São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2000


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CRÍTICA - "REPLAY"
Atores fazem a farra

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

"Replay" pode ser vista como uma encenação característica de Gabriel Villela: estão lá referências visuais, como as máscaras da "commedia dell'arte" e outras tão conhecidas de espetáculos do diretor. Está lá sua obsessão com uma atuação próxima do circo-teatro, em simplicidade e afetada ingenuidade.
"Replay" também é, obviamente, a peça do jovem dramaturgo Max Miller. Uma peça com alguma bossa na sua construção em quadros, em fragmentos, mas expressando em sua linguagem e nas situações ainda uma certa revolta juvenil.
"Replay" também pode ser vista como a peça de lançamento de um sistema de som e imagem para teatro, que os produtores trouxeram da Broadway para o Bexiga e que é, de fato, para além do óbvio interesse comercial, curioso -como o espetáculo destaca excessivamente.
Mas "Replay", mais do que isso tudo, é um espetáculo de alguns atores que, já antes, no musical "Camila Baker", apresentavam o que define esta "Replay": diversão. Eles parecem se divertir em cena eles próprios -e sobretudo divertem quem os vê.
Como em "Camila Baker", uma comédia musical de "suspense" sobre uma atriz que remete vagamente à diva Cacilda Becker, importa menos a dramaturgia ou a encenação do que a festa de tiradas, bordões, sotaques e tudo mais que faz a tradição besteirol no teatro brasileiro.
Na estréia no sábado passado, no imenso e distante palco do teatro Guaíra, "Replay" provocou muito riso, mas foi um evidente choque para o público do Festival de Teatro de Curitiba.
Quem esperava outra aventura estetizante do diretor viu uma brincadeira, uma farra "camp" de Cláudio Fontana, Raul Gazolla, Vera Zimmerman e Mateus Carrieri -entre outros que já formam, a esta altura, uma companhia. Zombavam de episódios do festival, ironizavam até mesmo o cenário de Villela.
Não se pode dizer, pelo contrário, que o espetáculo vai fundo nos temas que o texto se propõe, da paixão e da existência. Mas é um peça que pouco deve a "O Mistério de Irma Vap" ou "A Bofetada", em entretenimento "drag". Tem cenas, como a de uma amaneirada "mesa-redonda", que já na estréia improvisada apontavam para mais um quadro "standard" de besteirol.
Carregando na caracterização grotesca, o elenco está uniformemente bem, com algum destaque para Fontana, que se descobriu como ator de comédia, e para a beleza também de comédia de Vera Zimmerman, à vontade no gênero. Até Gazolla e Carrieri se revelam mais do que montes de músculos, na peça.
Sem uma banda e com canções pontuais, ainda assim "Replay" pode ser descrito como musical. Um besteirol musical para quem não quer nada além da diversão, do entretenimento.


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