São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2000 |
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TEATRO Christiane Torloni e José Possi Neto reeditam parceria de "Salomé" em peça que estréia na Faap "Joana Dark" depõe sob olhar feminino
CRISTIANO CIPRIANO POMBO das Regionais O espetáculo "Joana Dark - A Re-Volta", que estréia hoje no teatro Faap, evidenciando a quarta parceria do diretor José Possi Neto com a atriz Christiane Torloni, coloca em cena a mártir francesa a partir de um ponto de vista que chama bastante a atenção: o olhar de uma mulher. Extraída do texto "The Second Coming of Joan of Arc", da norte-americana Carolyn Cage, a peça apresenta uma Joana d'Arc revoltada, disposta a quebrar a aura de santa e a promover um verdadeiro ajuste de contas com a sociedade, fazendo uma analogia entre a Idade Média e os dias de hoje. "Já dirigi a história de Joana d'Arc há 15 anos, quando montei "Santa Joana". Contudo me surpreendeu a forma como a Carolyn trata o feminismo, sem gratuidades, ontem e hoje, propondo uma discussão e a libertação das mulheres", diz José Possi Neto. Tomada de um espírito sarcástico e de frases fortes, como uma que diz que "entrar na puberdade significa que você passou a viver num corpo que se transformou em propriedade pública", ao mesmo tempo em que repassa seus momentos no cárcere, Joana d'Arc vai comparando seus atos com a conduta das mulheres de hoje. Só lembrando que, até os 19 anos, ela se recusou a casar a pedido do pai, comandou o Exército da França, participou de batalhas e ainda enfrentou a Inquisição. Sem remontar a cronologia da personagem, que será retratada no programa da peça e em um livro a ser lançado em maio, o espetáculo é aberto com um funeral de Joana d'Arc, perpassando por sua traição e prisão e expondo suas crenças (ela ouvia vozes de santos), reflexões e sofrimentos. Com frases extraídas dos registros originais de seus processos de julgamento, Joana d'Arc faz um desabafo, trata do homossexualismo, dos perigos do poder e do preconceito, tentando quebrar sua aura mítica ao repudiar o fato de ter se tornado uma santa pelos mesmos que a queimaram. "Ela expõe tudo o que se perdeu em 500 anos de tradução. Mostra que muitas regras e instituições não mudaram e que as mulheres ainda estão conquistando seus direitos", diz Christiane Torloni. Fugindo ao formato de monólogo, aproximando-se mais de um depoimento, "Joana Dark" destaca os aspectos físico, cenográfico e coreográfico característicos das montagens de José Possi Neto, que leva ao palco cinco atores bailarinos. Eles interpretam os soldados de Joana d'Arc, os inimigos ingleses e os inquisidores. Com trilha gregoriana, que compreende ainda Nina Hagen, motos e um cenário que traz miniaturas das vilas francesas, a ação se desenrola dentro de uma gaiola que assume papel de prisão, ponte e capela, evidenciando o teatro físico e o preparo da atriz. Peça: Joana Dark - A Re-Volta Onde: teatro Faap (r. Alagoas, 903, Higienópolis, tel. 0/xx/11/3662-1992) Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 25 de junho Quanto: R$ 20 (sex.), R$ 25 (dom.) e R$ 30 (sáb.) Patrocínio: Volkswagen, Rio-Sul e Faap Texto Anterior: Televisão: "Sai de Baixo" e "Ô Coitado!" passam por reformulações Próximo Texto: "Crimes" traz autor redivivo Índice |
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