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Desjejum à brasileira
Sanduíche de tucumã, peixe com açaí e bode com cuscuz... Os cafés da manhã nas regiões brasileiras são mais variados do que se pensa
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é preciso sair do Brasil
para descobrir que o café da
manhã vai bem além do pão
com manteiga e cafezinho e pode ter alimentos aparentemente pesados para o desjejum.
Em Belém, o dia nem bem
clareou, e muitos dos ribeirinhos já têm à mão uma cuia
cheia de açaí com farinha d'água e... peixe. Em Manaus, come-se um sanduíche de uma
fruta chamada tucumã.
No Sul, o dia pode começar
com uma cuca ou, no caso dos
tropeiros, com um pão com lascas de carne. Os sul-mato-grossenses não dispensam a chipa e
a sopa paraguaia, assim como
na mesa mineira não faltam
quitandas como a broinha de
milho e o biscoito de polvilho.
Nas capitais nordestinas, a
tapioquinha está difundida,
mas no sertão a primeira refeição ainda pode ter bode (leia as
receitas ao lado).
"Tudo depende da colonização e do que a região oferece de
ingredientes. Há lugares onde a
primeira refeição tem uma comida de base, de resistência",
diz Francisco Rebêlo, professor de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi.
"Em todas as regiões, a comunidade mais pobre entra de
sola no alimento pesado, como
é o caso do mocotó consumido
de manhã nos mercados de Salvador, do peixe com açaí de Belém ou da carne com farinha do
sertão. O pessoal acorda na alvorada, vai para a faina e precisa comer algo substancioso",
explica o jornalista Caloca Fernandes, autor de "Viagem Gastronômica através do Brasil"
(ed. Senac). "Em Salvador, onde a comunidade é mais urbana, em cada esquina tem uma
baiana servindo mingau de carimã [massa azeda de mandioca] e bolo de aipim. E, neste caso, não há limitação de classe. É
um prazer para todos."
Aspecto comum a boa parte
dos itens do café da manhã brasileiro é a presença de alimentos preparados com a mandioca ou seus derivados, como observa Telma Lopes Machado,
dona da fazenda Babilônia, em
Pirenópolis (GO), onde é possível degustar aos finais de semana um café da manhã regional
que tem de mané pelado (bolo
de macaxeira) a pau-a-pique
(um primo do beiju).
"Ninguém veio para cá plantar. Se não fosse a mandioca, os
portugueses não dariam conta
de explorar o Brasil. Ela foi a
base da alimentação", diz Telma. "Quando as portuguesas
chegaram aqui, tiveram de
criar em cima do que tinham, e
não havia farinha do reino [de
trigo]. Por isso a variedade de
pães e bolos de aipim e milho."
Em Minas Gerais, as quitandas também são variadas, como explica Edson Puiati, chef-executivo do Hotel Escola Senac Grogotó, em Barbacena.
"O café da manhã do mineiro
é para sustentar mesmo. Tem
muitos alimentos à base de milho e mandioca, como as broas
de canjica e de fubá e o sequilho
de araruta. O pão de queijo e as
geléias de frutas da região são
igualmente bem difundidas."
Já em Manaus é o sanduíche
feito com queijo coalho e polpa
do tucumã, fruto oleoso e fibroso de uma palmeira amazônica,
a estrela do café da manhã. O
X-Caboclinho, como ficou conhecido, nunca pode faltar.
"Essa fruta é muito do gosto
do amazonense de um modo
geral. Hoje, já se alastrou de tal
modo que teve ter ido para o interior do Amazonas, mas começou aqui em Manaus. Agora
já é vendido até nos cafés de
rua, nas esquinas", diz João
Bosco Vieira, do Café Regional
Tapiri. "Não tem nada igual. Só
provando para saber."
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