São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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Crítica

Bertolucci converte história em cinema

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A história é um personagem constante nos filmes de Bernardo Bertolucci: "O Conformista" nos remetia à Itália fascista; "1900" passava em revista certo século 20; "O Último Imperador" recuperava a história recente da China.
O viés de Bertolucci parece depender da produção: se tem meios à disposição, não evita o painel grandioso. Mas, se não for o caso, consegue se virar buscando um viés capaz de interessar o espectador.
Que "Os Sonhadores" (TC Cult, 22h; não indicado a menores de 16 anos), de 2003, interessa, interessa. Lá estão, unidos, Paris, 1968 e a cinefilia. Para quem gosta de cinema, é difícil pedir mais. Mas havia, ainda, a revelação de Eva Green, a estonteante.
No entanto, a história parece se esvair, esvaziada, ao longo do filme. Tudo começa na Cinemateca Francesa e segue para a revolta da Cinemateca (que muitos cinéfilos consideram o início do Maio de 68).
Dos encontros aí acontecidos surge uma história de apartamento, de amores, de experiências, de transgressões, envolvendo os três personagens do filme -como bons cinéfilos de 68, alheios ao mundo.
Até que, em determinado momento, o mundo, o mundo de Maio de 68, portanto um mundo cinematográfico, vem ao seu encontro. Tem-se a impressão de que aí se revela o sentido dos filmes de um esteta como Bertolucci. Nele, a história existe para virar cinema.


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