São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2004 |
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Objeto musical não identificado
A dupla eletrônica Matmos dá voz a objetos na música MARCOS DÁVILA ENVIADO ESPECIAL A RECKLINGHAUSEN No começo do ano, um rato apareceu na casa de Martin C. Schmidt, 40, e Drew Daniel, 33, em San Francisco, deixando furos nas camisas e sumindo com a comida do casal. Pobre roedor, não sabia que estava se metendo com a dupla de eletrônica experimental Matmos, capaz de transformar qualquer coisa em música. Depois de prender o rato numa gaiola, os dois gravaram seus guinchos, que serviram de base para as duas faixas do EP "Rat Relocation Program" (2004). Nada muito surpreendente para a dupla, que já fez um disco inteiro a partir de gravações de ruídos de cirurgias, "A Chance to Cut Is a Chance to Cure" (2001), lançado no Brasil pela Trama. O duo ficou conhecido mundialmente ao colaborar com a cantora Björk em "Vespertine" (2001), e está em turnê pela Europa para divulgar seu mais recente álbum, "The Civil War". O Matmos foi um dos destaques da programação musical do festival de teatro Ruhrfestspiele, em Recklinghausen (oeste da Alemanha), onde se apresentou para um público de cerca de cem pessoas na semana passada, desculpando-se por ter "um idiota como presidente". O show contou com a participação do guitarrista e tubista Mark Lightcap e do baterista Steve Goodfriend, que, ao lado do baixista Carl Bronson, abriram a noite com o trio Dickslessig, que também toca em "The Civil War". Antes de subir ao palco, "os caras que tocam com a Björk" (como são conhecidos na cidade) falaram à Folha sobre o novo álbum e a experiência com o rato, que depois foi libertado em "uma vizinhança rica de San Francisco". Folha - Como foi usar um rato em
"Rat Relocation Program"? Drew Daniel - Nós também temos um rato de estimação. E um dia os dois se encontraram e brigaram. Foi assustador. A primeira faixa do EP é somente o rato, não mexemos em nada, só gravamos seus gritos. A segunda é uma manipulação dos sons do rato, uma colagem. Mas nós preservamos o timing exato em que ele decidia gritar, como se ele fosse o crooner. Folha - É muito difícil classificar
ou descrever o som do Matmos... Schmidt - Não é a primeira vez,
não. Nós usamos guitarras em
nosso terceiro CD, "The West"
[1999]. Eles são muito similares,
voltados mais para a música
country americana. Daniel - É verdade, mas em "The
Civil War" há mais instrumentos
e eles são mais importantes. Folha - E por que retomar o folk? Daniel - Acho que estamos reagindo ao CD anterior, com barulhos de cirurgia, que foi o nosso
trabalho mais conceitual. Foi
muito divertido, mas achamos
perigoso ficarmos conhecidos como a banda boba, com sons bobos. Resolvemos tomar outro rumo. Mas não sabemos tocar instrumentos. Não temos técnica.
Tocamos como artistas naïf. Tocamos guitarra como uma rosa
ou um instrumento cirúrgico. Schmidt - Eu não sei fazer um
acorde. Folha - Então como funciona o
processo de criação? Schmidt - A gente faz som por livre associação. Pegamos coisas e
gravamos trechos de sons e ouvimos cada um deles individualmente. Às vezes, fazemos loops.
Às vezes, achamos que um som
pede outro som. Ouvimos o resultado e pensamos: "Nossa, soa como [John] Cage". Então chamamos alguém para tocar violino. Daniel - Não fazemos planos.
Não pensamos: "Vamos fazer um
tecno, ou um rock ou um som de
tambores africanos". Folha - Ou música brasileira. Vocês gostam? Daniel - Hoje eu estava escutando Mutantes. Acho o tropicalismo
um bom exemplo de como receber influências sem ser varrido
por elas. Eles são brilhantes. Schmidt - E Elis Regina também,
ela tem uma voz linda. A Björk
também ama a Elis Regina e tem
um vídeo lindo dela cantando. O jornalista Marcos Dávila viajou a convite do Ruhrfestspiele Texto Anterior: Programação Próximo Texto: Crítica: Guerra contra o convencional Índice |
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