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Ex-hippie, Hyldon lança disco e diz que agora é punk
Da turma de Tim Maia, o autor de "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" lança CD só de inéditas após 19 anos de "jejum"
Antes de "Soul Brasileiro", músico chegou a fazer disco com regravações em 2003, deu aula de música para crianças e criou coral
AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando conheceu Tim Maia,
ele estava com Elis Regina.
Hyldon, hoje com 57 anos, apareceu, queria mostrar algumas
músicas. Mais tarde, num quarto, Tim cantou -e "chegava a
tremer o quarto quando ele
cantava". Depois, estendeu o
violão para Hyldon.
Entre outras, Hyldon cantou
o blues "Gioconda", nome de
um amor antigo, o mesmo que
inspirou seu maior sucesso, a
balada "Na Rua, na Chuva, na
Fazenda".
Tim parecia gostar do que
ouvia e só fez uma observação:
"Pô, meu filho, com esse nome
aí ["Gioconda'] ninguém vai
gravar essa música. Muda pra
Regina, Cristina, sei lá!".
Hyldon não mudou. A música, mais tarde, foi gravada por
Jerry Adriani, na época produzido por Raul Seixas. Mais tarde ainda, ele se "desiludiu" com
o mercado e, de 1989 para cá,
fez só um disco, "Vendedor de
Sonhos", em 2003, com algumas inéditas e regravações. Só
agora, um intervalo de 19 anos
desde o último álbum de novas
composições, volta ao mercado, com "Soul Brasileiro".
Feito em um ano, o disco,
conta ele, começou com três
músicos e terminou com 35
participações, de Carlinhos
Brown e Zeca Baleiro a Chico
Buarque -que não canta, mas
toca kalimba, instrumento de
percussão, na faixa "Medo da
Solidão", que abre o álbum. "Se
ficou um disco romântico, não
era a intenção. As músicas é
que levaram a isso", diz
Hyldon. Se é fruto de desilusão,
"Soul" também é a última reação de Hyldon ao mercado -sai
independente, pelo selo do próprio músico, DPA. "Cara, agora
eu tô punk. Não tem aquela coisa de "faça você mesmo'? Aquela coisa que eles chamam de "do
it yourself", não é mesmo?"
Cabeludo psicodélico
Antes de querer ser punk,
Hyldon foi hippie, "um cabeludão psicodélico", segundo o pai
da namorada Gioconda, que
inspirou suas músicas . Foi seu
apreço "pelas coisas da natureza" e o desejo de levar as filhas,
Haline e Yasmin, então crianças, para o interior, que o fizeram trocar a capital carioca por
Teresópolis, na região serrana
do Rio. A mudança aconteceu
entre 1995 e 1996, "bem quando o Kid Abelha estourou com a
regravação de "Na Rua...'".
"Fui trabalhar com projetos
infantis", conta. "Escrevi para
teatro, fiz produção de show,
direção e músicas para os espetáculos do Seu Boneco, da Escolinha [do Professor Raimundo, humorístico da Globo]."
Criou também um coral infantil, deu aula de música para
crianças e até hoje é professor
voluntário numa comunidade.
Em 2003, "as filhas cresceram, foram ficando adolescentes". "E ainda, apesar de eu estar "internetado", acompanhando tudo o que está acontecendo
e de Teresópolis nem ser muito
longe, eu sentia falta de assistir
a mais shows, de ter mais contato com o pessoal de arte", diz.
Tentou "tomar gosto" outra
vez pelo palco e pelo estúdio.
Mas, mesmo assim, afirma que
"o mercado de discos ficou
muito ruim", entrou "gente de
marketing das gravadoras" e
"começou a se perder o respeito pelo artista, pela música".
"Foi muita desilusão", diz
Hyldon, que começou a tocar
tambor na escola aos três anos,
violão aos sete e, aos 13, já tinha
um conjunto de baile. "A música sempre foi pra mim uma coisa sagrada. E eu não tinha diálogo com os caras de gravadora,
com essa geração que veio dos
anos 80. Foi a época em que começaram as bandas, os teclados, e acabou aquela coisa da
gravação, que era o que eu fazia,
com orquestra, com altos arranjos, de trabalhar o artista a
longo prazo."
Seu amigo Tim Maia, aliás, se
vendeu "um pouco", na opinião
de Hyldon. "Cara, não é porque
o Tim morreu que vai virar santo. Teve uma fase do Tim muito
boa. Mas, nos anos 80, ele começou a gravar balada para sobreviver. Tem muitos artistas
que cederam a esses esquemas
de gravadoras para poder sobreviver", diz, referindo-se a
hits gravados por Tim, como
"Dia de Domingo", da dupla Sullivan e Massadas.
"Não consigo trabalhar fabricando. Por isso, esse distanciamento das gravadoras, de aceitar fazer isso, de o cara dizer:
Tem que fazer outro "Na Rua,
na Chuva, na Fazenda". Pô, eu
não vou conseguir fazer outro
"Na Rua, na Chuva, na Fazenda'! A fazenda existia, existia a
casinha de sapê, existia a pessoa, existia o sentimento", diz.
"Eu não me senti capacitado
pra fazer isso. Sou muito sonhador, sou ainda romântico."
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