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Rezende quer levar "medo coletivo" do PCC ao cinema
"Salve Geral" vai contar drama dos ataques em SP por meio de história individual
Diretor carioca pretende
usar imagens documentais
de emissoras; para ele, "elas
lembram as ondas humanas
dos arrastões nos anos 80"
DA REPORTAGEM LOCAL
Por "vício profissional", o cineasta Sérgio Rezende enxergou "algo plástico" nas imagens
que ele viu pela televisão de
uma São Paulo deserta, sob os
ataques do PCC, em maio do
ano passado.
"Elas me lembraram, por
oposição, as "ondas" humanas
que os arrastões produziam
nas praias do Rio do Janeiro,
na década de 80", afirma o
diretor carioca.
Lá, como cá, tratava-se de
uma representação gráfica do
medo coletivo, que Rezende
quer agora reproduzir no cinema, com o longa-metragem
"Salve Geral -0O Dia em que
São Paulo Parou".
Antes de se aproximar do
momento em que eclodem os
ataques -dia 12 de maio-, o filme irá acompanhar a trajetória
de uma mulher madura que,
surpreendida pela prisão do filho, tenta livrá-lo da cadeia.
Foi a maneira que Rezende
encontrou de abordar o tema
geral por uma perspectiva particular, seguindo uma lição do
veterano cineasta Alberto Cavalcanti (1897-1982). "O Cavalcanti dizia: "Faça um filme sobre uma carta, não faça um filme sobre os Correios'", cita.
Olho do furacão
A protagonista, conta o diretor, "subitamente entra em
contato com um mundo que
jamais imaginou existir, quando vê o filho preso e tenta
reduzir sua pena".
À medida que a história avança, "as coisas vão se afunilando
para aquele fim de semana de
maio, quando ele teria indulto
para o Dia das Mães, e ela se vê
no olho do furacão".
A elaboração do roteiro está a
cargo de Patrícia Andrade, co-autora, com Carolina Kotscho,
de "2 Filhos de Francisco", de
Breno Silveira, o maior sucesso
nas salas no país em 2005.
A distribuidora Columbia,
que lançou o longa de Silveira,
abraçou também o projeto de
Rezende. Pouco íntimo de São
Paulo, o diretor não teme que a
falta de familiaridade com a
metrópole lhe imponha dificuldades adicionais na tarefa de
recriar um dos mais marcantes
momentos na vida da cidade.
Fazendo a contabilidade dos
11 longas que já realizou, ele
conclui: "Filmei muito pouco
na minha cidade". Estados do
Nordeste e cidades do interior
de Minas Gerais serviram de
cenários para vários de seus
títulos, como "O Homem da
Capa Preta", "Guerra de Canudos", "Lamarca" e os mais recentes "Onde Anda Você" e
"Zuzu Angel".
Orçado em cerca de R$ 6 milhões, "Salve Geral - O Dia em
que São Paulo Parou" tem filmagens previstas também em
Ciudad del Leste (Paraguai), região da Tríplice Fronteira suspeita de ser base de grupos criminosos e também terroristas.
Rezende pretende utilizar
em seu filme imagens documentais dos ataques, pertencentes às emissoras de TV, à
maneira do inglês Stephen
Frears em "A Rainha", em que
incorporou imagens de arquivo
dos funerais de Lady Dy.
Comparando os recursos que
terá numa produção de R$ 6
milhões com os de filmes menos onerosos que já dirigiu, como "Onde Anda Você", Rezende diz: "Já fiz [filmes ao estilo]
banquinho e violão, mas me dá
prazer ver a orquestra tocar".
(SILVANA ARANTES)
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