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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br
A arte de estragar as roupas
Figurino do novo filme de Fernando Meirelles é produzido em São Paulo
Nos galpões da produtora 02
Filmes, em São Paulo, atrás de
sete chaves, trabalha a todo vapor a equipe de produção de
"Blindness" (Cegueira), o novo
filme de Fernando Meirelles.
A Folha teve acesso ao local,
para conhecer e fotografar o
trabalho da equipe que prepara
o figurino que será usado nas
filmagens em São Paulo e Montevidéu, em setembro.
"Blindness" foi adaptado do
livro "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago, e conta
a história de uma epidemia de
cegueira que atinge os habitantes de uma cidade, instalando o
caos em suas vidas. Como a cidade é num lugar indefinido,
Meirelles vai compô-la com cenas feitas em diferentes países.
Meirelles é atualmente o
mais conceituado cineasta brasileiro no exterior. Por conjugar elementos de fábula política e suspense apocalíptico,
"Blindness" tem despertado
muita curiosidade na crítica.
Além disso, o filme reúne um
elenco de estrelas. Os protagonistas são interpretados por
Julianne Moore, Mark Ruffalo
(de "Zodíaco"), Gael García
Bernal, Danny Glover, além da
brasileira Alice Braga. Eles estarão em São Paulo para as filmagens, cujas datas e locações
exatas a produção não revela.
Para preparar as quase 1.000
roupas das cenas brasileiras e
uruguaias, veio a São Paulo a
"breakdown artist" Karen Durrant, assistente da figurinista
do filme, Renée April -a mesma de "Uma Noite no Museu".
Durrant é encarregada de comandar a equipe que produz o
envelhecimento e o estrago
("breakdown") das peças, o que
exige que as roupas novas sejam lavadas para tirar a goma,
tingidas e depois pintadas à
mão, como se faz numa pintura, a fim de simular sujeira. "É
bem diferente de vestir vikings,
mas precisamos ser igualmente criativos", ela diz.
Para a canadense Renée
April, "Blindness" tem um tom
mais filosófico que apocalíptico. "Não é como fazer "O Dia
Depois de Amanhã" [filme de
catástrofe, cujas roupas ela
também criou]. É algo muito
mais sutil e próximo da realidade", disse a figurinista, por telefone, de Toronto, onde começaram as filmagens neste mês.
April dividiu o figurino em
três fases: as peças mais novas
do início do filme; as que serão
usadas 45 dias após a cegueira
se espalhar; e as roupas de três
meses depois, quando a desordem tomou conta da cidade.
Julianne Moore deverá usar
roupas de cores claras no início
do filme. "Depois, as suas peças
ficarão mais e mais cinzas, mas
Julianne sempre usará tons
mais claros que os dos outros,
pois ela é como um anjo no filme", afirmou April.
Nas araras do galpão em São
Paulo, as roupas estão divididas segundo as fases definidas
por April e Meirelles. Numa
parte, estão quase novas. Em
outra, os sinais de sujeira começam a ficar evidentes. Por
fim, há uma série de peças com
manchas ostensivas, que simulam comidas e líquidos derrubados sobre as roupas, o acúmulo de poeira, sangue coagulado, entre outros efeitos.
A maior parte das roupas feitas em São Paulo será usada
por figurantes. As peças que
vestem Moore e outros protagonistas foram produzidas no
Canadá. "É um trabalho complexo, que exige muita técnica", diz Paula Iglecio, da produção do figurino no Brasil.
Na última semana, a equipe
completou um mês de trabalho, diariamente sujando e estragando roupas, sem dó e com
a meticulosidade de artistas.
com VIVIAN WHITEMAN
Moda só quer vender e vender, diz Meirelles
Imagens das vítimas da passagem do furacão Katrina em
Nova Orleans, em 2005, serviram de inspiração ao figurino
de "Blindness", conta o diretor
Fernando Meirelles, na entrevista a seguir, feita por e-mail.
Na sua opinião, a moda pode
até ser uma manifestação cultural, se pensada em décadas.
Mas a produção de duas coleções por ano não revela mais
que a necessidade da indústria
de "vender e vender e vender".
FOLHA - Qual é a importância dos
figurinos para os filmes e, especialmente, para "Blindness"?
