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"ROMEU & JULIETA" e "HAMLET"
Entre mortos e feridos, salva-se o Shakespeare popular
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Caviar para o vulgo, diria
Hamlet. Para um público fiel,
que espera horas na fila, o teatro
do Sesi evita o menosprezo de ser
popularesco e vem oferecendo
um teatro de elite para todos. Para
isso, nada melhor que Shakespeare, que tem a técnica de agradar a
todas as platéias.
Shakespeare funciona sobretudo, como no caso deste "Romeu
& Julieta", se a tradução não tem
pudor de traduzir os trocadilhos
chulos ao lado da densa poesia, se
a luta cênica amarra a dinâmica
urgente, se a direção valoriza
igualmente todos os personagens.
William Pereira, além da direção,
cria uma dura Verona de muros
cinzas e intransponíveis, remetendo a São Paulo, com a eloquência renascentista da luz de
Domingos Quintiliano.
Neste contexto de marcas sutis e
precisas, Silvia Poggetti enquanto
ama e o Pedro de Virgina Buckowsky irradiam simpatia, Ismael
Caneppele como Benvolio e André Correa como pai de Julieta sabem dar uma marca pessoal a
personagens em geral desperdiçados, e Mário Condor (Paris) e Renato Scapin (Príncipe), cheios de
dignidade, evitam o convencional. Apenas Fabiano Augusto, o
Mercucio, e Carlos Palma, o frei,
jogam sozinhos e acabam caindo
no histrionismo.
Ana Fuser constrói a beleza de
Julieta em cena, sem se apoiar em
idealizações: é uma adolescente
de hoje, entre a birra e o desejo,
com quem a platéia pode se identificar. Sensual e vigorosa quando
necessário, lhe resta aprofundar a
fragilidade, na cena do balcão, por
exemplo. Edu Reyes faz um Romeu eficiente, ao qual faltaria talvez uma marca pessoal. De todo
modo, diante de uma platéia adolescente que não perdoa o menor
deslize, e sem facilitar em nada os
desafios do texto, a montagem
tem gabarito para ser o inesquecível primeiro Shakespeare.
Por outro lado, "Hamlet" sucumbe ao convencionalismo.
Gustavo Machado sabe incorporar marcas e texto, expondo a dor
de Laertes, e Selma Egrei como
rainha Gertrudes tem belo momento, narrando com pungente
simplicidade a morte de Ofélia.
Mas em geral os atores declamam monólogos superpostos, a
partir de uma concepção simplificada demais de cada personagem:
desde o primeiro momento o rei
Cláudio é um crápula libidinoso,
Polônio inspira tédio, Ofélia já
tem um olhar de louca. Um cenário que não ultrapassa uma primeira idéia interessante e um figurino de raro mau gosto não ajudam o ritmo que se arrasta.
Hamlet, personagem dos mais
difíceis do teatro ocidental, costuma proporcionar a quem o interpreta saudável insatisfação consigo mesmo, perplexidade diante
do difícil ofício do ator. Marcos
Damigo, apoiando-se em clichês,
desperdiça a oportunidade.
De toda forma, quando o bem
coreografado duelo final acorda a
platéia, a história acaba conseguindo ser contada, mesmo que
de forma esquemática. Entre
mortos e feridos, salva-se Shakespeare.
Romeu & Julieta
Direção: William Pereira
Com: Edu Reyes, Ana Fuser
Quando: sáb. e dom., às 15h
Hamlet
Direção: Francisco Medeiros
Com: Selma Egrei, Gustavo Machado
Quando: de qui. a dom., às 20h
Onde: Teatro Popular do Sesi (av.
Paulista, 1.313, São Paulo, tel. 0/xx/11/
3284-2268)
Quanto: grátis (retirar ingresso com 1h
de antecedência)
Patrocinador: Sesi
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