São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2006

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CRÍTICA/"A ERA DO GELO 2"

Carlos Saldanha faz seqüência mais divertida e avançada

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em conformidade com o espírito patriota que rege este ano (tem astronauta brasileiro, tem Copa do Mundo, tem eleição), entra em cartaz hoje o representante da nação na máquina de animação hollywoodiana, Carlos Saldanha e seu "A Era do Gelo 2".
Continuação do desenho de 2002, que o brasileiro Saldanha co-dirigia em parceria com Chris Wedge (que foi o responsável por sua ida para os estúdios Blue Sky), o filme traz de volta a trinca de amigos formada por Manny (o mamute), Sid (a preguiça) e Diego (o tigre-dentes-de-sabre), agora às voltas com o degelo que ameaça inundar seu habitat.
Em seu êxodo rumo à arca que os salvará da morte certa, os três encontram novos coadjuvantes: a mamute Ellie, criada por uma família de gambás, e seus dois irmãos (estes, gambás de fato), os debochados Eddie e Crash.
Comparado a seu antecessor, "A Era do Gelo 2" avança significativamente na animação digital -os personagens estão mais bem definidos visualmente e alguns cenários (especialmente os que envolvem água) são nitidamente complexos e cheios de matizes.
Em entrevista à Folha por telefone, Carlos Saldanha confirma os avanços -"Ele é tecnicamente mais complexo e nós tivemos menos tempo para fazer", explica-, mas relativiza a importância do computador. "O que tem de motivar o avanço tecnológico é o avanço criativo. A tecnologia apela a um certo público, mas o filme que faz sucesso é o que tem uma boa história. A técnica é secundária."

Mais humor
Curiosamente, no que tange à história, "A Era do Gelo 2" é um filme bem menos complexo. Seu antecessor era pontuado por uma sucessão de conflitos internos dos personagens -a perda da família de Manny, a traição de Diego, a busca por respeito de Sid- que resultavam em alguns momentos dramáticos e emocionantes.
A continuação é, ainda mais que o primeiro, um filme-pipoca, ancorado quase que exclusivamente no humor -o que não é demérito, aliás. Na nova animação, Sid (com ótima dublagem de John Leguizamo na versão original e de Tadeu Mello em português) continua polarizando as piadas da trinca de amigos, mas divide os momentos hilários com os novos personagens, como os irmãos gambás e o tatu trapaceiro Tony Ligeiro (dublado no original pelo apresentador de TV Jay Leno).
E, se "A Era do Gelo 2" é mais engraçado que o anterior, boa parte do crédito é devido à participação maior de Scrat, a neurótica fusão de esquilo e rato que continua a perseguir sua desejada noz.

Máquina publicitária
Para os adeptos do ufanismo do tipo "nunca na história deste país um brasileiro teve tanto destaque na animação estrangeira", é bom frisar que Saldanha, ainda que seguro de seu talento, não exagera sua importância no exterior ("sou mais conhecido no meio especializado da animação") nem ignora a máquina publicitária que produz animações em série em busca do faturamento milionário com produtos licenciados.
"Isso não é algo novo, desde os primórdios da Disney já existia, mas, de uns anos para cá, ficou realmente explosivo. Há parcerias com fabricantes de brinquedos, produtos de supermercado, redes de alimentação, é uma máquina de dinheiro, mas é o que o público quer, então é o que a publicidade produz", explica Saldanha.
"Mas eu ainda prefiro pensar que estou só fazendo um filme. O resto é uma máquina que funciona ao meu redor e que, depois que eu entrego o produto, eles tocam para frente", completa.
E, como a máquina não pode parar, há um "Era do Gelo 3" em vista? "Está na boca do povo, mas, no momento, não estou pensando nisso. De qualquer modo, o estúdio já está estudando roteiros."


A Era do Gelo 2
Ice Age 2: The Meltdown
   
Produção: EUA, 2005
Direção: Carlos Saldanha
Quando: a partir de hoje no Metrô Santa Cruz, Anália Franco e circuito


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