|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Rap domina disco com canções do filme de Beto Brant, lançado só agora em CD com Pavilhão 9, Black Alien e outros
Sabotage lidera trilha de "O Invasor"
DA REPORTAGEM LOCAL
Com vários meses de atraso em
relação à estréia nos cinemas, chega às lojas agora a trilha sonora do
filme "O Invasor", de Beto Brant.
Quase todo calcado no hip hop, o
disco tem como protagonista musical o rapper paulistano Sabotage, 29, que também atua brevemente no filme.
A trilha de "O Invasor" é, na
verdade, uma coletânea de faixas
já lançadas de Pavilhão 9, Tolerância Zero, Tejo, Black Alien e
Speed e de artistas e grupos de fora do rap (como o titã Paulo Miklos, o "invasor" em pessoa, Professor Antena e Alec Haiat).
Sabotage aparece em cinco faixas, duas delas recolhidas de "Rap
É Compromisso" (2001), seu CD
de estréia. Lançado pela gravadora Cosa Nostra (dos Racionais
MC's), com distribuição da Sony,
seu CD andava com circulação capenga e só agora foi recolocado
no mercado pela Sony, aproveitando a repercussão do filme.
Chegando a ela, Sabotage não
manifesta muita confiança nas
manhas da indústria musical. "No
início, comecei a escrever música
com uma pá de cara, e de repente
comecei a ouvir as pessoas comentando que eu tinha feito música com Charlie Brown Jr., Planet
Hemp, Thaíde... Eu era meio mané, nem sabia disso. Mas depois
eles me pagaram, um deu R$
1.000", conta.
E continua: "A fase de mané já
passou. Hoje sou mané só de gravadora. Sem divulgar nem nada a
Sony diz que vendeu 7.500 cópias,
mas acho que deve ser mais".
Até chegar à tela de "O Invasor",
Sabotage viveu história idêntica à
da maioria de garotos pobres que
hoje se dedicam ao rap. Nascido
Mauro Mateus dos Santos, desde
pequeno ganhou o apelido que
hoje usa como artista.
"Tenho o apelido desde 81, mas
agora tive que pegar uma grana
com a gravadora para liberar o
nome, porque já tinha gente
usando. Quem deu o apelido foi
meu irmão um ano mais velho,
que hoje é finado. Andava muito
na rua quando era criança, e meu
irmão me chamava assim, dizia
que "sabotagem" era um ato terrorista. Nem sabia o que era, fiquei
assustado quando soube", traduz.
Dizendo compor rap há 16 anos,
dá sua receita de hip hop: "Sou
um ator da periferia. Vivo entre os
dois lados, entre o bem e o mal.
Tenho que falar disso, mas acho
que tenho que ser brincalhão".
As letras não são brincadeira,
no entanto, como exemplifica a
faixa-título de seu CD -"O crime
é igual ao rap, e o rap é minha alma", canta. Sabotage justifica a
comparação, a seu modo:
"Nasci num mundo sujo, na favela do Canão, no Buraco Quente.
Pequeno, vi pessoa morta na minha porta e minha mãe tentando
esconder isso de mim. Não pode
denunciar, senão eles vêm atrás
da sua família. O rap também tem
isso. Hoje o Xis está fazendo sucesso e a galera fala mal, implica.
Como diz MV Bill, um preto não
quer ver outro preto bem".
Comenta, então, o caso (próximo) do pagodeiro Belo, que vem
enfrentando acusações de ligação
com o tráfico de drogas:
"Conheço Belo, é um cara lutador. Vem da periferia como eu, só
que tem vergonha de falar o que
viveu. A mãe dele mora ao lado da
minha casa, e a namorada mora
na Barra da Tijuca. Mas como vou
julgar uma pessoa? Se ele estivesse
envolvido com isso, eu ia achar
que está sendo um palerma".
Por fim, comemora a experiência no cinema e diz que faria TV
como Xis, se pudesse: "Para a TV
eu iria sossegado, só não vou se
for para ficar amarrado no tronco
tomando chicotada".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Texto Anterior: Manguebeat: Pernambuco troca a parabólica pelas fibras óticas Próximo Texto: Crítica: Álbum introduz ao rap, CD solo aprofunda Índice
|