São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2008

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BIA ABRAMO

Humor fora dos trilhos


Isis Valverde em "Beleza Pura" é um daqueles raros casos de acerto de personagem e intérprete

SE HÁ alguma coisa interessante nas novelas da Globo atualmente no ar, atende pelo nome de Rakelli. A moça de roupas curtíssimas e não menos coloridas e voz ligeiramente esganiçada, vivida por Isis Valverde em "Beleza Pura", é um daqueles raros casos de acerto de personagem e intérprete.
É raro haver papéis verdadeiramente cômicos para jovens mulheres, que fujam dos estereótipos -a moça sexy e burra, involuntariamente engraçada, ou da esquisita, feia, a quem não resta opção a não ser rir de si mesma. Na verdade, a Rakelli começou nos trilhos -manicure, suburbana, desbocada e destrambelhada. Mas aí entraram a ironia e o senso de comédia da atriz, praticamente uma estreante, e Rakelli tornou-se uma das principais atrações da novela.
É raro ver uma atriz tão jovem e inexperiente -Isis tem 21 anos e estreou na Globo em "Cabocla"- com tanta segurança e criatividade. Ela deu um tom todo pessoal à Rakelli e escapou com graça dos clichês.
A novela, de resto, chega quase ao final (acaba em duas semanas), marcando algumas diferenças. A primeira delas, acompanhando o sucesso da personagem Rakelli, foi experimentar um humor um tantinho fora do esquadro -e para isso contribuíram os talentos de atrizes como Maria Clara Gueiros e Zezé Polessa.
A segunda pode parecer um detalhe, mas não deixa de ser significativa: a trama se passa toda em Niterói, do outro lado da baía de Guanabara. É como se fosse um Rio do outro lado do espelho, tão perto e tão longe, e que nunca havia sido tematizado por uma novela global.
Agora, o que não fez diferença nesta novela que acaba, bem como não vem fazendo diferença em novela nenhuma, é a tal moldura "temática" que aparentemente discute "problemas da atualidade". "Beleza Pura" tinha médicos e médicas dermatologistas e clínicas de saúde, e dizia-se que discutiria a obsessão contemporânea pela beleza. Discutiu coisa nenhuma.

 

Um diretor da Globo deixou escapar, em público, uma frase que é bastante eloqüente a respeito da atitude das emissoras diante das novas tecnologias. No 5º Fórum Internacional de TV Digital, que aconteceu semana passada no Rio, o diretor de engenharia soltou: "(...) Nós éramos felizes e não sabíamos. Isso há dez, 15 anos. A única forma de ver televisão era pelo ar".
O tom nostálgico mascara a perplexidade: diante das novas formas de ver TV, o que fazer, além de se defender e lamentar? Eles, ao que parece, ainda não sabem.

biabramo.tv@uol.com.br


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