São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

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ARTE/"RIFIFI"/"BRINQUEDO PROIBIDO"

Filmes evidenciam "exilados" do cinema

TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

A história do cinema noir é feita de exílios. O de cineastas europeus que, foragidos do hitlerismo, foram parar em Hollywood. E também, como prova a trajetória do americano de nome afrancesado Jules Dassin, o de cineastas de Hollywood que, foragidos do macarthismo, foram parar na Europa.
Vítima da capitulação de seu colega Edward Dmytryk, convertido à histeria de caça aos comunistas, Dassin teve destino inverso ao de seu delator. Enquanto Dmytryk voltava à ativa, perdendo aos poucos o prestígio que lhe restava, Dassin, exilado na França, penou quatro anos desempregado (por conta da pressão exercida pelos políticos americanos sobre os produtores franceses), mas deu a volta por cima a partir da estréia de "Rififi" (lançado em DVD pela Aurora).
O melhor da história é que, em "Rififi" (1955), quem faz o papel do delator, um vaidoso arrombador de cofres italiano, é o próprio Dassin. O diretor, que inovara o noir americano com o realismo de "Cidade Nua" (filme de que Weegee, o famoso fotógrafo dos flagrantes urbanos, foi consultor) e com obras-primas como "Sombras do Mal" (1950), chega despretensiosamente, na França, ao melhor de sua arte na seqüência do assalto de "Rififi", em que a trilha sonora de Georges Auric é interrompida por 30 minutos do mais silencioso suspense.
Seqüência que levaria François Truffaut a dizer: "A pior novela policial que já li [o romance original de Auguste Le Breton], Dassin transformou no melhor filme de assalto que já vi".
Dassin não chegava a ser um autor, mas era o tipo de cineasta que se prendia ao cinema por um fio, o que gerava a simpatia de Truffaut e sua turma, a geração da "política dos autores". O mesmo não valia para René Clément, o diretor de "Brinquedo Proibido" (1952), também lançado em DVD pela Aurora.
Clément tinha todos os atributos para se tornar o inimigo número um da turma de Truffaut: não possuía estilo próprio, era oportunista e erigira carreira em cima do mito da Resistência e da imagem falsa de uma França vitoriosa no pós-guerra. "Açougueiro", "simulador" e "corrompido" eram qualificativos que Truffaut lhe reservava. "Brinquedo Proibido", obra que o tempo castigou, corrobora especialmente uma dessas críticas que se faziam aos filmes da chamada tradição de qualidade do cinema francês: a de que seus realizadores desprezam seus personagens, postando-se sempre muito acima deles.


Rififi
    
Direção: Jules Dassin
Brinquedo Proibido
  
Direção: René Clément
Lançamentos: Aurora
Quanto: R$ 39,50, cada um (preço sugerido)



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