São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

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CENAS DA VIDA

Mercado oferece documentação de histórias pessoais por meio de obras feitas como se fossem para o cinema

Produtoras filmam memórias de famílias

MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Não é de hoje que as recordações de família ganham impressões em vídeo caseiros, geralmente amadores. Surge no mercado uma maneira de documentar histórias, trajetórias e momentos de vida por meio de filmes profissionais -com roteiro, direção, fotografia, trilha sonora e edição-, como se fossem para o cinema.
Segundo produtores de São Paulo e do Rio de Janeiro ouvidos pela Folha, o número de produções familiares cresceu nos últimos anos graças ao acesso à tecnologia e à disposição de profissionais do ramo. "É um mercado em expansão. Usamos fotos, vídeos feitos pela própria família e, se solicitado, tomamos depoimentos de pessoas diretamente ligadas", afirma Ricardo Langer, 32, da produtora carioca Vídeo Shack. "É uma opção aos vídeos dos casamenteiros, que são longos e não despertam o interesse do espectador. Ninguém assiste."
Langer fez um documentário sobre o pai do empresário Paulo Monteverde, 57, o industrial Bernardo Monteverde. Sua empresa tem um museu particular, com pertences e equipamentos que simbolizam a carreira do patriarca. "Foi uma idéia minha para homenagear meu pai e fazer uma surpresa à minha mãe", conta.
Mas nem todo mundo teve a oportunidade de registrar em imagens a vida dos familiares para resgatar suas memórias. É o caso do empresário paulista Ariê Halpern, 58, que diz se arrepender de não ter feito um filme sobre a bisavó, já morta. Antes de pensar nisso, ele contratou uma produtora para fazer um filme sobre a mulher, a ex-jogadora de vôlei Maria Imaculada, 57. "Nos tornamos editores de nossa própria história", afirma ele, que planeja contar a história dos pais.
O vídeo para a mulher foi uma surpresa. Quando ela anunciou que interromperia a carreira, Halpern saiu em busca das pessoas com quem ela havia trabalhado.
Mas para ter em casa uma produção "hollywoodiana", ainda é preciso dispensar uma grande quantia. Os projetos, cujo custo pode variar de R$ 10 mil a R$ 50 mil, demoram 20 dias, no mínimo, para serem preparados.
Saul Nahmias, 40, já finalizou quatro trabalhos familiares em sua ilha de edição, na Videoclipping, de São Paulo. "O interessante é mostrar o lado humano, muito rico, agindo como uma espécie de terapia", afirma. Ele, que já trabalhou em "Sobreviventes do Holocausto", dirigido por Steven Spielberg em 1996, conta que há regras na hora de tomar depoimentos. "Se a pessoa se emocionar, você não deve consolar, mas consultá-la se continua se sentindo à vontade para falar", diz.
Nahmias começou a fazer documentários familiares ao lado de dois amigos, sempre obrigando os personagens do filme a mexerem no baú de recordações. Um dos vídeos, da família Steinbruch, se tornou vedete na produtora. "Ele conta fatos durante a guerra que pouca gente sabia", diz.
Em outro filme, a pedido do neto, duas avós -Theresa Chirico Talan, italiana, e Assunción Preciado Garcia, espanhola- travam um amigável conflito a partir das receitas que introduziram na família. A primeira foi uma das pioneiras a manter um box no Mercado Municipal de São Paulo, onde voltou após vários anos para gravar o documentário.
Para o produtor Roberto Ferreira, 51, da paulista Image Box (em 2004 ele fez um filme da matriarca de uma família apenas com fotos antigas), as regras do vídeo familiar são as mesmas do institucional. Passa pelo roteirista, submete à aprovação do cliente e, depois, inicia as filmagens.


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