São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2006

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Brasília termina com prêmio polêmico

Eleito melhor filme do festival, "Baixio das Bestas" dividiu os espectadores presentes no Teatro Nacional anteontem

Vaiado, diretor Cláudio Assis disse que já esperava uma reação negativa por ter optado por um filme "difícil" e sem concessões

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O anúncio de "Baixio das Bestas", do pernambucano Cláudio Assis, como melhor filme do 39º Festival de Brasília teve efeito-bomba sobre os 1.500 espectadores que assistiam à premiação no Teatro Nacional, na noite de terça.
Enquanto uma parcela vaiava, dava as costas ao palco, em direção à saída, gritando frases como "júri safado", a outra metade aplaudia e assoviava vigorosamente, em apoio à decisão.
No palco com sua equipe, Assis limitou-se a dizer: "Obrigado pela educação. Obrigado, Brasília". A crítica também elegeu como melhor filme "Baixio das Bestas", que acumulou os troféus de melhor atriz (Mariah Teixeira), atriz coadjuvante (Dira Paes), ator coadjuvante (Irandhir Santos) e trilha sonora (Pupillo).
A cisão entre os que amam e os que odeiam "Baixio das Bestas" ficou clara desde que o filme foi apresentado em competição, no domingo passado, para uma platéia ansiosa por este segundo longa do cineasta.
Com seu primeiro filme, "Amarelo Manga", Assis foi unanimidade no festival de 2002 -melhor filme segundo o júri oficial, a crítica e o público.

Reação esperada
Desta vez, o diretor cogitava uma reação negativa da platéia. "É um filme difícil? É. Desde o início quis fazer assim. Sou de Caruaru. Sei fazer boneco de barro. Não sei pintar porcelana, não. Que as concessões façam os outros, que já as estão fazendo", disse à Folha, após a vaia.
O filme gira em torno da exploração sexual e da violência contra mulheres num povoado do sertão onde o plantio da cana é a principal atividade econômica e o maracatu, a grande expressão cultural.
O diretor diz que a vaia "é boa para o filme". "É para reagir mesmo. É para pensar. Quem vaia são os que mais vão pensar, porque têm culpa, os coitados".

Violência como fetiche
No debate sobre "Baixio das Bestas", promovido pelo festival, Assis foi acusado de "fetichizar a violência" e, portanto, de ter sido "irresponsável".
"Baixio das Bestas" só deve estrear em maio de 2007. Antes disso, é possível que o filme participe de um festival internacional de grande prestígio.
Os demais premiados foram "Batismo de Sangue" -melhor diretor (Helvécio Ratton) e fotografia (Lauro Escorel)-, "O Engenho de Zé Lins", de Vladimir Carvalho -Prêmio Especial do Júri e melhor montagem (Carvalho e Renato Martins)- e "Querô", de Carlos Cortez -melhor ator (Maxwell Nascimento), roteiro (Cortez, Braúlio Mantovani e Luiz Bolognesi), direção de arte (Fred Pinto) e som (Louis Robin).
Pelo segundo ano consecutivo o público elegeu um documentário como melhor filme. "Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá", de Silvio Tendler, foi escolhido pelo voto popular.


A jornalista SILVANA ARANTES viajou a convite do Festival de Brasília

NA INTERNET - Leia sobre bastidores da premiação www.ilustradanocinema.folha.blog.uol.com.br


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