília


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