São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Filme acompanha a marcha dos ursos

Dos criadores do documentário sobre pingüins, "Aventuras no Novo Ártico" enfoca luta de filhotes por comida

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pequena ursa polar e uma morsa enfrentam o mundo hostil em época de aquecimento global. "O que há além de um círculo de luz", se pergunta a ursa Nanu logo ao nascer, em um buraco gelado no Ártico. A curiosidade a instiga a sair e procurar a mãe, faminta, após seis meses sem comer ou beber nada por conta do filhote.
Ali perto, vem ao mundo Seela, a morsa, que vai ter a proteção da mãe e de uma "tia" até os três anos, quando termina seu aprendizado de sobrevivência.
São duas realidades bem diferentes que o documentário "Aventuras do Novo Ártico", produzido pela National Geographic e que sai direto em DVD, vai acompanhar. Retrata um ciclo de vida completo dessas "crianças do Ártico", contrapondo a solidão do urso polar, que aos dois anos é expulso de perto da mãe para que busque sua própria comida, e o coletivo das morsas, que fazem tudo em conjunto, desde cuidar dos raros bebês até soltar os gases produzido pela comilança de 4.000 moluscos por vez.
Com trilha sonora divertida, com músicas como "We Are Family", o longa tem os produtores de "A Marcha dos Pingüins" e embala no sucesso do filme de Luc Jacquet, explorando narrativa familiar criada a partir das personagens Nanu e Seela, na voz de Queen Latifah.
Os predadores e a fome são os principais inimigos a vencer.
Nisso os ursos sofrem mais, porque sua presa (focas, principalmente) escapa 19 vezes antes que eles consigam apanhar uma. E, com a chegada do verão e o degelo, termina a temporada de caça. Como o aquecimento global tem estendido o período de calor, com três meses de atraso para o gelo se formar, os animais polares precisam migrar para cada vez mais longe para conseguir comida.
Vale dar uma olhada no making of para perceber o tamanho da empreitada do casal Adam Ravetch e Sarah Robertson: mesmo com os 15 anos de experiência deles, dependeram de ajuda local de moradores inuit e do tempo instável de 28 C negativos. Às vezes, tinham de esperar semanas para simplesmente poder sair do abrigo.
A média era de dois dias de filmagem por mês -algumas vezes para registrar apenas o gelo se quebrando ou chuva.
Os bastidores também revelam a proximidade que Ravetch chega dos animais, mesmo correndo o risco de ser afogado por uma morsa, que é duas vezes maior do que qualquer urso polar. Foram quatro anos para achar onde estavam as morsas bebês e mais um tempo de convencimento da mãe que o diretor era inofensivo, até que ela amamentasse diante da câmera dele, segurando sua filhote. Ou um plantão de 19 horas até um urso atacar um bando de morsas em atitude kamikase -que dá certo. Com essas cenas raríssimas e uma narrativa bem encadeada, este documentário se impõe como obrigatório.


AVENTURAS NO NOVO ÁRTICO
Distribuidora:
Paramount
Quanto: R$ 39,90, em média
Classificação indicativa: livre



Texto Anterior: Crítica: Ficção não é ameaça à história real
Próximo Texto: Novelas da semana
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.