São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 2010

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Documentário mostra músico na intimidade

DA REPORTAGEM LOCAL

Só mesmo a intimidade pessoal conquistada por Claudia Faissol -e seu entendimento profundo da personalidade do pai de sua filha- poderiam ter tornado possível a captação das cenas vistas no documentário, ainda sem título definido e sem previsão de estreia, que ela prepara sobre João Gilberto.
O cantor, sabidamente arredio a qualquer tipo de registro extramusical, fala olhando para a câmera. Se esgueira às vezes, é verdade, mas deixa registrar seus comentários sobre os assuntos mais diversos.
As desavenças com a EMI, os cantores que admira (Orlando Silva, Lucio Alves e Dick Farney), as memórias do período em que passou em Diamantina, nos anos 50, desenvolvendo a batida de violão que o tornou o criador da bossa nova.
Há muito humor. João não quer falar e faz brincadeiras para a câmera. Responde algumas perguntas sem dizer coisa nenhuma, apenas enrolando as sílabas sem formar palavras.
Em outras vezes, diz apenas que não sabe o que responder -mas faz isso cantando sobre melodia improvisada, sorrindo e dedilhando o violão.
Há cenas de João assistindo a TV, tomando café, recebendo os (poucos) amigos em casa.
Claudia acompanha as turnês desde 1999 -dentro e fora do Brasil. Conseguiu convencer João a se deixar filmar pela primeira vez durante um show no Uruguai, em 1999. De lá até aqui, contabiliza cerca de 20 concertos registrados -muitos bancados por ela mesma, usando "um dinheiro que meu avô me deixou". "João não gosta que eu peça ajuda", conta.
Também seguiu com o cantor para Salvador e o filmou amanhecendo diante do mar, tocando violão. Na Bahia, registrou o reencontro de João com a babá, o irmão, a irmã.
"As pessoas chegam perto dele e nem falam. Veem ele e choram", ela conta. "Meu testemunho é muito valioso porque é filmado e vai virar o testemunho de todo mundo."
Para além do campo pessoal, o documentário é rico por trazer João interpretando canções que nunca gravou em disco. Registra os "estudos" do artista do repertório que entraria em disco recente -projeto que, segundo ela, foi abortado.
Estão registradas interpretações para sambas da antiga como "Coqueiro Velho" (Fernando Martinez Filho/José Marcilio), "Louco" (Wilson Batista) e "Deus Salve a América" (Irving Berlin/versão: Braguinha).
As imagens podem não ter lá grande qualidade técnica. Mas o valor do que documentam, esse é incomensurável.
(MP)


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