São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

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MÔNICA BERGAMO

Eles estavam na foto com Lula em 2002. Hoje, alguns artistas estão decepcionados, outros mantêm a esperança. Muitos preferem ficar em silêncio

O corcovado e o redentor

Ana Carolina Fernandes - 29.ago.2002/Folha Imagem
Da esq. para a dir., Camila Pitanga, Hugo Carvana, Marina Lima, Marisa, Benedita da Silva, Lula, Zeca Pagodinho, Marcos Winter, Chico Buarque de Hollanda, Antonio Grassi e Letícia Sabatella; agachadas, Carla Camurati e Zezé Polessa, num evento de apoio à campanha de Lula, na churrascaria Porcão, no Rio

"Eu estou puta da vida!"

Zezé Polessa, Beth Carvalho e Carla Camurati já não têm mais esperanças no PT. Zezé acredita que o escândalo terminará no impeachment de Lula. Beth Carvalho diz que é "cada vez mais Leonel de Moura Brizola". E Carla Camurati, musa da retomada do cinema nacional, se declara "decepcionada e triste".
 
Zezé Polessa - "Estou puta da vida! Eu estava com tantas esperanças no Lula... No domingo, peguei o jornal e "entrei" no assunto das CPIs. Achei tão louco que fiquei deprimida. Eu ia para a praia correr. Fui para a cama e voltei a dormir. Votei em Lula porque eu queria mudança, e muito em cima dessa coisa da corrupção. É inaceitável agora esse discurso dele, "o Brasil não merece". Isso é coisa que dona-de-casa fala. O Brasil não merece é ele!"
 
"Lula parece esquizofrênico, parece que vive em outro país. Acho ele conivente, se não for corrupto. Mas conivente é corrupto do mesmo jeito. É fácil agora, que o leite derramou, dizer que o fogo estava alto, mas os primeiros discursos de Lula como presidente já me incomodavam. Eu via um certo despreparo. Acho que o pior vai acontecer, que é o impeachment de Lula."
 
Beth Carvalho - [Brizolista histórica, a cantora apoiou Lula, mas não estava na reunião de artistas com o candidato]. "Eu esperava incompetência, muitas dificuldades. Mas não essa corrupção violenta. Está todo mundo triste. E a coisa pior que pode acontecer é voltar o Fernando Henrique. Por isso eu ainda torço para o governo dar certo. Mas, vendo tudo isso, eu cada vez mais sou Leonel de Moura Brizola."

Carla Camurati - A diretora e atriz mal tem conseguido recursos para terminar seu filme, "Irma Vap". Ela não deu entrevista à coluna, por estar "mergulhada na montagem do filme", segundo Tathiana Mourão, sua assessora. Mas Carla ainda defende Lula? "Defendendo ninguém está, né?", diz Tathiana. Carla autorizou a assessora a dizer que ela está "muito decepcionada, muito triste" com o governo Lula.

"O Lula é honesto"

Os atores Antonio Grassi, que dirige a Funarte no governo do PT, e Marcos Winter confiam em Lula.
 
Antonio Grassi - "Eu votaria no Lula de novo. O Lula é honesto. Mas é claro que fico perplexo em relação a coisas para as quais espero respostas. Vivi uma experiência ótima que foi a programação do ano do Brasil na França -um sucesso estrondoso. Voltei e encontrei esse ambiente. Foi um baque. Me afundei totalmente."

Marcos Winter - "O Lula tem que vir a público o mais rápido possível e separar o joio do trigo, limpar essa imundície toda. Mas não passa pela minha cabeça que o Lula sabia das sacanagens do seu Delúbio, do seu Silvio, do seu Valério. Não dá para desmerecer as coisas bacanas desse governo. Nunca se investigou tanto, nunca se libertou tantos trabalhadores escravos, nunca se teve um auxílio social tão grande. Estive com o presidente antes da crise. Olhava e pensava: "Bicho, se não for você, vai ser quem, meu amigo?"

Cadê você, cadê?

Na hora da foto, eles estavam lá. Hoje, não falam sobre Lula. A seguir, as explicações para o silêncio:
 
Hugo Carvana - "Ele não vai querer falar", já foi logo avisando a assessora Denise Moraes. "É que o Hugo é muito na dele. Está em outra, fazendo outros projetos. Não quer entrar na polêmica. O Hugo não gosta de ser "contra", de contestar ou não contestar." Denise consultou Carvana. E voltou com a resposta: "Ele não quer mesmo falar".

Marina Lima - A assessoria da cantora diz que não a encontrou para falar de Lula. Ela estaria incomunicável, descansando na serra.
Chico Buarque - "Você pode imaginar que está chovendo pedidos de entrevistas sobre o assunto. Mas ele não fala, não comenta. Nem sobre isso nem sobre nada. O Chico não dá entrevista", diz Mario Canivello, assessor de imprensa do cantor.

Zeca Pagodinho - "Ele está de férias, em Portugal", afirmou Fafá Máquina, empresária do cantor, para explicar a dificuldade de obter uma declaração do pagodeiro sobre o governo Lula. "Mas eu acho que ele não vai falar sobre isso, não. O Zeca não se mete em política. Foram até perguntar sobre esse assunto em Portugal. Ele falou: "Olha, o meu negócio é cantar. Eu não me meto nessa história nem li sobre isso [o "mensalão"]"." A assessoria de Pagodinho também disse que ele estava de férias e "incomunicável".

Camila Pitanga - Por que Lula? "Porque o país não aguenta mais do mesmo", respondeu na campanha de 2002 a atriz Camila Pitanga, que chorou "de emoção e contentamento" na posse de Lula. Hoje, Camila cala. "É que ela não se sente apta para comentar o assunto. Prefere esperar os acontecimentos", diz Bárbara, secretária da atriz.

Letícia Sabatella - "É pra falar sobre o Lula? Me liga amanhã, lá pelas duas, aí a gente conversa com calma", disse a atriz à coluna no começo da semana, pelo celular. A coluna telefonou por três dias. Letícia Sabatella não retornou as ligações.

MUSA DE 2002

"Quero um prazo"

Paloma Duarte foi a peça de resistência da reta final da campanha de Lula, em 2002. Ela surgiu na telinha para responder às afirmações de Regina Duarte, de que estava com "medo" da vitória do PT. "Estou chocada com o terrorismo e o uso do medo nas eleições presidenciais do meu país", disse, na época. Paloma hoje tenta entender o que se passa no Brasil governado por Lula.
 

Folha - Qual a sua opinião sobre a crise?
Paloma Duarte -
Eu estou esperando alguns depoimentos para me colocar. Eu quero ver como vai ser o depoimento do José Dirceu no Conselho de Ética. Ainda está muito no meio da investigação para eu me declarar. Eu vou ter o maior prazer em dar essa matéria para vocês, mas eu queria te pedir um prazo de uma semana, dez dias.

Folha - Você vai se declarar?
Paloma -
Vou, com certeza, faço questão absoluta. Só que, como todo o resto do Brasil, ultimamente minha TV só fica ligada na TV Senado, na TV Justiça, na Globonews. Eu estou chegando ao cúmulo da audiência absurda. Eu assisto a CPI da hora em que começa à hora em que termina. Então eu estou esperando porque cada dia a gente tem uma novidade.

Folha - Você está perplexa?
Paloma -
[rindo] Você não vai me pegar.

Folha - Você se arrepende?
Paloma -
De jeito nenhum. Meu depoimento foi pré-isso tudo. Mas só isso que eu já te falei é perigoso. Você pode usar isso de uma maneira torta, já pode dar uma leitura equivocada. Eu realmente não quero dar essa declaração agora.


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