São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

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Agonia do balé

Historiadora e ex-bailarina, Jennifer Homans provoca debate nos EUA ao decretar a morte da dança clássica no livro "Apollo's Angels"

AMANDA QUEIRÓS
DE SÃO PAULO

Lançado no fim do ano passado nos Estados Unidos, o livro "Apollo's Angels" (anjos de Apolo) poderia ser apenas mais um entre tantos a contar a história da dança através dos séculos.
Uma afirmação, no entanto, fez com que a obra ganhasse uma projeção inimaginada por sua autora, a ex-bailarina e historiadora Jennifer Homans -mulher do também historiador Tony Judt (1948-2010).
"O balé está morrendo", escreveu ela no epílogo do calhamaço de mais de 600 páginas.
Críticos de dança logo reagiram, acusando-a de ignorar coreógrafos contemporâneos. Em fóruns de discussão na internet, fãs do balé pediam para que os leitores não acreditassem no que Homans havia publicado.
A repercussão ajudou a projetar o livro e culminou na escalação dele como uma das dez melhores obras de não ficção de 2010, segundo o "New York Times".
À Folha a autora afirmou que sua intenção era apenas incitar um debate até então inexistente, mas necessário: afinal, qual é a relevância do balé nos dias de hoje?

 


Folha - Diante da ascensão de novos coreógrafos, como o russo Alexei Ratmansky, o que a levou à conclusão de que o balé está morrendo?
Jennifer Homans -
Não senti que o livro fosse o lugar para discutir o trabalho desse ou daquele coreógrafo. O balé anda muito conservador, desinteressante. Claro que há gente produzindo, como Ratmansky, o [inglês] Christopher Wheeldon. Eles são talentosos, mas ainda não criaram nada no nível de George Balanchine, Jerome Robbins e Antony Tudor.

O bailarino perdeu espaço para o coreógrafo?
Os bailarinos de hoje são muito bons tecnicamente, mas não têm o tipo de confiança que a geração de Baryshnikov tinha. Será que é porque houve uma revolução na mídia visual e os bailarinos têm um modo distinto de entender o movimento e sua dimensionalidade? O balé está mudo. Pode ser espetacular, mas não há mais personalidade.

Hoje há uma obsessão pela remontagem fiel de balés do século 19. Por que isso ocorre?
Temos uma preocupação enorme com o que seria o "verdadeiro balé". O fato de não termos mais grandes coreógrafos nutre a preocupação em manter o passado. Estão todos obcecados com a autenticidade, em como o passo deve ser feito. A questão é que, na tradição, o passo mudava o tempo inteiro, havia mais fluidez. É preciso entender que a tradição requer um certo desapego.

Atualmente há muitas exibições de balé ao vivo no cinema. O que isso implica?
Muda como as pessoas preservam a dança. No entanto, vale lembrar que esses documentos não são perfeitos, são mais como uma forma unificadora que não substitui o teatro ao vivo. É mais fácil criar novas formas de se ver balé do que criar novos balés. Esse é o problema.


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