São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2006

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CRÍTICA/"ATOS DOS HOMENS"

Goifman investiga massacre no Rio

CRÍTICO DA FOLHA

A voz grave do diretor Kiko Goifman abre "Atos dos Homens" para explicar como nasceram as imagens que o espectador virá em seguida. A idéia original era fazer um documentário de "forte viés histórico" com os sobreviventes de massacres ocorridos na história recente do Brasil -ele menciona Carandiru, Vigário Geral e Eldorado dos Carajás.
No entanto, a uma semana do início das filmagens, em 31 de março de 2005 (um ano atrás), um novo "trágico acontecimento" fez com que Goifman e sua equipe abandonassem o projeto e partissem, "com muito medo", para a Baixada Fluminense, onde 29 pessoas haviam sido mortas.
A primeira imagem do filme, que é exibido hoje em São Paulo no festival de documentários É Tudo Verdade, é a paisagem carioca vista da janela de um avião, enquanto o piloto anuncia o pouso no Santos Dumont. Assim, Goifman, mineiro que vive em São Paulo, nos informa a respeito do "olhar estrangeiro" que dirige o documentário.
Mas o fato de ser "estrangeiro" não é tão importante quanto o fato de se tratar de um olhar desprendido, interessado em conhecer aquele terreno, as pessoas que moram ali. Isso permite que o diretor faça seu filme mais "careta", mas sem perder densidade.
Primeiro somos apresentados a um conjunto de personagens -o diretor da rádio comunitária, um travesti, um fotógrafo, entre outros- e só adiante serão ouvidos os parentes de vítimas.
Esses depoimentos, que pela gramática jornalística seriam apresentados com tarjas pretas ou imagens "desfocadas", surgem como vozes em "off" sobre a tela branca. Tal tela "ilumina" o cinema, causando uma estranheza que sublinha a voz dos entrevistados e lhes confere peso. (PB)

Atos dos Homens
    
Quando: hoje, às 21h, no Cinesesc (r. Augusta, 2.075, tel. 0/xx/11/3082-0213)
Quanto: entrada franca


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