São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Lucas Santtana busca expandir o uso do violão

Para músico, conceito contemporâneo de canção vai da composição à mixagem final

Antes da carreira solo, Santtana foi instrumentista da banda de Gilberto Gil por três anos e tocou flauta no disco acústico do baiano

Fernando Donasci/Folha Imagem
O músico Lucas Santtana, que faz show de lançamento do CD "Sem Nostalgia' na sexta-feira no Sesc Pompeia, em São Paulo

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Era o dia 7 de agosto, Lucas Santtana passeava de bicicleta pelo bairro do Leblon, na zona sul carioca, quando o celular tocou. Um amigo ligava para avisar que seu mais recente CD, "Sem Nostalgia", ainda a caminho das lojas, estava recebendo comentários faixa a faixa, naquele instante, no Twitter.
O miniblog, que só aceita intervenções de até 140 caracteres, não é o espaço mais bem bolado para o exercício da crítica musical. Por isso mesmo Lucas gostou ainda mais da notícia. Usar ferramentas e instrumentos de maneira criativa é uma das coisas que admira. E foi o que procurou fazer em "Sem Nostalgia", disco raro, cool e inventivo, já entre os melhores do ano, que terá show de lançamento paulista na sexta-feira, no Sesc Pompeia.
O CD é feito apenas com voz e violões -acompanhados por sons ambientais, programações eletrônicas e "arranjos de insetos". Cinco das 12 canções têm letras em inglês -e três delas são parcerias com Arto Lindsay. O onipresente músico Curumin e Ricardo Dias Gomes, da banda Cê, estão entre os convidados.
O responsável pelas "tuitadas" foi o jornalista Pedro Alexandre Sanches, ex-crítico da Folha, que mantém um blog e escreve sobre música para diversas publicações. Seus comentários sobre o CD atraíram fãs e propiciaram uma troca de posts entre ele e Lucas.
"Estabeleceu-se um acontecimento raríssimo. Artista e crítico conversaram quase em tempo real e publicamente sobre esse encontro -em geral um desencontro- da produção com a análise da produção", conta Sanches.
Ao final de uma hora, tempo que durou o divertido experimento, o crítico havia acrescentado mais de cem seguidores à sua lista- "provavelmente gente que seguia Lucas no Twitter". Provavelmente. O músico é assíduo frequentador da blogosfera e responsável pelo diginois.com.br, lançado em 2006, que oferece músicas e CDs para ouvir, baixar e remixar. "Sem Nostalgia" inclusive.

Na banda de Gil
Nascido em Salvador, em 1970, Lucas é filho de Renato Sant'Ana, importante produtor musical, que criou, em 1961, o lendário espetáculo "Nós, Por Exemplo", com participação de Tom Zé, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Djalma Corrêa. Na Polygram, em fase áurea, produziu diversos LPs, entre os quais "Refavela", de Gil.
Aos 13 anos, Lucas foi ter aulas na AMA, a Academia de Música Atual, escola particular criada em Salvador por professores universitários que haviam estudado na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Anos depois, ingressou na faculdade de música da Bahia, conhecida pela herança renovadora de Hans Joachim Koellreutter e Walter Smetak.
No período em que trabalhou como instrumentista (tocou flauta com Gil no "Acústico" e participou de sua banda durante três anos), Lucas usou o tempo ocioso das turnês para compor. Em 1998, o produtor Chico Neves o convidou para fazer um disco. Lançado em 2000, "Eletro Ben Dodô" teve uma mãozinha de Peter Gabriel, que gostou das canções e ofereceu gratuitamente seu estúdio londrino para a finalização do trabalho. Depois vieram "Parada de Lucas" (2003) e "3 Sessions in a Greenhouse" (2006), o primeiro a ser lançado na internet não apenas para download mas também para remix.
"Nesse quarto disco, eu já tinha a vontade de gravar só com voz e violão, mas achava que fazer isso de maneira tradicional não acrescentaria nada." O que faltava era encontrar o que Lucas chama de "textura" musical, aquilo que vai além da melodia e da harmonia -mas não é exatamente um "arranjo".
Para ele, a ideia de textura nos remete à pintura. "É a maneira como as tintas serão usadas, se serão adensadas ou não, se vão refletir essa ou aquela luz, se comporão esse ou aquele plano." Lucas considera que o conceito contemporâneo de canção se estende da composição básica à mixagem final.
Aos poucos a textura de "Sem Nostalgia" foi se desenhando. A ideia era expandir o uso do violão com samples de clássicos brasileiros, percussão no próprio instrumento e programações. Quanto a isso, "Super Violão Mashup", a faixa que abre o disco, é exemplar. Depois, vieram os sons de insetos, que ele havia ouvido no Museu de História Natural, em Londres.
Finalmente, diz o músico, "quis imprimir o som das salas de gravação, que está ali mas a gente não ouve porque é um som quase "invisível". Só as máquinas nos permitem obter esse superouvido, assim como usamos binóculos para obter um superolho".


LUCAS SANTTANA & SELEÇÃO NATURAL

Quando: sexta-feira, 4/9, às 21h
Onde: Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: de R$ 4 a R$ 16
Classificação: 18 anos


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Crítica: Músico declara amor ao avesso pela tradição
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.