São Paulo, terça-feira, 31 de julho de 2007

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Rezende quer levar "medo coletivo" do PCC ao cinema

"Salve Geral" vai contar drama dos ataques em SP por meio de história individual

Diretor carioca pretende usar imagens documentais de emissoras; para ele, "elas lembram as ondas humanas dos arrastões nos anos 80"

DA REPORTAGEM LOCAL

Por "vício profissional", o cineasta Sérgio Rezende enxergou "algo plástico" nas imagens que ele viu pela televisão de uma São Paulo deserta, sob os ataques do PCC, em maio do ano passado.
"Elas me lembraram, por oposição, as "ondas" humanas que os arrastões produziam nas praias do Rio do Janeiro, na década de 80", afirma o diretor carioca.
Lá, como cá, tratava-se de uma representação gráfica do medo coletivo, que Rezende quer agora reproduzir no cinema, com o longa-metragem "Salve Geral -0O Dia em que São Paulo Parou".
Antes de se aproximar do momento em que eclodem os ataques -dia 12 de maio-, o filme irá acompanhar a trajetória de uma mulher madura que, surpreendida pela prisão do filho, tenta livrá-lo da cadeia.
Foi a maneira que Rezende encontrou de abordar o tema geral por uma perspectiva particular, seguindo uma lição do veterano cineasta Alberto Cavalcanti (1897-1982). "O Cavalcanti dizia: "Faça um filme sobre uma carta, não faça um filme sobre os Correios'", cita.

Olho do furacão
A protagonista, conta o diretor, "subitamente entra em contato com um mundo que jamais imaginou existir, quando vê o filho preso e tenta reduzir sua pena".
À medida que a história avança, "as coisas vão se afunilando para aquele fim de semana de maio, quando ele teria indulto para o Dia das Mães, e ela se vê no olho do furacão".
A elaboração do roteiro está a cargo de Patrícia Andrade, co-autora, com Carolina Kotscho, de "2 Filhos de Francisco", de Breno Silveira, o maior sucesso nas salas no país em 2005.
A distribuidora Columbia, que lançou o longa de Silveira, abraçou também o projeto de Rezende. Pouco íntimo de São Paulo, o diretor não teme que a falta de familiaridade com a metrópole lhe imponha dificuldades adicionais na tarefa de recriar um dos mais marcantes momentos na vida da cidade.
Fazendo a contabilidade dos 11 longas que já realizou, ele conclui: "Filmei muito pouco na minha cidade". Estados do Nordeste e cidades do interior de Minas Gerais serviram de cenários para vários de seus títulos, como "O Homem da Capa Preta", "Guerra de Canudos", "Lamarca" e os mais recentes "Onde Anda Você" e "Zuzu Angel".
Orçado em cerca de R$ 6 milhões, "Salve Geral - O Dia em que São Paulo Parou" tem filmagens previstas também em Ciudad del Leste (Paraguai), região da Tríplice Fronteira suspeita de ser base de grupos criminosos e também terroristas.
Rezende pretende utilizar em seu filme imagens documentais dos ataques, pertencentes às emissoras de TV, à maneira do inglês Stephen Frears em "A Rainha", em que incorporou imagens de arquivo dos funerais de Lady Dy.
Comparando os recursos que terá numa produção de R$ 6 milhões com os de filmes menos onerosos que já dirigiu, como "Onde Anda Você", Rezende diz: "Já fiz [filmes ao estilo] banquinho e violão, mas me dá prazer ver a orquestra tocar". (SILVANA ARANTES)


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