São Paulo, quinta-feira, 31 de maio de 2007

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Desjejum à brasileira

Sanduíche de tucumã, peixe com açaí e bode com cuscuz... Os cafés da manhã nas regiões brasileiras são mais variados do que se pensa

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é preciso sair do Brasil para descobrir que o café da manhã vai bem além do pão com manteiga e cafezinho e pode ter alimentos aparentemente pesados para o desjejum.
Em Belém, o dia nem bem clareou, e muitos dos ribeirinhos já têm à mão uma cuia cheia de açaí com farinha d'água e... peixe. Em Manaus, come-se um sanduíche de uma fruta chamada tucumã.
No Sul, o dia pode começar com uma cuca ou, no caso dos tropeiros, com um pão com lascas de carne. Os sul-mato-grossenses não dispensam a chipa e a sopa paraguaia, assim como na mesa mineira não faltam quitandas como a broinha de milho e o biscoito de polvilho.
Nas capitais nordestinas, a tapioquinha está difundida, mas no sertão a primeira refeição ainda pode ter bode (leia as receitas ao lado).
"Tudo depende da colonização e do que a região oferece de ingredientes. Há lugares onde a primeira refeição tem uma comida de base, de resistência", diz Francisco Rebêlo, professor de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi.
"Em todas as regiões, a comunidade mais pobre entra de sola no alimento pesado, como é o caso do mocotó consumido de manhã nos mercados de Salvador, do peixe com açaí de Belém ou da carne com farinha do sertão. O pessoal acorda na alvorada, vai para a faina e precisa comer algo substancioso", explica o jornalista Caloca Fernandes, autor de "Viagem Gastronômica através do Brasil" (ed. Senac). "Em Salvador, onde a comunidade é mais urbana, em cada esquina tem uma baiana servindo mingau de carimã [massa azeda de mandioca] e bolo de aipim. E, neste caso, não há limitação de classe. É um prazer para todos."
Aspecto comum a boa parte dos itens do café da manhã brasileiro é a presença de alimentos preparados com a mandioca ou seus derivados, como observa Telma Lopes Machado, dona da fazenda Babilônia, em Pirenópolis (GO), onde é possível degustar aos finais de semana um café da manhã regional que tem de mané pelado (bolo de macaxeira) a pau-a-pique (um primo do beiju).
"Ninguém veio para cá plantar. Se não fosse a mandioca, os portugueses não dariam conta de explorar o Brasil. Ela foi a base da alimentação", diz Telma. "Quando as portuguesas chegaram aqui, tiveram de criar em cima do que tinham, e não havia farinha do reino [de trigo]. Por isso a variedade de pães e bolos de aipim e milho."
Em Minas Gerais, as quitandas também são variadas, como explica Edson Puiati, chef-executivo do Hotel Escola Senac Grogotó, em Barbacena.
"O café da manhã do mineiro é para sustentar mesmo. Tem muitos alimentos à base de milho e mandioca, como as broas de canjica e de fubá e o sequilho de araruta. O pão de queijo e as geléias de frutas da região são igualmente bem difundidas."
Já em Manaus é o sanduíche feito com queijo coalho e polpa do tucumã, fruto oleoso e fibroso de uma palmeira amazônica, a estrela do café da manhã. O X-Caboclinho, como ficou conhecido, nunca pode faltar.
"Essa fruta é muito do gosto do amazonense de um modo geral. Hoje, já se alastrou de tal modo que teve ter ido para o interior do Amazonas, mas começou aqui em Manaus. Agora já é vendido até nos cafés de rua, nas esquinas", diz João Bosco Vieira, do Café Regional Tapiri. "Não tem nada igual. Só provando para saber."


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