São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2004

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África sem máscaras

CCBB abre as portas hoje para "Arte da África", com 150 peças do Museu Etnológico de Berlim

LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"É daqui que vocês vieram." O curador alemão Peter Junge, durante a montagem da exposição "Arte da África", no CCBB do Rio de Janeiro, diz ter sido surpreendido por uma mulher que, segundo ele, "nunca havia entrado num museu". Momentos depois, ela voltou com sua família de 11 pessoas para mostrar o que viu.
Após passar pelo Rio, a mostra "Arte da África" reinaugura hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, com 150 peças vindas do Museu Etnológico de Berlim, considerado um dos mais importantes do gênero no mundo, com acervo de 75 mil peças.
A iniciativa da exposição é do Instituto Goethe do Rio de Janeiro, em parceria com os Museus Estatais de Berlim e com o Centro Cultural Banco do Brasil. No Rio, a exposição recebeu 750 mil pessoas e, agora, foi dividida em duas partes: metade está em São Paulo e, a outra, em Brasília.
Para a mostra foi feito um catálogo com edição bilíngüe de 350 páginas que traz, além da reprodução das peças da mostra, textos como o de Peter Junge, curador-chefe do departamento da África do museu berlinense, e do nigeriano Wole Soyinka, ganhador do Nobel de literatura de 1986, entre outros prêmios.
Ao conceber a exposição, Peter Junge, cuja formação é de antropólogo, não trai sua sensibilidade de historiador da arte, e prefere escapar do estereótipo classificatório de antropologia: "Quando eu organizo uma mostra, sinceramente, tento esquecer que sou um antropólogo", diz Junge, que se diz preocupado em escapar da tendência geral de separar arte de uma maneira etnográfica.
"A maioria dos museus etnológicos da Europa, em exposições sobre a África, nos últimos dez anos, têm feito o percurso Sudão ocidental, a costa da Índia, Congo, Camarões. De cada cultura, escolhem um objeto e os colocam um ao lado do outro, o que é péssimo. Você deve buscar o contexto da arte", diz Junge.
O principal enfoque dado pelo curador, através da divisão das peças em três módulos temáticos, está na África subsaariana. O acervo reúne tesouros absolutos do século 15 ao 20, de diversas culturas, com ênfase na República dos Camarões e suas máscaras, em estátuas do Congo e diversos objetos de Angola e da Nigéria.
Há esculturas de madeira e bronze, instrumentos musicais, adereços da realeza, bonecas de fecundidade, tronos e objetos de design feitos, em sua maioria, por artistas desconhecidos.
O objetivo de Junge e Marcello Dantas, designer responsável pela concepção de montagem, foi ressaltar o caráter de cada uma das peças, mesmo sendo de proveniência anônima. "Fazer o espaço "desaparecer" para realçar cada detalhe é um trabalho de luz, ao mesmo tempo difusa e pontual. São obras-primas que merecem muita atenção", observa Dantas.
O designer carioca deve viajar ainda neste ano para montar a exposição em Bonn (Alemanha) e, em 2005, em Berlim. Bem-humorado, observa: "O Brasil importa arte africana da Alemanha e, a Alemanha, tecnologia no Brasil".
Durante a exposição, há visitas monitoradas programadas e atividades educativas sobre o tema, como oficinas e debates. Está prevista uma mostra de cinema e uma série de música africana.


ARTE DA ÁFRICA. Quando: inauguração hoje, a partir das 11h. De ter. a dom., das 10h às 21h. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, SP, tel. 0/xx/11/ 3113-3651). Período da exposição: de 31/1 a 28/3. Quanto: entrada franca.


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