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ANÁLISE
Imagens predominam sobre o texto
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
BETO LANZA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O 12º Festival de Teatro de Curitiba não foi marcado nem por
uma grande criação na Mostra
Contemporânea, nem por uma
grande revelação no Fringe. Tanto grupos consagrados (Parlapatões, de São Paulo, Armazém, do
Rio de Janeiro), como grupos que
se destacaram em anos anteriores
no Fringe e agora surgem "oficializados", como a Cia. Senhas de
Curitiba, trouxeram resultados
representativos de sua linha de
pesquisa, mas não surpreenderam na dimensão que prometia o
marketing do festival.
Talvez a maior façanha da Mostra Contemporânea tenha sido o
espetáculo "Os Sete Afluentes do
Rio Ota" ter mantido um público
absorto e emocionado ao longo
das cinco horas de apresentação.
Porém isto é mais devido a uma
produção cuidada e atuações memoráveis do que a uma inovação
de linguagem, já que a montagem
se apóia em uma criação de Robert Lepage de dez anos atrás.
Foram destaques no Fringe
montagens que apresentaram
uma linha clara de pesquisa.
"Volta ao Dia...", de Márcio
Abreu, subverte a lógica do cotidiano com um delicado poema
cênico, permeado de pequenas
humanidades e brilhantemente
interpretado.
"Presépio de Hilariedades Humanas", do Brasil no Palco, de
Brasília, parte da peça "A Pena e a
Lei" de Ariano Suassuna para
contagiar a platéia com a energia
intensa do teatro popular.
"Vereda da Salvação" retoma o
difícil texto de Jorge Andrade para uma releitura sensível e bem
embasada, apesar da juventude
do elenco.
"Vermelho Sangue Amarelo
Surdo", do grupo Delírio, de Curitiba, expõe com uma plasticidade comovente as convicções artísticas de Van Gogh.
"F.", do grupo Persona de Florianópolis, apesar de uma interpretação irregular e de um roteiro
limitado, usa com segurança a linguagem expressionista para sugerir o sufocante universo de Franz
Kafka.
Tendências
Seja em grandes montagens ou
em montagens mais despojadas
houve um predomínio da imagem sobre o texto. Textos novos,
como "Afeto" de Mônica Prinzac,
da nova dramaturgia carioca, assim como a sensível "Mire e Veja"
da Cia. do Feijão de São Paulo, se
limitaram a ser fragmentos direcionados para a encenação, quando não inteiramente frutos de
"dramaturgia participativa", como o importante "O Homem que
não dava Seta" de Luís Alberto de
Abreu e Chico Pelúcio, de declarada influência cinematográfica.
O futuro do Festival estaria no
Fringe? Talvez. Mas, para que isso
ocorra, seria necessário pensar
um critério de seleção.
A inscrição livre, se por um lado
democratiza o acesso e dá visibilidade a pequenas companhias, por
outro acaba promovendo uma
tendência à autopromoção a todo
custo, não raro pelo bizarro.
Difícil distinguir um norte em
meio a essa luta pelo lugar ao sol.
Tendências podem ser criadas
por pesquisas isoladas, mas seria
indispensável haver um maior espaço para encontros e debates entre grupos.
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