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Guitarra em punho, Melamed
fecha trilogia com "Homemúsica"
Ator quer endereçar carta de "amor e repúdio" ao país na última parte da série que traz a SP
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Meia hora ao telefone com
Michel Melamed, 30, dá a medida da urgência que imprime à
verborragia. Ele fala sem parar
do "desejo absoluto e perpétuo
de fazer arte sem concessão",
de espalhar "verdades plurais"
no livro ou no palco, de "produzir pensamento", de "desestabilizar o olhar" do espectador e,
mais recentemente, desestabilizar até "o ouvir" do público.
"Homemúsica", novo trabalho do poeta e ator, estreou no
Rio em setembro. É a última
parte da "Trilogia Brasileira"
que ganhou pernas próprias
com "Regurgitofagia" (2004),
performance na qual ele recebe
descargas elétricas -no que vê
como libelo ao engajamento
voluntário do público-, e "Dinheiro Grátis" (2006), em que
promove a circulação literal,
em espécie, na platéia.
São Paulo vê a trilogia de hoje
a domingo, no Sesc Santana,
dentro da Mostra Sesc de Artes
-inédita na cidade, "Homemúsica" fica mais uma semana.
"Como apresentar um personagem que a cada movimento
do corpo gera o som de um instrumento?", questiona Melamed, criador e intérprete do jovem Helicóptero. A trajetória desse sujeito, seus impasses e
superações, compõem uma
carta de amor e repúdio ao Brasil, conforme roteiro e encenação assinados pelo artista.
"A música surge como símbolo da criatividade, da multiplicidade das potências que nos
fazem enfrentar as maratonas
do dia-a-dia. E, por outro lado,
fala de um Brasil onde não há
cidadania e das impressionantes matizes dessa sociedade."
O protagonista também busca a fama. Sua trajetória inclui
passagem por um programa de
auditório, o "Show do Estupra",
migrado de "Regurgitofagia". A
proposta é de obra aberta, como nos trabalhos anteriores,
em nome de um espectador ativo na "produção de sua subjetividade, de sua verdade".
Guitarra em punho, dessa
vez o show-de-um-homem-só
é acompanhado por uma banda, "não no sentido musical canônico", tenta explicar. São incorporados recursos tecnológicos. "Um dos postulados da trilogia é trabalhar com diversas
linguagens, o teatro, a performance, a stand up comedy, a
poesia falada", diz.
"Eu quero me entender como poeta. É meu desafio", diz
Melamed, também apresentador do "Re[corte] Cultural", da
TVE. Diferentemente de "Regurgitofagia", que deriva de livro homônimo, "Homemúsica"
gera um romance a ser publicado em breve, além de um CD
com as canções do espetáculo.
TRILOGIA BRASILEIRA
Quando: hoje, às 21h ("Regurgitofagia"); amanhã, às 21h ("Dinheiro Grátis"); dom., às 19h ("Homemúsica").
"Homemúsica" segue até 9/12; sex. e
sáb., às 21h, e dom., às 19h
Onde: Sesc Santana (av. Luís Dumont
Villares, 579, tel. 0/xx/11/6971-8700)
Quanto: R$ 4 a R$ 16
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