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Centro Pompidou empresta obras a filial
Instituição de Paris inaugura museu na cidade de Metz com pinturas de Chagall e Dalí e investimento de € 70 milhões
Novo espaço recebe arte que estava ociosa na capital francesa, como quadros de Picasso, Andy Warhol e Miró
CHICO FELITTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE METZ
As placas de rua em Metz,
na França, indicam dois centros, geograficamente opostos, desde a quarta passada.
No centro da cidade, capital
da região da Lorena, fica a
gótica Catedral de Santa Etiene, com vitrais desenhados
pelo pintor Marc Chagall.
O mesmo artista está em
centro inaugurado há cinco
dias: o Pompidou Metz, filial
do espaço cultural parisiense
homônimo, a 280 km dali.
No museu, Chagall ganha,
sob o teto de treliça de madeira, companhia de Andy Warhol, Dali, Miró, Kandinsky,
Picasso, Calder, Rodin e outros timbres das artes, em
800 trabalhos que formam a
exposição inaugural "Chefs-Ouvre?" (obras-primas?).
A pergunta da primeira
mostra do lugar parece ser retórica. São obras-primas,
com valor reconhecido por
crítica, mercado e público.
Mas nenhuma delas é do
Pompidou Metz.
Tudo o que fica exposto ali
até 25 de outubro saiu do catálogo de 65 mil obras do Museu Nacional de Arte Moderna da França, sob custódia e
gerenciamento do Pompidou
Paris. O empréstimo faz parte
da lógica do novo museu,
que servirá como ladrão, para escoar arte ociosa da capital no interior do país.
A tentativa de agitar uma
festa da arte no interior e descentralizar o circuito custou
€ 70 milhões (R$ 160 milhões) às esferas municipal,
regional e federal. A maior
parte da verba foi para o prédio, projetado com formato
de chapéu japonês pelos arquitetos Shigeru Ban e Jean
de Gastines.
VENDER A CIDADE
A inauguração comoveu a
cidade de 200 mil habitantes.
A associação local de lojistas
abatia 10% do valor das compras feitas na semana de
abertura. A companhia estatal de trens francesa vendeu
passagens do trecho Paris-Metz por metade do preço, no
mesmo período, e, até domingo passado, a entrada do
museu foi gratuita.
"O Pompidou vai nos ajudar a vender congressos, que
nos permitirão "vender" a cidade [cooptar turistas do
maior destino turístico do
mundo, Paris]", disse o responsável por seus assuntos
econômicos, Thierry Jean,
em coletiva de imprensa.
A estratégia saiu do molde
do Guggenheim Bilbao, que
fez as convenções na cidade,
no norte da Espanha, passarem de cem para mil, por
ano. O museu, que em 1997
custou € 133 milhões à região
do País Basco, hoje rende por
ano € 230 milhões (cerca de
R$ 510 milhões).
Metz não está só. Outras cidades pequenas na Europa
estão prestes a ganhar instituições de projeção mundial,
bem como capitais sem tradição artística no Oriente Médio. Para tirar a arte do centro, foram traçados projetos
faraônicos e despendidas cifras vultosas, até para parâmetros artísticos.
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