São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2010

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Centro Pompidou empresta obras a filial

Instituição de Paris inaugura museu na cidade de Metz com pinturas de Chagall e Dalí e investimento de € 70 milhões

Novo espaço recebe arte que estava ociosa na capital francesa, como quadros de Picasso, Andy Warhol e Miró

CHICO FELITTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE METZ

As placas de rua em Metz, na França, indicam dois centros, geograficamente opostos, desde a quarta passada. No centro da cidade, capital da região da Lorena, fica a gótica Catedral de Santa Etiene, com vitrais desenhados pelo pintor Marc Chagall.
O mesmo artista está em centro inaugurado há cinco dias: o Pompidou Metz, filial do espaço cultural parisiense homônimo, a 280 km dali.
No museu, Chagall ganha, sob o teto de treliça de madeira, companhia de Andy Warhol, Dali, Miró, Kandinsky, Picasso, Calder, Rodin e outros timbres das artes, em 800 trabalhos que formam a exposição inaugural "Chefs-Ouvre?" (obras-primas?).
A pergunta da primeira mostra do lugar parece ser retórica. São obras-primas, com valor reconhecido por crítica, mercado e público. Mas nenhuma delas é do Pompidou Metz.
Tudo o que fica exposto ali até 25 de outubro saiu do catálogo de 65 mil obras do Museu Nacional de Arte Moderna da França, sob custódia e gerenciamento do Pompidou Paris. O empréstimo faz parte da lógica do novo museu, que servirá como ladrão, para escoar arte ociosa da capital no interior do país.
A tentativa de agitar uma festa da arte no interior e descentralizar o circuito custou € 70 milhões (R$ 160 milhões) às esferas municipal, regional e federal. A maior parte da verba foi para o prédio, projetado com formato de chapéu japonês pelos arquitetos Shigeru Ban e Jean de Gastines.

VENDER A CIDADE
A inauguração comoveu a cidade de 200 mil habitantes. A associação local de lojistas abatia 10% do valor das compras feitas na semana de abertura. A companhia estatal de trens francesa vendeu passagens do trecho Paris-Metz por metade do preço, no mesmo período, e, até domingo passado, a entrada do museu foi gratuita.
"O Pompidou vai nos ajudar a vender congressos, que nos permitirão "vender" a cidade [cooptar turistas do maior destino turístico do mundo, Paris]", disse o responsável por seus assuntos econômicos, Thierry Jean, em coletiva de imprensa.
A estratégia saiu do molde do Guggenheim Bilbao, que fez as convenções na cidade, no norte da Espanha, passarem de cem para mil, por ano. O museu, que em 1997 custou € 133 milhões à região do País Basco, hoje rende por ano € 230 milhões (cerca de R$ 510 milhões).
Metz não está só. Outras cidades pequenas na Europa estão prestes a ganhar instituições de projeção mundial, bem como capitais sem tradição artística no Oriente Médio. Para tirar a arte do centro, foram traçados projetos faraônicos e despendidas cifras vultosas, até para parâmetros artísticos.


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