São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Novela é uma coisa que é para vender mesmo"

Autores defendem a inserção de ações publicitárias para aumentar salários e permitir mais extravagâncias em cena

Lauro César Muniz gravou novela inteira bancada pela Petrobras e Benedito Ruy Barbosa vendeu até vacina contra aftosa em "Pantanal"

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem assiste em casa pode não gostar, mas nem os autores das novelas reclamam das inserções publicitárias em suas tramas. Longe de qualquer purismo, roteiristas do primeiro escalão no país defendem o merchandising -que engorda salários e financia uma série de extravagâncias em cena.
Em "Terra Nostra", de 1999, Benedito Ruy Barbosa conseguiu um transatlântico navegando em alto mar com 400 figurantes a bordo. Sílvio de Abreu fez explodir um shopping. Lauro César Muniz se orgulha até hoje de ter feito a única novela da dramaturgia brasileira inteira fora de estúdios.
"Vamos ser francos, a gente faz uma coisa que se chama "soap opera", é para vender mesmo", diz Duca Rachid, coautora de "Cama de Gato", atual novela das seis da Globo. "Não pode ser grosseiro, mas é um produto, é interessante que dê lucro para todo mundo."
Tão interessante que ela conseguiu encaixar ações publicitárias mesmo em novelas de época. No remake de "O Profeta", de 2006, novela de Ivani Ribeiro que reescreveu, transpondo a ação para os anos 50, Rachid encaixou anúncios disfarçados do sabão em pó Omo.
"Um dos personagens tinha um programa de TV, e o Omo era patrocinador desse programa", lembra a autora. "A gente colocou num dos capítulos um comercial de época da marca."

"Soap opera"
Não por acaso, o termo inglês "soap opera", usado para designar telenovelas, vem do fato de os primeiros folhetins serem patrocinados quase na íntegra por produtos domésticos.
Longe da esfera do lar, Benedito Ruy Barbosa vendeu carros em "Renascer", de 1993, e até vacina para febre aftosa, tratores e agrotóxicos em seu épico "Pantanal", há 20 anos.
"Aquilo causou um frisson danado", lembra Barbosa. "Na novela, o personagem comprava um aparelho de TV e precisava de uma parabólica. Foi um caso fantástico, porque mostramos a instalação da antena."
Tinha jabá até no barco que subia e descia o rio em que Juma e Juventino tomavam banho pelados. "Teve muita propaganda naquela chalana, que trazia mercadorias para o povo ribeirinho", conta Barbosa. "Isso não agride, não acho bom quando o merchandising entra muito forte, violentando toda a história, o autor, o elenco."

"Augusto Merchan"
Lauro César Muniz fez uma novela inteira, "Rosa Baiana", de 1981, bancada pela Petrobras. "Foi uma experiência fantástica e épica", lembra. "Visitei áreas de exploração na Amazônia e passei dias hospedado numa plataforma marítima."
Na Record, Muniz voltou à carga criando um personagem só para ações do tipo em "Cidadão Brasileiro", de 2006. Na trama, um ator sozinho protagonizou 21 ações integradas de marketing em prol da Fundação Bradesco. "Eles me chamavam de "Merchan'", lembra Juliano Righetto, que encarnou o homem da propaganda. "O nome do personagem era Augusto Varela, mas virou Augusto "Merchan"."
(LAURA MATTOS, RODRIGO RUSSO e SILAS MARTÍ)


Texto Anterior: Documentário mostra músico na intimidade
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.