Na entrevista a seguir, Maurício Ianês fala das confluências e divergências entre moda e arte. E dispara: "A mesmice domina a moda brasileira".

 

FOLHA - A moda é arte?
MAURÍCIO IANÊS - Não, arte e moda são coisas diferentes, o que não impede que elas dialoguem e cruzem as suas fronteiras. A moda não precisa se dizer arte para ser boa. Precisa apenas ser uma boa moda.

FOLHA - A moda é fútil?
IANÊS - Isso é preconceito, ignorância. Dizer, por exemplo, que ela instiga ao consumismo é desconhecer que a maioria das manifestações culturais hoje em dia têm regras de mercado e de consumo.

FOLHA - A arte é mais livre?
IANÊS - Depende de quem faz. Tem artistas que são totalmente presos a uma fórmula que garante o seu lugar no mercado. A liberdade está em quem cria, independentemente da área.

FOLHA - A moda é inferior à arte?
IANÊS - Outro preconceito, alimentado inclusive pelo complexo de inferioridade do povo da moda. A moda é uma coisa nova no mundo, como sistema. No Brasil, é um bebê. A cultura da moda está engatinhando. O que talvez cause desconforto é o aspecto utilitário da moda.

FOLHA - O que está faltando na moda brasileira?
IANÊS - Falta mercado e falta cultura. O mercado é reduzido, por causa da pobreza. E quem consome tem pouca cultura de moda, pouca vontade de se expressar pelas roupas e pouca liberdade de estilo. Com isso, todo mundo só produz a mesma coisa, e a mesmice domina a indústria da moda brasileira.


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