São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2006

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Morre Mahfuz, 1º árabe a receber o Nobel de Literatura

Autor da "Trilogia do Cairo" tinha 94 anos e estava internado desde 19 de julho, depois de cair e ferir a cabeça

Em 1994, um militante islâmico tentou matar o escritor com facadas, acusando-o de ofender a religião muçulmana

12.fev.2006 - Cris Bouroncle/France Presse
Mahfuz participa de leitura num de seus últimos encontros semanais com fãs, em hotel no Cairo


DA REPORTAGEM LOCAL

Primeiro e, até aqui, único escritor árabe laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, em 1988, o egípcio Nagib Mahfuz morreu ontem, pela manhã, aos 94 anos, depois de duas paradas cardíacas. Mahfuz estava internado desde o dia 19 de julho no Hospital Policial do bairro de Agouza, no Cairo. O corpo do escritor será sepultado hoje, ao meio-dia, na mesquita Al-Rashdan, no bairro Madinet-Nasr, na capital egípcia.
No início de agosto, Mahfuz havia sido submetido a uma cirurgia na cabeça após cair e ferir-se enquanto caminhava. No dia 14, ele foi transferido para a Unidade de Tratamento Intensivo, após uma súbita queda de pressão e complicações pulmonares e renais. Mahfuz também chegou a fazer uma operação por conta de uma hemorragia em uma úlcera no cólon.
O ditador egípcio Hosni Mubarak homenageou Mahfuz, ressaltando que o escritor possibilitou o reconhecimento "da cultura e literatura árabes no mundo". Mubarak disse que Mahfuz "expressava, com sua criatividade, os valores compartilhados por todos, valores de iluminação e tolerância, que rejeitam o extremismo".
A Casa Branca divulgou um comunicado em que o presidente George W. Bush, em nome do povo americano, se solidarizou com a família de Mahfuz, "um artista extraordinário, que transmitiu ao mundo a riqueza da história e sociedade egípcias".

Atentado
O Prêmio Nobel trouxe notoriedade mundial a Mahfuz, que já era um autor prestigiado no Oriente Médio e uma importante voz a favor da moderação e da tolerância religiosa.
A fama e o engajamento político trouxeram também suas conseqüências negativas: em 1994, então aos 82 anos, Mahfuz sofreu um atentado, quando saía de sua casa, no Cairo. Um militante islâmico o feriu a facadas, acusando-o de atacar a religião muçulmana em seus romances. O autor teve seqüelas na visão, na audição e no braço direito que prejudicaram sua escrita.
Mahfuz escreveu mais de 50 livros, e suas obras foram traduzidas para mais de 25 línguas. Seu trabalho mais famoso é a "Trilogia do Cairo" (1956-1957), que descreve um bairro islâmico de mais de mil anos, na capital egípcia, onde ele nasceu. No Brasil, é possível encontrar "Entre dois Palácios" (da trilogia, pela Record), "Noites das Mil e uma Noites" (Cia. das Letras) e "O Beco do Pilão" (Planeta).


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