|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CENAS DA VIDA
Mercado oferece documentação de histórias pessoais por meio de obras feitas como se fossem para o cinema
Produtoras filmam memórias de famílias
MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Não é de hoje que as recordações de família ganham impressões em vídeo caseiros, geralmente amadores. Surge no mercado
uma maneira de documentar histórias, trajetórias e momentos de
vida por meio de filmes profissionais -com roteiro, direção, fotografia, trilha sonora e edição-,
como se fossem para o cinema.
Segundo produtores de São
Paulo e do Rio de Janeiro ouvidos
pela Folha, o número de produções familiares cresceu nos últimos anos graças ao acesso à tecnologia e à disposição de profissionais do ramo. "É um mercado
em expansão. Usamos fotos, vídeos feitos pela própria família e,
se solicitado, tomamos depoimentos de pessoas diretamente ligadas", afirma Ricardo Langer,
32, da produtora carioca Vídeo
Shack. "É uma opção aos vídeos
dos casamenteiros, que são longos e não despertam o interesse
do espectador. Ninguém assiste."
Langer fez um documentário
sobre o pai do empresário Paulo
Monteverde, 57, o industrial Bernardo Monteverde. Sua empresa
tem um museu particular, com
pertences e equipamentos que
simbolizam a carreira do patriarca. "Foi uma idéia minha para homenagear meu pai e fazer uma
surpresa à minha mãe", conta.
Mas nem todo mundo teve a
oportunidade de registrar em
imagens a vida dos familiares para resgatar suas memórias. É o caso do empresário paulista Ariê
Halpern, 58, que diz se arrepender de não ter feito um filme sobre
a bisavó, já morta. Antes de pensar nisso, ele contratou uma produtora para fazer um filme sobre
a mulher, a ex-jogadora de vôlei
Maria Imaculada, 57. "Nos tornamos editores de nossa própria
história", afirma ele, que planeja
contar a história dos pais.
O vídeo para a mulher foi uma
surpresa. Quando ela anunciou
que interromperia a carreira, Halpern saiu em busca das pessoas
com quem ela havia trabalhado.
Mas para ter em casa uma produção "hollywoodiana", ainda é
preciso dispensar uma grande
quantia. Os projetos, cujo custo
pode variar de R$ 10 mil a R$ 50
mil, demoram 20 dias, no mínimo, para serem preparados.
Saul Nahmias, 40, já finalizou
quatro trabalhos familiares em
sua ilha de edição, na Videoclipping, de São Paulo. "O interessante é mostrar o lado humano, muito rico, agindo como uma espécie
de terapia", afirma. Ele, que já trabalhou em "Sobreviventes do Holocausto", dirigido por Steven
Spielberg em 1996, conta que há
regras na hora de tomar depoimentos. "Se a pessoa se emocionar, você não deve consolar, mas
consultá-la se continua se sentindo à vontade para falar", diz.
Nahmias começou a fazer documentários familiares ao lado de
dois amigos, sempre obrigando
os personagens do filme a mexerem no baú de recordações. Um
dos vídeos, da família Steinbruch,
se tornou vedete na produtora.
"Ele conta fatos durante a guerra
que pouca gente sabia", diz.
Em outro filme, a pedido do neto, duas avós -Theresa Chirico
Talan, italiana, e Assunción Preciado Garcia, espanhola- travam um amigável conflito a partir
das receitas que introduziram na
família. A primeira foi uma das
pioneiras a manter um box no
Mercado Municipal de São Paulo,
onde voltou após vários anos para
gravar o documentário.
Para o produtor Roberto Ferreira, 51, da paulista Image Box (em
2004 ele fez um filme da matriarca
de uma família apenas com fotos
antigas), as regras do vídeo familiar são as mesmas do institucional. Passa pelo roteirista, submete
à aprovação do cliente e, depois,
inicia as filmagens.
Texto Anterior: Vendido em "feirão", DVD comprova popularidade Próximo Texto: Quadrinhos: Super-heróis invadem prédio da Bienal Índice
|