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Crítica
Bertolucci converte história em cinema
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A história é um personagem
constante nos filmes de Bernardo Bertolucci: "O Conformista" nos remetia à Itália fascista; "1900" passava em revista certo século 20; "O Último
Imperador" recuperava a história recente da China.
O viés de Bertolucci parece
depender da produção: se tem
meios à disposição, não evita o
painel grandioso. Mas, se não
for o caso, consegue se virar
buscando um viés capaz de interessar o espectador.
Que "Os Sonhadores" (TC
Cult, 22h; não indicado a menores de 16 anos), de 2003, interessa, interessa. Lá estão,
unidos, Paris, 1968 e a cinefilia.
Para quem gosta de cinema, é
difícil pedir mais. Mas havia,
ainda, a revelação de Eva
Green, a estonteante.
No entanto, a história parece
se esvair, esvaziada, ao longo
do filme. Tudo começa na Cinemateca Francesa e segue para a revolta da Cinemateca
(que muitos cinéfilos consideram o início do Maio de 68).
Dos encontros aí acontecidos surge uma história de apartamento, de amores, de experiências, de transgressões, envolvendo os três personagens
do filme -como bons cinéfilos
de 68, alheios ao mundo.
Até que, em determinado
momento, o mundo, o mundo
de Maio de 68, portanto um
mundo cinematográfico, vem
ao seu encontro. Tem-se a impressão de que aí se revela o
sentido dos filmes de um esteta
como Bertolucci. Nele, a história existe para virar cinema.
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