São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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Raro sucesso na China, Guns tem CD vetado no país

Governo proíbe o lançamento de "Chinese Democracy", que, segundo jornal oficial, "faz parte de complô ocidental"

Regime bloqueou até nome da banda em sites de busca; para driblar censura, fãs pesquisam com variações, como "chinese democraxy"

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

"Banda americana lança CD que venenosamente ataca a China." Com essa manchete, o jornal estatal "Global Times", de Pequim, deu o tom da cobertura do novo CD do Guns'n'Roses, "Chinese Democracy".
"O CD faz parte de um complô ocidental que quer controlar o mundo usando a democracia como garantia", critica o jornal do governo.
O regime chinês bloqueou o site da banda e proibiu o CD no país. Menções sobre o disco em fóruns na internet são apagadas, e, nos sites de busca, o nome é bloqueado. Não só o linguajar da mídia chinesa consegue ser mais envelhecido que o hard rock de Axl Rose.
O Guns é um dos raros casos de bandas estrangeiras que tiveram algum sucesso na China. Na geração mais rebelde dos anos 80, que desembocou nos protestos (massacrados) da praça da Paz Celestial, virou trilha de chineses que começavam a ouvir música ocidental.
No país, onde todos os nomes estrangeiros são traduzidos, a banda é conhecida como Qiang Hua (flores de armas) e foi considerada a oitava banda mais popular de todos os tempos em especial da rede estatal CCTV.
Para driblar a censura, fãs procuram informações em sites de busca abusando de erros de ortografia, como "chinese democraxy" ou "chi dem".
O controle da música no país é similar ao do cinema -só 20 filmes estrangeiros podem estrear por ano, desde que não tenham mensagem política, nudez, cenas de sexo, violência e terror.
Música importada tem de obedecer regras, não pode afetar a "moralidade social" ou promover "seitas malignas".
Se as telas só mostram filmes locais ou produções da Disney (a atriz Gong Li já reclamou que a censura infantiliza toda uma geração), na música a censura também tem seu preço -os artistas estrangeiros mais populares na China são Celine Dion, Kenny G e Beyoncé.
Os Rolling Stones fizeram seu primeiro show no país em 2006, só depois de deixar de fora várias músicas vetadas pelo governo, como "Brown Sugar", "Honky Tonk Woman" e "Let's Spend the Night Together". O governo não aprovou as letras.
Mas, como em quase todo o consumo cultural na China, vários fãs já ouvem "Chinese Democracy", baixando em sites ilegais e em cópias piratas.


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