São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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Famosa por cantar "Je t'Aime... Moi Non Plus" com Serge Gainsbourg, Jane Birkin vem ao país

A inglesa e o continente

NICK DUERDEN
DO "INDEPENDENT"

Quando Jane Birkin tinha apenas 17 anos, já tinha se enquadrado a uma vida muito ordeira. Filha de pais artistas e aristocráticos, ela se casara com o compositor da trilha sonora de James Bond, John Barry, e estava à espera do primeiro filho do casal.
Mas, para quem aparecia no primeiro nu frontal de verdade do cinema britânico, em "Blow Up", de Antonioni, a trajetória subseqüente não estava no roteiro.
Aos 20 anos, conseguiu um papel no filme "Slogan" e mudou-se para Paris. Era 1968, e a boemia parisiense a fascinava. Foi apresentada a um francês feio, 20 anos mais velho do que ela, famoso como ator, cantor, diretor e romancista ocasional. Se apaixonou.
Serge Gainsbourg já havia passado diversos anos contestando a moralidade francesa e ofendendo as elites do país. Acabara de compor uma canção chamada "Je t'Aime... Moi Non Plus", para sua então namorada, Brigitte Bardot. Rapidamente se envolveu com Birkin e deu a canção para ela gravar. Birkin cantou-a com gosto, fingindo o orgasmo da letra até que ele soasse verdadeiro.
A gravação irritou o Vaticano, foi banida pela BBC. O disco chegou ao primeiro lugar no Reino Unido e a tornou célebre para sempre. "Sei exatamente o que essa canção representará quando eu deixar este mundo e aceito. Afinal sou a mulher que gravou a canção grosseira", suspira.
Embora ela continue a ser a "mulher que gravou a canção grosseira" em sua Inglaterra natal, Birkin é reverenciada como ícone na França, seu lar adotivo, passadas quase quatro décadas.
A pouco mais de um mês de completar 58 anos, Birkin está mais ocupada que nunca. No momento, promove seu novo disco de duetos, "Rendez-Vous". É um trabalho estranho, hipnótico e atraente que apresenta 16 colaborações com, entre outros, Bryan Ferry, Beth Gibbons, do Portishead, e Brian Molko, do Placebo. Cantado em francês e inglês (e em japonês, em uma das faixas), a idéia para o disco surgiu do presidente de sua gravadora, a quem Birkin procurou há um ano em busca de um novo contrato.
"Eu perguntei se ele achava que valho alguma coisa em moeda atual. Disse que pensasse em mim não como mulher, mas como um tapete. Um tapete velho, certamente, mas que no passado foi muito bom. Ele olhou para mim, sorriu e disse que um tapete velho pode ter muito a oferecer."
Ela se divertiu muito gravando o disco e ficou especialmente fascinada com Molko e Gibbons.
"Brian é adorável, doce, inteligente, bilíngüe, bissexual e muito irônico com relação a ele mesmo, e Beth... Bem, ela me deixou completamente intrigada. Ela está sempre à procura de informação, mas não revela muito sobre si mesma. No entanto, ela conseguiu que eu lhe contasse quase toda a história da minha vida..."
Há dois anos, Birkin recebeu a Ordem do Império Britânico, por seus serviços à amizade anglo-francesa. A honraria veio como surpresa. Mas não deveria, porque, durante seus 37 anos de residência na França, Birkin trabalhou em mais de 50 filmes, em incontáveis peças de teatro e continua a cantar as canções que Gainsbourg compôs para ela.
E ela não mostra sinais de que pretende desacelerar. Está sempre trabalhando, planejando novos projetos. Pergunto se teme envelhecer. "Eu acreditava que a perspectiva da velhice deveria ser assustadora", reconhece, "mas na verdade não é, não. E isso é porque ainda resta muito a fazer, a aprender. Cada dia está repleto de oportunidades, descobertas. Aprecio a vida imensamente".


Tradução de Paulo Migliacci

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