São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

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Brasil não leva Oscar se "Lixo" ganhar

Estatueta de "Lixo Extraordinário", que usou dinheiro público nacional, ficará longe do país caso o filme vença

Para produtor britânico, que pode levar o prêmio para a casa, filme sobre trabalho de Vik Muniz é "brasileiríssimo"

Fred Hayes - 30.jan.2010/Getty Images
O produtor Angus Aynsley e a diretora Lucy Walker recebem prêmio em Sundance, em 2010

FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES

Metade do filme foi feito com dinheiro público brasileiro, rodado em solo brasileiro, com equipe brasileira e sobre um artista brasileiro. Ainda assim, se "Lixo Extraordinário" ganhar o Oscar de melhor documentário no próximo dia 27, a estatueta deve ir para longe do Brasil.
Na sexta, a Academia de Cinema dos EUA incluiu o nome da empresa de Fernando Meirelles, a O2 Filmes, nos créditos do longa no site do Oscar, ao lado da produtora britânica Almega Projects.
Porém os nomes dos indicados continuam iguais: dois britânicos, a diretora Lucy Walker e o produtor Angus Aynsley, idealizador do projeto e colecionador de arte.
"Lixo Extraordinário" segue o trabalho de Vik Muniz no maior aterro sanitário da América Latina, no Rio.
Meirelles e Andrea Barata Ribeiro, da O2, ficaram "surpresos" pela ausência da produtora nos créditos, mas não ficou claro se eles se manifestavam também por um lugar nas indicações.
"Conversei com Angus Aynsley nesta manhã [quinta], ele confirmou a O2 como coprodutora. Faremos as mudanças em nossos arquivos", disse a coordenadora de prêmios da Academia, Torene Svitil, explicando que só duas pessoas, produtor e/ou diretor, podem ser indicadas. "Os únicos indicados são os dois listados no site."
Aynsley e Ribeiro afirmam que o erro foi da distribuidora americana, Arthouse Films, que, por sua vez, apenas comentou: "Todo mundo assinou os formulários", disse uma assessora.
O próprio Aynsley afirma que o filme é "brasileiríssimo". "Muito engraçado acharem que é britânico. Os britânicos acham que o filme é brasileiro", diz, por e-mail. "Somos todos refugiados do mundo maravilhoso do cinema internacional."
A direção também foi bem dividida. De acordo com os produtores locais, Walker filmou apenas uma pequena parte em Nova York e a primeira ida de Muniz ao aterro.
Ela abandonou o projeto para se dedicar ao documentário "Countdown to Zero", sobre armas nucleares, e voltou ao final para montar.
O diretor brasileiro João Jardim fez seis meses de filmagens, achou personagens e gravou em Londres. Há também uma terceira diretora, Karen Harley. Os dois são codiretores do filme.
"Apesar de termos produzido o filme, nunca a encontrei [Walker] nem falei com ela", disse Meirelles.
"A codireção foi contratual e estava já prevista. Não houve má fé de nenhum dos lados", explicou Ribeiro.
A reportagem trocou mais de dez e-mails com o assessor de Walker, mas a diretora se recusou a dar entrevista.
Aynsley conheceu Muniz em 2003, quando o artista fez retratos de chocolate de seus filhos. O britânico fez um curta sobre o artista em 2006. Depois, chamou Walker para filmar um longa, em 2007.
A parceria com a O2 veio no mesmo ano, em maio, quando Aynsley conheceu Ribeiro em Cannes.


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