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Brasília termina com prêmio polêmico
Eleito melhor filme do festival, "Baixio das Bestas" dividiu os espectadores presentes no Teatro Nacional anteontem
Vaiado, diretor Cláudio
Assis disse que já esperava
uma reação negativa por
ter optado por um filme
"difícil" e sem concessões
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O anúncio de "Baixio das
Bestas", do pernambucano
Cláudio Assis, como melhor filme do 39º Festival de Brasília
teve efeito-bomba sobre os
1.500 espectadores que assistiam à premiação no Teatro
Nacional, na noite de terça.
Enquanto uma parcela vaiava, dava as costas ao palco, em
direção à saída, gritando frases
como "júri safado", a outra metade aplaudia e assoviava vigorosamente, em apoio à decisão.
No palco com sua equipe, Assis limitou-se a dizer: "Obrigado pela educação. Obrigado, Brasília". A crítica também elegeu como melhor filme "Baixio
das Bestas", que acumulou os troféus de melhor atriz (Mariah Teixeira), atriz coadjuvante (Dira Paes), ator coadjuvante (Irandhir Santos) e trilha sonora (Pupillo).
A cisão entre os que amam e
os que odeiam "Baixio das Bestas" ficou clara desde que o filme foi apresentado em competição, no domingo passado, para uma platéia ansiosa por este
segundo longa do cineasta.
Com seu primeiro filme,
"Amarelo Manga", Assis foi
unanimidade no festival de
2002 -melhor filme segundo o
júri oficial, a crítica e o público.
Reação esperada
Desta vez, o diretor cogitava
uma reação negativa da platéia.
"É um filme difícil? É. Desde o
início quis fazer assim. Sou de
Caruaru. Sei fazer boneco de
barro. Não sei pintar porcelana,
não. Que as concessões façam
os outros, que já as estão fazendo", disse à Folha, após a vaia.
O filme gira em torno da exploração sexual e da violência
contra mulheres num povoado
do sertão onde o plantio da cana é a principal atividade econômica e o maracatu, a grande expressão cultural.
O diretor diz que a vaia "é
boa para o filme". "É para reagir mesmo. É para pensar.
Quem vaia são os que mais vão
pensar, porque têm culpa, os
coitados".
Violência como fetiche
No debate sobre "Baixio das
Bestas", promovido pelo festival, Assis foi acusado de "fetichizar a violência" e, portanto, de ter sido "irresponsável".
"Baixio das Bestas" só deve
estrear em maio de 2007. Antes
disso, é possível que o filme
participe de um festival internacional de grande prestígio.
Os demais premiados foram
"Batismo de Sangue" -melhor
diretor (Helvécio Ratton) e fotografia (Lauro Escorel)-, "O
Engenho de Zé Lins", de Vladimir Carvalho -Prêmio Especial do Júri e melhor montagem (Carvalho e Renato Martins)- e "Querô", de Carlos
Cortez -melhor ator (Maxwell
Nascimento), roteiro (Cortez,
Braúlio Mantovani e Luiz Bolognesi), direção de arte (Fred
Pinto) e som (Louis Robin).
Pelo segundo ano consecutivo o público elegeu um documentário como melhor filme.
"Encontro com Milton Santos
ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá", de Silvio Tendler, foi
escolhido pelo voto popular.
A jornalista SILVANA ARANTES viajou a convite do Festival de Brasília
NA INTERNET - Leia sobre bastidores da premiação
www.ilustradanocinema.folha.blog.uol.com.br
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