São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2007

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Crítica/"A Última Hora"

Discurso oportunista condena filme sobre relação do homem com a Terra

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O mau uso que faz dos seus recursos coloca "A Última Hora" ao lado do seu tema, que é a má utilização que o ser humano vem fazendo do planeta Terra. Porque se o tiro é até bastante justo e necessário, os meios adotados por este documentário produzido e apresentado por Leonardo DiCaprio são oportunistas e refratários a questionamentos.
O erro de uso já está no formato, pois o cinema, extremamente dispendioso, tem difusão bastante tímida se comparado a meios como a TV. Se a idéia era conscientizar a população global, a sala de cinema não parece ser o melhor lugar.
E, nessa pretensão da tela grande, a má operação cinematográfica fica saliente. O formato é o mesmo dos documentários da Discovery, com o agravante de uma trilha sonora que procura manipular as nossas sensações, amplificar o drama da violência do homem na Terra ou a candura dos bichinhos em interação com a natureza.
Problema mais grave é o viés adotado. O discurso abarca tão somente a opinião de ativistas, cientistas e ambientalistas, e daí temos, literalmente, uma meia verdade. Uma versão única e tendenciosa.
Para o filme, a sobrevivência do homem na Terra vem antes da sobrevivência desta mesma Terra. "A Última Hora", assim como seu rival (o homem depenando os meios), preocupa-se com o próprio umbigo, quer ser imortal, um deus, enfim.
E é curioso como funciona aqui a gramática utilizada pelo longa. Usa-se a ciência, os fatos, para, costurados, criar uma tese impecável, irrefutável, um verdadeiro dogma. Não seria, assim, de todo errado dizer que "A Última Hora" é um grande filme "religioso".


A ÚLTIMA HORA
Direção:
Nadia Conners e Leila Conners Petersen
Produção: EUA, 2007
Onde: Espaço Unibanco, Reserva Cultural e Villa-Lobos
Avaliação: ruim


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