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DEBATE
Diversidade e direitos culturais são temas de conferências preparatórias, a partir de hoje em São Paulo, para fórum espanhol
América Latina afina idéias para Barcelona
DENISE MOTA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Véus vetados para estudantes
muçulmanas na França, inclusão
da cultura como instrumento de
integração em projetos de avanço
social e econômico, preservação
de tradições e costumes locais,
avanço na rapidez da troca de informações pelo mundo.
Esses são alguns dos ingredientes que compõem o amplo cardápio de debates da terceira edição
do Fórum Internacional Arte sem
Fronteiras: Cultura e Políticas Públicas para o Desenvolvimento,
que tem no tema "Diversidade e
Direitos Culturais" o foco das discussões, a partir de hoje em SP.
"Apesar do fato de que todos os
direitos humanos são, supostamente, indivisíveis e interdependentes, os da cultura têm recebido
menos atenção do que os direitos
civis ou políticos", afirma Annamari Laaksonen, que apresenta
no fórum paulistano sua visão sobre os direitos culturais como "o
lado subdesenvolvido dos direitos
humanos".
"Em muitas partes do mundo,
indivíduos e comunidades ainda
não têm condições de participar
da vida cultural de um país devido
à discriminação, uma das maiores
ameaças aos direitos humanos e
culturais. Ou seja que toda vez
que há violações a eles, em diferentes partes do mundo, há um
impacto para a cultura", diz.
A série de debates é um ciclo de
discussões preparatórias para o
Fórum Universal das Culturas,
que acontece em Barcelona, entre
maio e setembro deste ano. Laaksonen é representante da fundação espanhola Interarts, que co-organiza esse fórum de São Paulo
com a Associação Internacional
Arte sem Fronteiras.
"Qualquer tipo de homogeneização, seja como resultado da tão
falada globalização ou por outras
razões, é uma ameaça aos direitos
culturais. Vivemos uma época de
transformação e de interação que
afeta nosso modo de entender o
que se chama de identidade cultural. Mas há partes do mundo que
correm perigo de se tornar guetos
culturais. Aí há o risco da alienação e da exclusão. É importante
dar opções para as pessoas, apoiar
processos culturais mais frágeis."
Perspectivas latinas
Em território brasileiro, as discussões, encabeçadas por representantes de sete países do globo,
ganham contornos latino-americanos, com a participação de conferencistas como o ex-ministro da
Cultura da Colômbia Juan Luis
Mejia Arango, de Ticio Escobar,
co-diretor do Centro de Artes Visuais do Museu del Barro, no Paraguai, de Jurema Machado,
coordenadora de cultura da
Unesco no Brasil, e de Gonzalo
Carámbula, secretário de Cultura
de Montevidéu, entre outros.
"Deve-se situar e assumir o conceito de diversidade cultural a
partir de perspectivas próprias. É
diferente olhar uma sociedade
que recebe massivos atentados
-ou o bombardeio de Exércitos
estrangeiros-, ou outra que deve
resolver problemas étnicos ou
que recebe milhares de imigrantes", diz o secretário.
A ambição de integração sul-americana esboçada pelo Mercosul não passa despercebida dessa
perspectiva. "Um processo de integração real deveria buscar equilíbrios e promover o apreço mútuo da diversidade cultural, nosso
principal patrimônio. Lamentavelmente, tanto em projetos conservadores como nos mais renovadores, ainda não conseguimos
que as políticas culturais ocupem
lugar central na agenda pública",
diz Carámbula, que -lá como
cá- é representante de uma gestão de esquerda na prefeitura.
"Se aprendermos a aceitar que
nem todas as influências culturais
externas são ruins e que as identidades culturais são excludentes e
includentes, podemos começar a
respeitar outras culturas e aprender com elas", pondera Laaksonen. "Há urgência em proteger os
direitos humanos, incluindo os
direitos culturais, e em promover
o respeito e a tolerância para a
construção da coexistência e da
paz, especialmente no mundo
pós-11 de Setembro. Quem é o dono da verdade?"
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