LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Max Pierre saiu da direção artística da Universal levando na bolsa o projeto "Cidade do Samba" para inaugurar o selo Zecapagodiscos, de Zeca Pagodinho. Em se tratando de 23 duplas (reduzidas a 18 no CD), a irregularidade é inevitável, mas o número de acertos seria maior se obstáculos fossem superados.
Um deles é a falta de tempo para ensaios, o que resulta em alguns encontros mal-ajambrados, com o maestro Rildo Hora esforçando-se para dar sentido à barafunda de tons, estilos e letras não decoradas.
O dueto Ivete Sangalo/Juan Luis Guerra é um sofrimento, com ambos perdidos na letra e na melodia de "Não Tenho Lágrimas". Em "Diz que Eu Fui por Aí", um Luiz Melodia seguro carrega um Seu Jorge fora de prumo.
Pitty e Marcelo D2 dão conta da divertida "Edmundo", mas a dupla não está de acordo com a boa idéia original do projeto, que era reunir pessoas de linhas ou idades diferentes em torno de sambas conhecidos.
Neste conceito cabem perfeitamente os melhores encontros do CD/ DVD: Roberto Silva e Roberta Sá ("Falsa Baiana"); Ivan Lins e Mariana Aydar ("Desesperar Jamais"); Fundo de Quintal e Gabriel O Pensador ("Boca sem Dente"); Dona Ivone Lara e Nilze Carvalho ("Acreditar"); e Gilberto Gil e Marjorie Estiano ("Chiclete com Banana").
Beth Carvalho está à vontade em "Deixa a Vida me Levar", mas Diogo Nogueira nem tanto. Vanessa da Mata se esforça em "Onde a Dor Não Tem Razão", mas Monarco está, pelo menos, um degrau acima. Já o encontro do samba com o rock é triste, e Chorão, desconjuntado, quase derruba Dudu Nobre em "Posso me Apaixonar".
Há duetos previsíveis, mas bem realizados como o de Zeca Pagodinho e Martinho da Vila ("Mulheres"); Alcione e Elton Medeiros ("Pressentimento"); João Bosco e Daniela Mercury ("De Frente pro Crime"); Almir Guineto e Dorina ("Mel na Boca").
As duplas mais pop ficaram com canções mais pop: Erasmo Carlos e Nando Reis com "De Noite na Cama", Zélia Duncan e Lenine com "Bebete Vãobora". Cláudia Leitte suporta bem o assédio vocal e físico de Jair Rodrigues em "Deixa Isso pra Lá". O número resume o projeto: festa e improvisação em vez de contenção e rigor. Tem lá seu valor.