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ARTE/"RIFIFI"/"BRINQUEDO PROIBIDO"
Filmes evidenciam "exilados" do cinema
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
A história do cinema noir é
feita de exílios. O de cineastas europeus que, foragidos do hitlerismo, foram parar em Hollywood. E também, como prova a
trajetória do americano de nome
afrancesado Jules Dassin, o de cineastas de Hollywood que, foragidos do macarthismo, foram parar
na Europa.
Vítima da capitulação de seu colega Edward Dmytryk, convertido
à histeria de caça aos comunistas,
Dassin teve destino inverso ao de
seu delator. Enquanto Dmytryk
voltava à ativa, perdendo aos poucos o prestígio que lhe restava,
Dassin, exilado na França, penou
quatro anos desempregado (por
conta da pressão exercida pelos
políticos americanos sobre os
produtores franceses), mas deu a
volta por cima a partir da estréia
de "Rififi" (lançado em DVD pela
Aurora).
O melhor da história é que, em
"Rififi" (1955), quem faz o papel
do delator, um vaidoso arrombador de cofres italiano, é o próprio
Dassin. O diretor, que inovara o
noir americano com o realismo
de "Cidade Nua" (filme de que
Weegee, o famoso fotógrafo dos
flagrantes urbanos, foi consultor)
e com obras-primas como "Sombras do Mal" (1950), chega despretensiosamente, na França, ao
melhor de sua arte na seqüência
do assalto de "Rififi", em que a trilha sonora de Georges Auric é interrompida por 30 minutos do
mais silencioso suspense.
Seqüência que levaria François
Truffaut a dizer: "A pior novela
policial que já li [o romance original de Auguste Le Breton], Dassin
transformou no melhor filme de
assalto que já vi".
Dassin não chegava a ser um autor, mas era o tipo de cineasta que
se prendia ao cinema por um fio,
o que gerava a simpatia de Truffaut e sua turma, a geração da
"política dos autores". O mesmo
não valia para René Clément, o diretor de "Brinquedo Proibido"
(1952), também lançado em DVD
pela Aurora.
Clément tinha todos os atributos para se tornar o inimigo número um da turma de Truffaut:
não possuía estilo próprio, era
oportunista e erigira carreira em
cima do mito da Resistência e da
imagem falsa de uma França vitoriosa no pós-guerra. "Açougueiro", "simulador" e "corrompido"
eram qualificativos que Truffaut
lhe reservava. "Brinquedo Proibido", obra que o tempo castigou,
corrobora especialmente uma
dessas críticas que se faziam aos
filmes da chamada tradição de
qualidade do cinema francês: a de
que seus realizadores desprezam
seus personagens, postando-se
sempre muito acima deles.
Rififi
Direção: Jules Dassin
Brinquedo Proibido
Direção: René Clément
Lançamentos: Aurora
Quanto: R$ 39,50, cada um (preço
sugerido)
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