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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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LIVROS

DIREITA, VOLVER
TREASON


Aos 39 anos, advogada Ann Coulter se transforma em fenômeno literário ao defender Doutrina Bush


GABRIELA CARELLI
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

Linda, loira e com pinta de top model, a advogada americana Ann Coulter, 39, é o mais novo fenômeno da mídia americana.
Nas últimas semanas, ela concedeu 160 entrevistas e apareceu nos "talk shows" mais concorridos dos EUA. Das páginas da "Time" aos programas matutinos das redes de televisão ABC e CNN -e também ao horário nobre-, disputando espaço com celebridades no "Larry King Show" e com as notícias sobre o Iraque, ela está em todas. O que faz de Coulter uma superstar? Não são os dotes físicos -que ela faz questão de ressaltar com o modelito minissaia e blusa decotada-, tampouco seu talento nos tribunais.
A razão do sucesso é o livro "Treason, Liberal Treachery from Cold War to War on Terrorism" ("Traição, a Traição Liberal da Guerra Fria a Guerra ao Terrorismo", em português) -ainda sem previsão de lançamento no Brasil.
Terceira da breve carreira literária de Coulter, a obra, que alcançou a quinta posição na lista dos mais vendidos do jornal "The New York Times", é uma das mais ardentes defesas já escritas sobre a Doutrina Bush e os republicanos. A autora esmiuça os últimos 60 anos de história para provar que os conservadores sempre governaram a favor da América, enquanto os liberais só sacrificaram os interesses do país.
A primeira impressão que se tem do livro é de que se trata de uma sátira à esquerda americana. Ela abusa de frases de efeito e vocifera contra os democratas.
A autora faz ainda uma apologia a Ronald Reagan, que, diz ela, foi ridicularizado pelos liberais, apesar de ter posto fim à Guerra Fria, e dedica um capítulo na defesa do senador Joe McCarthy -que instaurou a política do medo nos anos 50 com sua caçada aos comunistas. "Ele foi acusado sem provas. Boa parte dos altos funcionários públicos era pró-soviéticos", diz. Arnold Beichman, do "Washington Times", contra-atacou. "Não importa se havia espiões. Ela se esqueceu das vidas inocentes que Joe arruinou?"
Mas o livro não é apenas um amontoado de provocações ou um mero tratado de defesa dos republicanos. É diferente de "Stupid White Man", de Michael Moore, uma sátira ao governo Bush e seu staff. "Treason" baseia-se em argumentos históricos, apresentados em tom inflamado. Aclamada como voz poderosa da nova geração da direita americana, Coulter é graduada em direito pela Universidade de Michigan e já foi conselheira no Comitê de Justiça do Senado.
O livro está sendo rotulado como uma das bandeiras literárias do chamado neoconservadorismo e parece responder a uma demanda cada vez maior dos americanos pela retórica republicana e pelas promessas de segurança.
No dia do lançamento de "Treason", Coulter desbancou a senadora Hillary Clinton e seu "Living History". Tomou o segundo lugar de vendas na Amazon, colocação de Hillary, que despencou para a oitava posição. Coulter apareceu na mídia na ocasião do escândalo Mônica Lewinsky. Escreveu seu primeiro livro, "High Crimes and Misdemeanors", no qual faz do ex-presidente Bill Clinton sua primeira vítima "da esquerda".
Desde então, ela não pára de crescer -e aparecer. O livro anterior de Coulter, "Slander, Liberal Lies about the American Right", sobre a parcialidade da imprensa americana na cobertura do governo Bush, ficou em primeiro lugar na lista do "The New York Times" durante todo o verão de 2002.
Coulter tem resposta para tudo e esquece a boa educação se percebe que está sendo tratada com ironia. Questionada sobre como um muçulmano viajaria caso sua idéia de proibi-los de usar avião vingasse, respondeu: "Com seus tapetes, ora bolas".
Também da imagem Coulter não descuida. Esforça-se para que nada afete sua pose de americana rica, bonita, e bem-sucedida. É impossível vê-la com um fio de cabelo fora do lugar. Mobiliza a atenção da ala masculina ao dizer que escreve seus artigos como Carrie, a personagem do seriado "Sex and the City" -só com as roupas de baixo. E se esmera no quesito valores morais para conquistar as donas-de-casa. É contra o aborto e o homossexualismo.
De Washington, ela concedeu a seguinte entrevista à Folha.
 

Folha - O presidente Bush vem sendo criticado cada vez mais pela política adotada depois da guerra no Iraque. Qual sua avaliação?
Ann Coulter -
Os resultados da guerra são ótimos. Falava-se de uma guerra longa e sangrenta. Foi rápida e eficaz. Há esforços para se implantar a democracia no Iraque e também um diálogo para resolver a questão de Israel. Uday e Qusay estão mortos.
Os americanos estão percebendo que os republicanos são mais confiáveis na hora de defender a América. Ou será que eles prefeririam a sugestão do ex-presidente Bill Clinton, de gastar o dinheiro usado no Afeganistão e na busca de Bin Laden, que liderou o ataque às torres gêmeas, no combate à Aids? Clinton usou 1,5 bilhão de dólares no combate à Aids. Quando é necessário, os americanos nunca têm medo.

Folha - Mas há muitas críticas em relação ao jeito de o presidente Bush governar.
Coulter -
Isso será prestigiado no futuro. Os liberais nunca vão admitir que Bush está fazendo um bom governo. Eles odeiam Bush justamente porque percebem isso, o que os torna mais fragilizados ainda. Foi o mesmo que aconteceu com o senador Joe McCarthy, acusado injustamente, mas que ajudou a América a se livrar do comunismo.

Folha - Você defende o senador McCarthy. Por quê?
Coulter -
McCarthy não foi o primeiro, mas com certeza está entre os grandes políticos que salvaram nosso país do comunismo. Antes dele, Richard Nixon (no fim dos anos 40 e início dos 50, deputado pela Califórnia), iniciou o processo, lançando-se contra o traidor Alger Hiss. Naquela época, boa parte dos altos funcionários do governo era pró-soviéticos e há provas disso. McCarthy dedicou sua vida, reputação e nome para livrar a América do comunismo.

Folha - Você acha que os Estados Unidos devem declarar guerra contra outros países que o ameacem?
Coulter -
Sim. Contra a Coréia do Norte, caso o ditador Kim Jong-il continue com o programa nuclear. Síria e Irã também. Ah, ia me esquecendo da França [em tom de brincadeira].


TREASON, LIBERAL TREACHERY FROM COLD WAR TO WAR ON TERRORISM. De: Ann Coulter. Editora: Crown Publishers. Quanto: R$ 80, em média. Onde encomendar: www.livcultura.com.br ou www.amazon.com.


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