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CRÍTICA/"A ERA DO GELO 2"
Carlos Saldanha faz seqüência mais divertida e avançada
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em conformidade com o espírito patriota que rege este ano
(tem astronauta brasileiro, tem
Copa do Mundo, tem eleição), entra em cartaz hoje o representante
da nação na máquina de animação hollywoodiana, Carlos Saldanha e seu "A Era do Gelo 2".
Continuação do desenho de
2002, que o brasileiro Saldanha
co-dirigia em parceria com Chris
Wedge (que foi o responsável por
sua ida para os estúdios Blue Sky),
o filme traz de volta a trinca de
amigos formada por Manny (o
mamute), Sid (a preguiça) e Diego
(o tigre-dentes-de-sabre), agora
às voltas com o degelo que ameaça inundar seu habitat.
Em seu êxodo rumo à arca que
os salvará da morte certa, os três
encontram novos coadjuvantes: a
mamute Ellie, criada por uma família de gambás, e seus dois irmãos (estes, gambás de fato), os
debochados Eddie e Crash.
Comparado a seu antecessor,
"A Era do Gelo 2" avança significativamente na animação digital
-os personagens estão mais bem
definidos visualmente e alguns
cenários (especialmente os que
envolvem água) são nitidamente
complexos e cheios de matizes.
Em entrevista à Folha por telefone, Carlos Saldanha confirma
os avanços -"Ele é tecnicamente
mais complexo e nós tivemos menos tempo para fazer", explica-,
mas relativiza a importância do
computador. "O que tem de motivar o avanço tecnológico é o avanço criativo. A tecnologia apela a
um certo público, mas o filme que
faz sucesso é o que tem uma boa
história. A técnica é secundária."
Mais humor
Curiosamente, no que tange à
história, "A Era do Gelo 2" é um
filme bem menos complexo. Seu
antecessor era pontuado por uma
sucessão de conflitos internos dos
personagens -a perda da família
de Manny, a traição de Diego, a
busca por respeito de Sid- que
resultavam em alguns momentos
dramáticos e emocionantes.
A continuação é, ainda mais que
o primeiro, um filme-pipoca, ancorado quase que exclusivamente
no humor -o que não é demérito, aliás. Na nova animação, Sid
(com ótima dublagem de John
Leguizamo na versão original e de
Tadeu Mello em português) continua polarizando as piadas da
trinca de amigos, mas divide os
momentos hilários com os novos
personagens, como os irmãos
gambás e o tatu trapaceiro Tony
Ligeiro (dublado no original pelo
apresentador de TV Jay Leno).
E, se "A Era do Gelo 2" é mais
engraçado que o anterior, boa
parte do crédito é devido à participação maior de Scrat, a neurótica
fusão de esquilo e rato que continua a perseguir sua desejada noz.
Máquina publicitária
Para os adeptos do ufanismo do
tipo "nunca na história deste país
um brasileiro teve tanto destaque
na animação estrangeira", é bom
frisar que Saldanha, ainda que seguro de seu talento, não exagera
sua importância no exterior ("sou
mais conhecido no meio especializado da animação") nem ignora
a máquina publicitária que produz animações em série em busca
do faturamento milionário com
produtos licenciados.
"Isso não é algo novo, desde os
primórdios da Disney já existia,
mas, de uns anos para cá, ficou
realmente explosivo. Há parcerias
com fabricantes de brinquedos,
produtos de supermercado, redes
de alimentação, é uma máquina
de dinheiro, mas é o que o público
quer, então é o que a publicidade
produz", explica Saldanha.
"Mas eu ainda prefiro pensar
que estou só fazendo um filme. O
resto é uma máquina que funciona ao meu redor e que, depois que
eu entrego o produto, eles tocam
para frente", completa.
E, como a máquina não pode
parar, há um "Era do Gelo 3" em
vista? "Está na boca do povo, mas,
no momento, não estou pensando nisso. De qualquer modo, o estúdio já está estudando roteiros."
A Era do Gelo 2
Ice Age 2: The Meltdown
Produção: EUA, 2005
Direção: Carlos Saldanha
Quando: a partir de hoje no Metrô Santa Cruz, Anália Franco e circuito
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