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Crítica/cinema/"Um Bom Ano"
Ridley Scott erra em filme previsível que procura "elegância"
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Repare bem: elegância
nunca foi o forte do cinema de Ridley Scott. O
tão premiado "Gladiador", se
bem observado, é algo próximo
do caos em vários aspectos formais. Principalmente em relação à montagem. As seqüências de batalhas e lutas são quase incompreensíveis: não se entende ao certo o que se passa em cena, a agilidade dos cortes esconde a pobreza do material filmado, e nenhuma cena é resolvida de forma, digamos, elegantemente cinematográfica.
Em "Um Bom Ano" essa deficiência é ainda mais evidente,
pois a muleta do espetáculo está ausente, e a elegância é um
objetivo específico perseguido
pelo diretor. O coração do filme
está no contraste entre a brutalidade do mercado financeiro
londrino e a sofisticação de um
vinhedo francês. A visão maniqueísta se impõe de partida.
Max Skinner (Russell Crowe) é um gladiador do mundo
financeiro que engendra uma
estratégia pouco escrupulosa
para faturar milhões. Sua chance de redenção estará na paz e
na sofisticação dos vinhedos,
onde mora o verdadeiro prazer
e a vida pode ser aproveitada de
forma genuína. Skinner recebe
a notícia de que seu tio Henry
(Albert Finney) morreu, deixando-lhe o vinhedo na França,
de onde guarda tenras memórias da infância. Visita o local
disposto a vendê-lo, mas aos
poucos é seduzido pelas lembranças idílicas e pela atração
por uma francesa (Marion Cottillard), que se revela mais teimosa do que ele.
Não bastasse a previsibilidade da trama, cujos desdobramentos podem ser adivinhados nos primeiros minutos, o filme
é marcado por um suposto virtuosismo da imagem que, na
verdade, é de uma pobreza
atroz. Logo no começo há um
plano que se contorce em torno
do personagem principal sem
que haja nenhum motivo para
isso a não ser o exibicionismo
da direção. Repare ainda na forma como os diálogos são filmados e organizados, dando saltos
desnecessários que aparentemente suavizariam a rudeza
dos enquadramentos, mas que
terminam por sublinhar esse
aspecto. Os cortes, sempre
bruscos, tentam conferir uma
agilidade que não consegue de
fato "acelerar" a história.
Referências
A certa altura, fica evidente
que Scott tenta prestar dupla
homenagem: ao cinema europeu, em referências que vão de
Jacques Tati à nouvelle vague, e
ao americano, principalmente
às "screwball comedies" de Howard Hawks e ao otimismo
sentimental de Frank Capra.
Do penteado à postura, Russell
Crowe tenta parecer um Cary
Grant moderno. E toda a trama
relacionada à conquista da jovem francesa faz alusão às comédias tipo "guerra dos sexos" com Spencer Tracy e Katherine
Hepburn. Mas esse manancial
de referências não ajuda.
"Um Bom Ano" é baseado no
livro de Peter Mayle, que o escreveu por sugestão de Scott.
Os dois são amigos e têm vinhedos na região de Provence. Trata-se de um trabalho extremamente pessoal do diretor, o que
só reforça a teoria: "Blade Runner" e "Alien" são exceções,
prováveis produtos do acaso e
de um eficiente sistema de fabricação audiovisual. Não é à
toa que a versão do produtor de
"Blade Runner" é bem melhor.
UM BOM ANO
Direção: Ridley Scott
Produção: EUA, 2006
Com: Russell Crowe, Albert Finney e
Freddie Highmore
Quando: estréia amanhã nos cines Kinoplex Itaim, Bristol e circuito
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