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Crítica
Músico declara amor ao avesso pela tradição
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os insetos são o de menos. O que Lucas Santtana discute neste seu
quarto e melhor álbum é a desgastada relação entre a canção
feita no Brasil e seu instrumento essencial, o violão.
Tudo já foi inventado nas
cordas de náilon de Dorival
Caymmi, João Gilberto, Baden
Powell, Jorge Ben, Gilberto Gil.
Tudo já foi replicado -e diluído- à exaustão pelos que vieram depois deles. E agora, esgotaram-se as possibilidades?
Santtana comenta o enfraquecimento da "tradição violonística da canção brasileira"
sampleando justamente ícones
dela. É quase o que Caetano fez
com a bossa nova quando arquitetou o projeto tropicalista.
No fim dos anos 60, a invenção transgressora de João Gilberto já estava diluída e, em seu
nome, muito nhenhenhém era
produzido. Para que as ideias
iniciais de João não se perdessem nisso, Caetano se valeria
de elementos dela própria para
implodi-la. João, ele sabia, sobreviveria ao estrondo.
O violão também sobreviverá, sempre, como espinha dorsal da canção brasileira -e Lucas grita isso em seu disco. Mas
o grito é dado para dentro, escondendo os nomes dos gênios
"orgânicos" do instrumento
-Caymmi, João, Baden etc.-
por trás da liquidificação promovida pelos computadores.
É uma declaração de amor às
avessas. Não à tradição, simplesmente -mas ao caráter
subversivo que ela carregava
em seus tempos iniciais, antes
de se chamar "tradição". E uma
declaração desse quilate só funcionaria dessa maneira, com
boas doses de subversão.
SEM NOSTALGIA
Artista: Lucas Santtana
Gravadora: YB Music; R$ 18, em média
Avaliação: ótimo
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