São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

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Vendido em "feirão", DVD comprova popularidade

Caio Guatelli/Folha Imagem
Consumidores avaliam ofertas em "feirão de DVDs", em SP; "Dr. Fantástico" foi primeiro a esgotar


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Domingo de sol. Sacola listrada nas mãos, o freguês examina o produto. Numa barraca, em outra e outra.
O maior sucesso da estação é um clássico: "Doutor Fantástico" (1964), do norte-americano Stanley Kubrick (1928-1999), primeiro a esgotar.
O ambiente de feira escolhido pela rede de locadoras paulista 2001 Vídeo para sua promoção de venda de DVDs reflete a popularização do produto no Brasil.
O salto no número de unidades de DVD alugados e vendidos no país é de 105 mil no início de sua comercialização (1998) para 16,3 milhões no ano passado, segundo dados da UBV (União Brasileira de Vídeo), divulgados pela revista especializada "Ver Vídeo".
"Compro clássicos que não vi ou que vi há muito tempo. Os [filmes] recentes que, por alguma razão, perdi no cinema, eu alugo", diz a socióloga Heloísa Adario, 54, que arrematou seis caixinhas no "feirão", onde os preços variam de R$ 18,50 a R$ 24,90. "Está meio caro", avalia a freguesa.
Questionada se passou a ir menos ao cinema depois do hábito de consumir DVDs, Adario diz: "De jeito nenhum. Gosto muito mais de ir ao cinema do que de ver filmes em casa".
O comportamento do consumidor "não é binário", diz Marcos Vignal, vice-presidente da rede Blockbuster no Brasil. "O que temos visto é que ele alterna opções de consumo: hoje aluga, na semana que vem talvez compre um DVD em promoção", diz.
Traçar o perfil de quem compra filmes, quando, como e por que é um desafio ainda não totalmente vencido pela indústria do cinema.
Estudo com espectadores franceses que adquiriram o hábito de baixar filmes na internet revela que 35% deles compram menos DVDs do que antes; 38% alugam menos filmes, e 21% vão menos ao cinema.
No Brasil, Vignal teve neste ano "uma grata surpresa" em relação à sua previsão de que o consumidor "iria trocar o aluguel de DVD pela compra", já que os preços dos discos estão se tornando mais acessíveis.
Ambos os índices -de compra e aluguel de filmes- seguem em alta. Em junho, a Blockbuster alugou cerca de 1 milhão de DVDs e vendeu em torno de 70 mil unidades no país. O acumulado de vendas no primeiro quadrimestre é 92% maior do que o resultado do mesmo período em 2004.
A previsão, não confirmada, de que o consumidor trocaria o aluguel pela compra foi "uma leitura de outros mercados", diz Vignal. Mercados como o dos Estados Unidos, onde uma boa medida da massificação do consumo de DVDs é o fato de que a rede varejista Wal-Mart tomou da Blockbuster o lugar de principal cliente dos estúdios de filmes. No Brasil, a rede lidera o mercado, com 134 lojas.
Embora possa ser atraente para o consumidor comprar um DVD (a R$ 12,90, por exemplo, na promoção de "seminovos" na Blockbuster), "existem filmes que a pessoa quer ver só uma vez", afirma Vignal.
Mas, para quem não cansa de rever um (mesmo) filme, até o DVD pode ser insuficiente. "Os títulos mais importantes eu tenho em DVD e VHS", diz o professor de filosofia e estética Silvio Moreira Barbosa Jr., 30.
Barbosa Jr. explica que prefere a qualidade de imagem oferecida pelo VHS. "No DVD, acabo vendo explosão epigonal", diz. Ele utiliza o DVD em sessões corriqueiras e reserva as fitas de VHS "para eventos sagrados".
Descontados os fanáticos do VHS, o empresário Fred Botelho, proprietário da 2001 Vídeo, diz: "O DVD é uma paixão como eu nunca vi antes neste mercado".
A comparação de Botelho é com o período em que apenas o VHS existia no mercado brasileiro, sem despertar no consumidor o hábito de colecionar filmes, presente em outros países. "Aqui, compravam-se somente os filmes infantis", diz.
Embora identifique a "coqueluche" do DVD, Botelho acha que é "inconcebível, uma estupidez, uma tentativa de encontrar um bode expiatório", associar o aumento do consumo de DVDs com o fenômeno mundial da queda de público nos cinemas, observado neste ano.
O aumento da venda de títulos e aparelhos de DVD, contudo, deve seguir em bom ritmo. A estimativa do mercado é que o Brasil encerre 2005 com um parque instalado de DVDs entre 10 milhões e 12 milhões de aparelhos.


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