São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2004

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MÚSICA

Elogiado pianista argentino retorna ao Brasil com repertório variado para shows no Cultura Artística e no Baretto

Navarro apresenta jazz "livre e extrovertido"

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Chapéu na cabeça, swing e amor pela música brasileira são os ingredientes que o pianista argentino Jorge Navarro, um dos principais músicos de jazz de seu país, traz nesta semana a São Paulo.
Acompanhado por Arturo Puertas (contrabaixo) e Osvaldo Fattoruso (bateria), Navarro abre hoje o Jazz Cult, série de oito apresentações mensais dedicadas ao jazz em um dos mais tradicionais palcos paulistanos de música erudita, o Cultura Artística (veja programação ao lado). E, de quinta a sábado, ele toca no Baretto.
"Osvaldo é um grande baterista uruguaio, que conheço há anos, e cujo irmão, Hugo, é um pianista que já tocou com muitos músicos brasileiros, como Milton Nascimento, Chico Buarque e Djavan", apresenta Navarro, em entrevista à Folha, por telefone, de Buenos Aires. "Já Arturo é um jovem contrabaixista argentino."
Jazzófilos mais atentos certamente se lembrarão da apresentação que Navarro fez em São Paulo em 98, no Sesc Vila Mariana, ao lado do também pianista Baby Lopez Furst (1937-2000). Era o espetáculo "100 Anos de Gershwin Rhapsody in Blue". "Gosto de tocar de forma livre, sem preconceito e extrovertida. A música sai assim, com muito swing."
A carreira musical de Navarro começou em 1958, com a banda Swingtimers, com a qual gravou três discos, mas começou a chamar a atenção em 1960, quando, ao lado do saxofonista Gato Barbieri, montou a Agrupación Nuevo Jazz. Desde então, teve uma trajetória laureada, marcada por shows com nomes do quilate de Ella Fitzgerald e Ray Charles.
Por aqui, ele terá convidado especial: o saxofonista portenho radicado no Brasil Héctor Costita, 59. "É um dos criadores da bossa nova instrumental, com o trabalho que fez com Sérgio Mendes e Edison Machado, nos anos 60."
Além de temas de Costita, Navarro inclui no programa "Meditação", homenagem a Tom Jobim ("Que não é mais só de vocês, brasileiros; é de toda a humanidade, e, portanto, é muito meu também"), além de standards americanos, como "I Mean You", de Thelonious Monk; "Satin Doll", de Duke Ellington; "Fascinating Rhythm", dos irmãos Gershwin.
Seu principal projeto hoje é a formação de uma big band portenha. "Há uns 30 anos não há uma big band atuando com regularidade em Buenos Aires", conta. Chamado La Gran Banda, o grupo reúne 17 integrantes, e começa as atividades em 25 de junho.
Navarro não crê na existência de um jazz puramente argentino ou em elementos portenhos em sua maneira de tocar. "O jazz é uma linguagem universal, tocada por músicos de diversos países. O que há são músicos de várias nacionalidades, que se exprimem no idioma comum do jazz."
Para o Brasil, contudo, ele abre uma exceção. "Não é porque estou dando esta entrevista para um jornal brasileiro que digo isso, mas o fato é que só vocês conseguem fazer algo diferente. Isso porque a música brasileira é muito forte no aspecto rítmico e, assim, os músicos de vocês não precisam recorrer ao jazz para buscar ritmo. Mas nós, que viemos de países em que a música não é tão forte nesse aspecto, temos que recorrer à rítmica do jazz", teoriza.


JAZZ CULT. Onde: Teatro Cultura Artística - sala Rubens Sverner (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/3256-0223). Quando: hoje, às 21h. Quanto: R$ 30.

JORGE NAVARRO. Onde: Baretto (r. Vittorio Fasano, 88, tel. 0/xx/11/3896-4066). Quando: de qui a sáb, às 21h. Quanto: R$ 70.



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