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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO
Filme transcende dois biografados
"Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague" é recorte da Europa entre pós-guerra e pós-1968
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Jean-Luc Godard e François Truffaut foram os autores que mais se destacaram
entre os que criaram, por volta de 1960, a nouvelle vague.
Seus nomes estavam na boca
de todos os que conheciam
um pouco de cinema.
Em pouco tempo, influenciavam todas as discussões
sobre o assunto em praticamente todo o mundo. Os dois
amigos mudaram a face do
cinema mundial, não há nenhuma dúvida.
No entanto, essa amizade
tem uma longa, precisa e dolorosa história. Justamente
essa a que se dedica "Godard, Truffaut e a Nouvelle
Vague".
Poupemos o tempo do leitor apressado: para quem
não gosta de cinema, o documentário de Emmanuel Laurent é supérfluo. Para quem
gosta é indispensável. Através dele podemos entender
um bocado mais do cinema
moderno.
CINEFILIA
Primeiro, existe a amizade
e a cinefilia, no começo dos
anos 1950. Depois, as batalhas críticas contra o cinema
francês, na revista "Cahiers
du Cinéma".
Por fim, os filmes. Os curtas, os longas. As origens
eram bem diferentes: Truffaut, pobre; Godard, família
de banqueiros.
Mas um sustentava o outro. Truffaut (1932-1984) saiu
na frente e espantou a todos
em Cannes com "Os Incompreendidos", em 1959. Era tudo que queria a jovem crítica
para o cinema francês: filmes
vinculados ao real, ao visível, à experiência pessoal.
Em suma, à verdade.
Em 1960, com o aval de
Truffaut, Jean-Luc Godard
lançou-se ao primeiro longa,
"Acossado". Com ele surgiu
a cara de um cinema totalmente revolucionário. Essa
marca ficará sobre os dois:
Truffaut, mais clássico, mais
conservador.
Godard, sempre inquieto,
questionador, perguntando
sempre o que é cinema e nunca satisfeito com a resposta.
Com o tempo, a inquietação de Godard tornou-se
também política. Passou da
direita à esquerda, do comunismo ao maoísmo. Abandonou o cinema comercial, em
1968. Afastou-se de Truffaut.
Em 1973, criticou duramente
seu "A Noite Americana".
Truffaut sempre soube que
Godard era o melhor cineasta. Mas a pena deTruffaut era
feroz: com uma carta fulminou o ex-amigo. Nunca mais
se falaram.
Essa ruptura anunciara-se
desde o Maio de 68, por tudo
que o movimento significara.
A França da nouvelle vague
(ou seja: a era De Gaulle) deixara de existir; a nouvelle vague também. Deixava atrás
de si rastros dos EUA ao Japão, passando pelo Brasil.
MONSTROS SAGRADOS
Mas não é apenas desses
dois monstros sagrados do
cinema moderno, nem da
nouvelle vague que esse documentário dá conta: é também da Europa entre o pós-guerra e os pós-1968 que trata, a partir de dois de seus artistas-chave.
Não será demais lembrar
que o roteirista, Antoine de
Baecque, é biógrafo de Godard, de Truffaut e dos "Cahiers du Cinéma": ou seja,
um importante historiador
da Europa do pós-guerra.
Pensando bem, esse filme
não é só para quem gosta de
cinema.
GODARD, TRUFFAUT E A
NOUVELLE VAGUE
DIREÇÃO Emmanuel Laurent
PRODUÇÃO França, 2009
ONDE Frei Caneca Unibanco Arteplex e Reserva Cultural
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo
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