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África sem máscaras
CCBB abre as portas hoje para "Arte da África", com 150 peças do Museu Etnológico de Berlim
LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"É daqui que vocês vieram." O
curador alemão Peter Junge, durante a montagem da exposição
"Arte da África", no CCBB do Rio
de Janeiro, diz ter sido surpreendido por uma mulher que, segundo ele, "nunca havia entrado num
museu". Momentos depois, ela
voltou com sua família de 11 pessoas para mostrar o que viu.
Após passar pelo Rio, a mostra
"Arte da África" reinaugura hoje,
no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, com 150 peças
vindas do Museu Etnológico de
Berlim, considerado um dos mais
importantes do gênero no mundo, com acervo de 75 mil peças.
A iniciativa da exposição é do
Instituto Goethe do Rio de Janeiro, em parceria com os Museus
Estatais de Berlim e com o Centro
Cultural Banco do Brasil. No Rio,
a exposição recebeu 750 mil pessoas e, agora, foi dividida em duas
partes: metade está em São Paulo
e, a outra, em Brasília.
Para a mostra foi feito um catálogo com edição bilíngüe de 350
páginas que traz, além da reprodução das peças da mostra, textos
como o de Peter Junge, curador-chefe do departamento da África
do museu berlinense, e do nigeriano Wole Soyinka, ganhador do
Nobel de literatura de 1986, entre
outros prêmios.
Ao conceber a exposição, Peter
Junge, cuja formação é de antropólogo, não trai sua sensibilidade
de historiador da arte, e prefere
escapar do estereótipo classificatório de antropologia: "Quando
eu organizo uma mostra, sinceramente, tento esquecer que sou um
antropólogo", diz Junge, que se
diz preocupado em escapar da
tendência geral de separar arte de
uma maneira etnográfica.
"A maioria dos museus etnológicos da Europa, em exposições
sobre a África, nos últimos dez
anos, têm feito o percurso Sudão
ocidental, a costa da Índia, Congo,
Camarões. De cada cultura, escolhem um objeto e os colocam um
ao lado do outro, o que é péssimo.
Você deve buscar o contexto da
arte", diz Junge.
O principal enfoque dado pelo
curador, através da divisão das
peças em três módulos temáticos,
está na África subsaariana. O
acervo reúne tesouros absolutos
do século 15 ao 20, de diversas culturas, com ênfase na República
dos Camarões e suas máscaras,
em estátuas do Congo e diversos
objetos de Angola e da Nigéria.
Há esculturas de madeira e
bronze, instrumentos musicais,
adereços da realeza, bonecas de
fecundidade, tronos e objetos de
design feitos, em sua maioria, por
artistas desconhecidos.
O objetivo de Junge e Marcello
Dantas, designer responsável pela
concepção de montagem, foi ressaltar o caráter de cada uma das
peças, mesmo sendo de proveniência anônima. "Fazer o espaço
"desaparecer" para realçar cada
detalhe é um trabalho de luz, ao
mesmo tempo difusa e pontual.
São obras-primas que merecem
muita atenção", observa Dantas.
O designer carioca deve viajar
ainda neste ano para montar a exposição em Bonn (Alemanha) e,
em 2005, em Berlim. Bem-humorado, observa: "O Brasil importa
arte africana da Alemanha e, a
Alemanha, tecnologia no Brasil".
Durante a exposição, há visitas
monitoradas programadas e atividades educativas sobre o tema,
como oficinas e debates. Está prevista uma mostra de cinema e
uma série de música africana.
ARTE DA ÁFRICA. Quando: inauguração
hoje, a partir das 11h. De ter. a dom., das
10h às 21h. Onde: Centro Cultural Banco
do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, SP,
tel. 0/xx/11/ 3113-3651). Período da
exposição: de 31/1 a 28/3. Quanto:
entrada franca.
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