São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2005

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6º Festival Internacional de Linguagem Eletrônica reúne 300 artistas no Sesi, com entrada franca

Fortaleza digital

Fernando Donasci/ Folha Imagem
Inventor do hipertexto e das primeiras experiências na internet, o norte-americano Ted Nelson está no Brasil para participar do File


ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se no século 20 éramos modernos, a expressão que melhor determina o comportamento no século 21 é "hiper": a vida é hiperacelerada, as crianças, hiperativas, as pessoas, hiperestressadas, a internet, hiper-rápida, os descolados, simplesmente, "hypes"...
É justo então que um evento hipermovimentado como o Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, o File, que aposta ser o maior acontecimento de arte e tecnologia do país, inicie sua sexta edição com a presença de um dos primeiros intelectuais a utilizarem o termo "hiper" no campo das artes eletrônicas, o norte-americano Theodor H. Nelson, que, em 1960, cunhou as palavras hipertexto e hipermídia.
Filósofo e professor convidado do Instituto de Internet da Universidade Oxford (Reino Unido), Ted Nelson vem pela primeira vez ao Brasil para a abertura do File hoje, no Centro Cultural Fiesp, em um simpósio somente para convidados. A partir de amanhã, o público poderá acompanhar o festival, que segue até o dia 20 com uma programação na galeria e no teatro do Sesi. Reúne trabalhos de cerca de 300 artistas de pelo menos 30 países.
A profusão é imensa e a interatividade, o mote da maioria das obras, divididas em instalações, filmes, games, animações e peças de "net art", entre outros, além de uma série de performances de música que compõem o Hipersônica, quase um outro evento inserido no File (veja texto abaixo).
Seguindo a tendência de expandir-se pela cidade, o festival leva uma obra à estação Trianon-Masp do metrô -a instalação interativa "Idades"- e põe outra dentro de um táxi, "Transfers", que poderá ser vista enquanto a pessoa passeia pelo centro.
A isso, soma-se ainda uma série de conferências que acontecem de terça a sexta, no mezanino do Sesi. Entre os destaques, está o norte-americano George P. Landow, autor de importantes pesquisas sobre hipermídia e hipertexto. Ainda que dois dos principais teóricos do hipertexto -Landow e Nelson- estejam entre os convidados, este não é o tema do evento. "Ele [o festival] não tem um objeto principal. Evitamos isso para diversificar as manifestações", explica Paula Perissinoto, 42, organizadora ao lado de Ricardo Barreto. "Tentamos ligar a mostra a referências teóricas. O simpósio é um ponto de encontro para discutir e compartilhar conhecimento", acredita. "[Ted] Nelson nunca veio ao Brasil, não tem nada traduzido para o português e achamos que era importante trazê-lo, mais pela figura histórica", fala Perissinoto.

Redes
Seja lá qual for o motivo, as teorias de Nelson têm tudo a ver com a idéia do festival, de envolver o público em uma rede de experiências artísticas. Para ficar mais claro, o conceito de hipertexto, descrito por George Landow no livro "Hypertext 2.0" (1997), diz que este é uma série de textos conectados por links que proporcionam diferentes opções de leitura. Hipermídia, por sua vez, é a possibilidade de agregar figuras, sons e mapas aos links. Qualquer semelhança com a internet não é mera coincidência.
Aos 20 e poucos anos, o jovem estudante de Harvard Ted Nelson acreditava que a literatura poderia funcionar de maneira não-linear. Suas idéias foram o embrião para o projeto Xanadu, no qual, junto a outros pesquisadores, ele tentou criar um sistema dentro de uma rede de computadores. Nos anos 80, o Xanadu foi vendido, mas, por falta de investimento e "problemas políticos", não vingou. Muita gente afirma, no entanto, que o hipertexto inspirou outra invenção, a bem-sucedida "world wide web", que Ted Nelson "odeia".
"Os tecnólogos seqüestraram o conceito de hipertexto e criaram algo que não tem nada a ver com ele", diz Nelson, 68. Sua principal crítica é que, ao contrário do que ele propunha, a internet repete o design do papel, sem trazer inovação. "Há milhares de maneiras de colocar as coisas na tela, mas todos -Macintosh, Microsoft, Linux- copiam o formato retangular e a hierarquia do papel."
Em sua conferência, hoje à noite, Nelson apresenta sua nova proposta, a "transliteratura", que conecta duas webpages -quando o mouse passa sobre um trecho do texto, se abre uma janela que leva para o original. "É um sistema de fonte aberta, onde é possível remixar e recombinar qualquer coisa, sem problemas com copyright", garante.
A "transliteratura", centro de seus atuais estudos em Oxford, está descrita no site www.transliterature.org. Talvez, no século 22, sejamos todos "trans...".

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