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Crítica/romance
Obra problemática de Erico Verissimo volta às livrarias
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Saga", publicado em
1940, encerra uma
fase na produção literária de Erico Verissimo, o ciclo de Porto Alegre, que tem como obra mais conhecida "Olhai
os Lírios do Campo", de 1938
(reeditado pela Companhia das
Letras). O romance narra, na
primeira parte, a participação
de Vasco Bruno como combatente em defesa do governo republicano durante a Guerra Civil Espanhola e, em seguida, o
seu retorno, derrotado, para a
capital do Rio Grande do Sul e a
sua união com Clarissa.
O escritor (1905-1975), que já
foi um dos autores mais populares do país, não gostava de
"Saga", considerando-o seu
"pior romance", como lembra
Flávio Aguiar no prefácio do
volume agora reeditado. E, de
fato, trata-se de uma obra problemática, com inúmeras passagens e personagens desnecessários, que parecem surgir
ali por conta de uma vontade já
muito acentuada de assimilar
os acontecimentos históricos
da maneira mais abrangente
possível ao universo ficcional.
Em um curta-metragem recentemente relançado (no
DVD "Encontro Marcado com
o Cinema de Fernando Sabino
e Davi Neves"), Verissimo diz
que a sua intenção máxima como criador era elaborar um
vasto panorama literário com a
história do Rio Grande do Sul e
que a primeira parte de sua
produção (na qual se inclui "Saga") deveria ser vista mais como um exercício preparatório
para o que viria depois (principalmente a trilogia "O Tempo e
o Vento").
E, de fato, essa era a preocupação maior de Erico Verissimo (vale a pena ler seus comentários, sempre nesse sentido, a
respeito do que seria o romance mais representativo do Brasil em suas palestras depois
reunidas no livro "Breve História da Literatura Brasileira",
publicado pela editora Globo).
Paradoxalmente, talvez seja
esse "desejo de história" tão
acentuado que, hoje em dia,
torne menos interessantes os
livros de Verissimo. Na primeira parte de "Saga", por exemplo, chama muito mais a atenção a força expressiva da situação de um homem (qualquer
homem) diante de um conflito
absurdo (como é por definição
qualquer guerra, ainda que
seus motivos sejam concretamente legítimos) tão bem retratada pelo autor do que o sucessivo surgimento no texto
dos estrangeiros que vinham
participar dos combates e das
impressões que causavam no
narrador.
Estão no livro de Verissimo
misturadas as duas coisas: há
páginas de profundo impacto
sobre a vida sem sentido em um
campo de batalha, há outras,
nas quais se busca acumular
"casos" e abranger do modo
mais amplo possível o momento, bastante descartáveis.
Entretanto, como diz Vasco
Bruno para justificar sua escolha dos fatos que resolveu contar em sua "reeducação sentimental", "este pode ser um modo parcial de ver as coisas, mas
é o "meu" modo e, seja como for,
este é o "meu" livro". Tamanha
convicção precisa, no mínimo,
ser respeitada.
(ADRIANO SCHWARTZ)
SAGA
Autor: Erico Verissimo
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 46 (344 págs.)
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