|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Morre Mahfuz, 1º árabe a receber o Nobel de Literatura
Autor da "Trilogia do Cairo" tinha 94 anos e estava internado desde 19 de julho, depois de cair e ferir a cabeça
Em 1994, um militante islâmico tentou matar o escritor com facadas, acusando-o de ofender a religião muçulmana
12.fev.2006 - Cris Bouroncle/France Presse
|
Mahfuz participa de leitura num de seus últimos encontros semanais com fãs, em hotel no Cairo |
DA REPORTAGEM LOCAL
Primeiro e, até aqui, único escritor árabe laureado com o
Prêmio Nobel de Literatura,
em 1988, o egípcio Nagib Mahfuz morreu ontem, pela manhã,
aos 94 anos, depois de duas paradas cardíacas. Mahfuz estava
internado desde o dia 19 de julho no Hospital Policial do bairro de Agouza, no Cairo. O corpo
do escritor será sepultado hoje,
ao meio-dia, na mesquita Al-Rashdan, no bairro Madinet-Nasr, na capital egípcia.
No início de agosto, Mahfuz
havia sido submetido a uma cirurgia na cabeça após cair e ferir-se enquanto caminhava. No
dia 14, ele foi transferido para a
Unidade de Tratamento Intensivo, após uma súbita queda de
pressão e complicações pulmonares e renais. Mahfuz também
chegou a fazer uma operação
por conta de uma hemorragia
em uma úlcera no cólon.
O ditador egípcio Hosni Mubarak homenageou Mahfuz,
ressaltando que o escritor possibilitou o reconhecimento "da
cultura e literatura árabes no
mundo". Mubarak disse que
Mahfuz "expressava, com sua
criatividade, os valores compartilhados por todos, valores
de iluminação e tolerância, que
rejeitam o extremismo".
A Casa Branca divulgou um
comunicado em que o presidente George W. Bush, em nome do povo americano, se solidarizou com a família de Mahfuz, "um artista extraordinário,
que transmitiu ao mundo a riqueza da história e sociedade
egípcias".
Atentado
O Prêmio Nobel trouxe notoriedade mundial a Mahfuz, que
já era um autor prestigiado no
Oriente Médio e uma importante voz a favor da moderação
e da tolerância religiosa.
A fama e o engajamento político trouxeram também suas
conseqüências negativas: em
1994, então aos 82 anos, Mahfuz sofreu um atentado, quando saía de sua casa, no Cairo.
Um militante islâmico o feriu a
facadas, acusando-o de atacar a
religião muçulmana em seus
romances. O autor teve seqüelas na visão, na audição e no
braço direito que prejudicaram
sua escrita.
Mahfuz escreveu mais de 50
livros, e suas obras foram traduzidas para mais de 25 línguas. Seu trabalho mais famoso
é a "Trilogia do Cairo" (1956-1957), que descreve um bairro
islâmico de mais de mil anos,
na capital egípcia, onde ele nasceu. No Brasil, é possível encontrar "Entre dois Palácios"
(da trilogia, pela Record), "Noites das Mil e uma Noites" (Cia.
das Letras) e "O Beco do Pilão"
(Planeta).
Texto Anterior: Alencastro ataca economistas da ditadura Próximo Texto: Artigo: Inovador, escritor egípcio foi o pai do romance árabe Índice
|