FERNANDO MEIRELLES - Se há uma
área que não domino é a do figurino. Basta ver com eu me
visto. Fiasco total. Então, chamo gente boa para esta área
(não que não chame para as outras também). No caso de
"Blindness", a figurinista Renée April apenas me mostra
suas idéias, e eu vou dizendo:
"Sim, sim, sim". A única coisa
que pedi a ela foi que trabalhasse com três níveis de tempo:
roupas novas ou normais; roupas para 45 dias, depois que todo mundo ficou cego; e para
três meses depois. A dificuldade foi evitar que as pessoas parecessem mendigos. Então ela
usou muito tecido sintético e
cores fortes, para parecer que
as roupas estão sujas, mas não
totalmente detonadas. As fotos
de Nova Orleans depois da passagem do furacão Katrina serviram de referência para nós.
FOLHA - Há algum figurino de cinema que lhe marcou?
MEIRELLES - Figurinos de época
sempre chamam mais a atenção. Acho que meu preferido é o
do filme "Rainha Margot" [de
1994, dirigido por Patrice Chéreau, com figurinos de Moidele
Bickel]. Ao menos é o que me
lembro agora: roupa luxuosa,
mas que não foi lavada ou passou por um "dry cleanning" antes de entrar em cena. Acredito
em cada centímetro de tecido
naquele filme. Tem peso.
FOLHA - Como um cineasta, que já
foi publicitário, vê a moda?
MEIRELLES - Sou fraco em moda,
mas dizem que é uma manifestação cultural. Até pode ser, se
olharmos a moda por décadas.
Mas duas coleções novas por
ano é algo que está mais ligado à
necessidade da indústria de
vender e vender e vender.
FETICHES
Kar-Wai filma spot da Lancôme
Cineasta cult, o chinês Wong
Kar-Wai assina o filme publicitário do novo perfume da Lancôme, "Hypnôse Homme", que
chega ao Brasil. A estrela da
campanha é o ator Clive Owen
(de "Closer"), que contracena
com a top Daria Werbowy.
À primeira vista, os 20 segundos do spot parecem repetir os
estereótipos do gênero, sem fazer jus ao talento do diretor de
"Amor à Flor da Pele". Um pouco mais de atenção, porém, e
aparecem as sutilezas que Kar-Wai conseguiu criar, mesmo
nos limites da publicidade.
Para o filme, o diretor certamente se inspirou no belo frasco do perfume, com sua geometria intrigante, na forma de um
cubo de vidro retorcido, que
produz distorções da visão e
efeitos prismáticos.
O filme é construído como
um labirinto de espelhos e reflexos, com planos e fusões que
fracionam o tempo e o espaço.
O rosto de Owen se duplica em superfícies de vidro, enquanto seu olhar
busca e perde Daria. Eles
são como dois espectros que
caminham em dimensões diferentes da imagem.
O jogo de sedução vai virando quebra-cabeça visual, até que o casal se
encontre e Kar-Wai revele o clichê do "happy
end" como pura hipnose publicitária.
Fastfashion
MOSHE NA PAULISTA
A grife Moshe, que desfila na
Casa de Criadores, apresentará
sua nova coleção de verão, amanhã, às 15h, no terraço do Conjunto Nacional, que fica na av.
Paulista, 2.073.
ADRIANA EM DOBRO
A estilista Adriana Degreas
inaugurou sua primeira loja
nos Jardins (r. Melo Alves, 734). A designer
será a única brasileira na feira The
Exhibition, na
London Fashion
Week, em setembro.
CAPITAL FASHION
Alexandre Herchcovitch,
Reinaldo Lourenço, Gloria
Coelho e a grife Do Estilista
reapresentarão suas coleções
de verão no Brasília Fashion
Festival, entre 4 e 6/9.
AULAS DE MODA
Os estilistas Rita Wainer,
Amir Slama e Tufi Duek são alguns dos convidados dos cursos
de extensão que acontecem nos
próximos meses no recém-criado Núcleo de Moda Escola
São Paulo (r. Augusta, 2.239,
tel. 0/xx/11 3081-0364).
JÓIAS DO BEM
A H.Stern promove, no próximo dia 5, uma venda especial
de jóias com descontos especiais. Parte das vendas das 40
lojas participantes será doada
para a ONG Care Brasil. Em
São Paulo, a consultora de moda Costanza Pascolato será a
patronesse do evento.
A PASSOS LARGOS
O Brasil é o novo foco de investimentos da New Balance.
Em setembro, a grife americana lança sua primeira linha de
vestuário no país e dá início à
sua maior campanha publicitária para o mercado brasileiro.
Também chegam às lojas novas
coleções de tênis, incluindo linhas streetwear (na foto, um
modelo Classics) e esportivas
de alta performance -tudo importado dos EUA e da Inglaterra. Já as roupas e acessórios serão produzidos no Brasil em
parceria com a Drastosa.
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