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LITERATURA
Lampedusa escreve para se reencontrar
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO
A bela tomada do alto da cidade
de Palermo, na Sicília, que abre o
documentário sobre Giuseppe
Tomasi di Lampedusa (1896-1957), exibido hoje no Eurochannel, define o ângulo de visão desse
príncipe e escritor. Difícil é imaginar que aquele que apreciava as
ruelas e as casas simples de sua cidade natal da janela de um dos
300 quartos de seu castelo pudesse produzir o livro que despertou
nos italianos os traumas sociais
recônditos intocados durante as
duas guerras mundiais.
Mas o menino mimado, que falava e lia em francês e inglês durante dias inteiros na biblioteca da
família, acumulava em silêncio
uma simpatia pelos revolucionários. O testemunho dessa atração
está registrado nesse filme na voz
de amigos que formavam o pequeno grupo de alunos de literatura inglesa de Lampedusa e que
leram o primeiro manuscrito da
obra-prima do escritor: "O Leopardo" (1958).
Não é por menos que seu romance capta os efeitos da turbulência na aristocracia dominante
a partir do desembarque do líder
revolucionário Giuseppe Garibaldi (1807-1882) em Marsala em
1860. Lampedusa teria pensado
na estrutura de seu livro bem antes de escrevê-lo, colocando seu
bisavô como protagonista dessa
história que se restringe a 24 horas na vida de uma família de barões em plena decadência frente à
ascensão da burguesia que se fortalecia com a unificação da Itália.
Trabalhando uma prosa suntuosa, à William Faulkner e Ernest Hemingway, Lampedusa
contrariava os ditames neo-realistas italianos em voga. Nascia um
verdadeiro romance de luta de
classes.
Em 1963, a história ainda provocava, mas então na pele de Burt
Lancaster, Claudia Cardinale e
Alain Delon, que estrelaram a
adaptação cinematográfica de "O
Leopardo" por Luchino Visconti,
que levou a Palma de Ouro no
Festival de Cannes daquele ano.
Usando imagens do filme e registros da Palermo original, o documentário retrata o entrelaçamento entre a vida e a obra de
Lampedusa, o autor que teria escrito para "reencontrar sua identidade". Ele morreu vítima de
câncer, em Roma, sem conhecer a
revolução causada por "O Leopardo".
CICLO ESCRITORES: GIUSEPPE
TOMASI DI LAMPEDUSA. Quando: hoje,
às 16h, no Eurochannel.
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