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Famosa por cantar "Je t'Aime... Moi Non Plus" com Serge Gainsbourg, Jane Birkin vem ao país
A inglesa e o continente
NICK DUERDEN
DO "INDEPENDENT"
Quando Jane Birkin tinha apenas 17 anos, já tinha se enquadrado a uma vida muito ordeira. Filha de pais artistas e aristocráticos, ela se casara com o compositor da trilha sonora de James
Bond, John Barry, e estava à espera do primeiro filho do casal.
Mas, para quem aparecia no
primeiro nu frontal de verdade do
cinema britânico, em "Blow Up",
de Antonioni, a trajetória subseqüente não estava no roteiro.
Aos 20 anos, conseguiu um papel no filme "Slogan" e mudou-se
para Paris. Era 1968, e a boemia
parisiense a fascinava. Foi apresentada a um francês feio, 20 anos
mais velho do que ela, famoso como ator, cantor, diretor e romancista ocasional. Se apaixonou.
Serge Gainsbourg já havia passado diversos anos contestando a
moralidade francesa e ofendendo
as elites do país. Acabara de compor uma canção chamada "Je
t'Aime... Moi Non Plus", para sua
então namorada, Brigitte Bardot.
Rapidamente se envolveu com
Birkin e deu a canção para ela gravar. Birkin cantou-a com gosto,
fingindo o orgasmo da letra até
que ele soasse verdadeiro.
A gravação irritou o Vaticano,
foi banida pela BBC. O disco chegou ao primeiro lugar no Reino
Unido e a tornou célebre para
sempre. "Sei exatamente o que essa canção representará quando eu
deixar este mundo e aceito. Afinal
sou a mulher que gravou a canção
grosseira", suspira.
Embora ela continue a ser a
"mulher que gravou a canção
grosseira" em sua Inglaterra natal, Birkin é reverenciada como
ícone na França, seu lar adotivo,
passadas quase quatro décadas.
A pouco mais de um mês de
completar 58 anos, Birkin está
mais ocupada que nunca. No momento, promove seu novo disco
de duetos, "Rendez-Vous". É um
trabalho estranho, hipnótico e
atraente que apresenta 16 colaborações com, entre outros, Bryan
Ferry, Beth Gibbons, do Portishead, e Brian Molko, do Placebo.
Cantado em francês e inglês (e em
japonês, em uma das faixas), a
idéia para o disco surgiu do presidente de sua gravadora, a quem
Birkin procurou há um ano em
busca de um novo contrato.
"Eu perguntei se ele achava que
valho alguma coisa em moeda
atual. Disse que pensasse em mim
não como mulher, mas como um
tapete. Um tapete velho, certamente, mas que no passado foi
muito bom. Ele olhou para mim,
sorriu e disse que um tapete velho
pode ter muito a oferecer."
Ela se divertiu muito gravando
o disco e ficou especialmente fascinada com Molko e Gibbons.
"Brian é adorável, doce, inteligente, bilíngüe, bissexual e muito
irônico com relação a ele mesmo,
e Beth... Bem, ela me deixou completamente intrigada. Ela está
sempre à procura de informação,
mas não revela muito sobre si
mesma. No entanto, ela conseguiu que eu lhe contasse quase toda a história da minha vida..."
Há dois anos, Birkin recebeu a
Ordem do Império Britânico, por
seus serviços à amizade anglo-francesa. A honraria veio como
surpresa. Mas não deveria, porque, durante seus 37 anos de residência na França, Birkin trabalhou em mais de 50 filmes, em incontáveis peças de teatro e continua a cantar as canções que
Gainsbourg compôs para ela.
E ela não mostra sinais de que
pretende desacelerar. Está sempre
trabalhando, planejando novos
projetos. Pergunto se teme envelhecer. "Eu acreditava que a perspectiva da velhice deveria ser assustadora", reconhece, "mas na
verdade não é, não. E isso é porque ainda resta muito a fazer, a
aprender. Cada dia está repleto de
oportunidades, descobertas.
Aprecio a vida imensamente".
Tradução de Paulo Migliacci
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