São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2004

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DEBATE

Diversidade e direitos culturais são temas de conferências preparatórias, a partir de hoje em São Paulo, para fórum espanhol

América Latina afina idéias para Barcelona

DENISE MOTA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Véus vetados para estudantes muçulmanas na França, inclusão da cultura como instrumento de integração em projetos de avanço social e econômico, preservação de tradições e costumes locais, avanço na rapidez da troca de informações pelo mundo.
Esses são alguns dos ingredientes que compõem o amplo cardápio de debates da terceira edição do Fórum Internacional Arte sem Fronteiras: Cultura e Políticas Públicas para o Desenvolvimento, que tem no tema "Diversidade e Direitos Culturais" o foco das discussões, a partir de hoje em SP.
"Apesar do fato de que todos os direitos humanos são, supostamente, indivisíveis e interdependentes, os da cultura têm recebido menos atenção do que os direitos civis ou políticos", afirma Annamari Laaksonen, que apresenta no fórum paulistano sua visão sobre os direitos culturais como "o lado subdesenvolvido dos direitos humanos".
"Em muitas partes do mundo, indivíduos e comunidades ainda não têm condições de participar da vida cultural de um país devido à discriminação, uma das maiores ameaças aos direitos humanos e culturais. Ou seja que toda vez que há violações a eles, em diferentes partes do mundo, há um impacto para a cultura", diz.
A série de debates é um ciclo de discussões preparatórias para o Fórum Universal das Culturas, que acontece em Barcelona, entre maio e setembro deste ano. Laaksonen é representante da fundação espanhola Interarts, que co-organiza esse fórum de São Paulo com a Associação Internacional Arte sem Fronteiras.
"Qualquer tipo de homogeneização, seja como resultado da tão falada globalização ou por outras razões, é uma ameaça aos direitos culturais. Vivemos uma época de transformação e de interação que afeta nosso modo de entender o que se chama de identidade cultural. Mas há partes do mundo que correm perigo de se tornar guetos culturais. Aí há o risco da alienação e da exclusão. É importante dar opções para as pessoas, apoiar processos culturais mais frágeis."

Perspectivas latinas
Em território brasileiro, as discussões, encabeçadas por representantes de sete países do globo, ganham contornos latino-americanos, com a participação de conferencistas como o ex-ministro da Cultura da Colômbia Juan Luis Mejia Arango, de Ticio Escobar, co-diretor do Centro de Artes Visuais do Museu del Barro, no Paraguai, de Jurema Machado, coordenadora de cultura da Unesco no Brasil, e de Gonzalo Carámbula, secretário de Cultura de Montevidéu, entre outros.
"Deve-se situar e assumir o conceito de diversidade cultural a partir de perspectivas próprias. É diferente olhar uma sociedade que recebe massivos atentados -ou o bombardeio de Exércitos estrangeiros-, ou outra que deve resolver problemas étnicos ou que recebe milhares de imigrantes", diz o secretário.
A ambição de integração sul-americana esboçada pelo Mercosul não passa despercebida dessa perspectiva. "Um processo de integração real deveria buscar equilíbrios e promover o apreço mútuo da diversidade cultural, nosso principal patrimônio. Lamentavelmente, tanto em projetos conservadores como nos mais renovadores, ainda não conseguimos que as políticas culturais ocupem lugar central na agenda pública", diz Carámbula, que -lá como cá- é representante de uma gestão de esquerda na prefeitura.
"Se aprendermos a aceitar que nem todas as influências culturais externas são ruins e que as identidades culturais são excludentes e includentes, podemos começar a respeitar outras culturas e aprender com elas", pondera Laaksonen. "Há urgência em proteger os direitos humanos, incluindo os direitos culturais, e em promover o respeito e a tolerância para a construção da coexistência e da paz, especialmente no mundo pós-11 de Setembro. Quem é o dono da verdade?"


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