São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2007

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Exposição em Paris destaca Courbet

Retrospectiva na França, a maior dedicada ao artista nas últimas décadas, apresenta nus como "A Origem do Mundo"

Mostra no Grand Palais, que vai até janeiro de 2008, tem 120 quadros do polêmico pintor, um dos maiores artistas do século 19

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Cento e vinte quadros para provar que Gustave Courbet (1819-1877) não pode ser resumido a um único nu, mesmo que este seja "o mais famoso sexo feminino da pintura ocidental", como escreveu um crítico.
"A Origem do Mundo" também está lá, claro, em local privilegiado, no primeiro andar, pois ninguém ignora que a maioria das pessoas quer sobretudo ver o famoso quadro, que pertenceu ao psicanalista Jacques Lacan até sua morte.
As filas diante da exposição "Gustave Courbet", inaugurada neste mês e aberta até 28 de janeiro de 2008, provam a curiosidade do público em conhecer melhor a obra do inventor do realismo, um pintor narcisista, que se imortalizou em dezenas de auto-retratos, ora como um pintor em seu ateliê, um de seus quadros mais conhecidos, ora como um jovem artista no quadro chamado "O Desesperado", imagem-símbolo dessa exposição, reproduzida nos cartazes, em dezenas de objetos e no catálogo. Nele, Courbet se retratou com traços de uma beleza viril e frágil.
A exposição no Grand Palais é a maior retrospectiva do artista nos últimos 30 anos. A mostra é grandiosa pelo número de quadros, 120, pela importância do pintor, um dos maiores do século 19, e pela polêmica que cercou sempre a vida e a obra desse artista, como explica uma das curadoras, Laurence des Cars. Republicano convicto, Gustave Courbet morreu no exílio na Suíça, depois de ter-se envolvido com a Comuna de Paris, em 1871.
Os nus de Courbet formam um capítulo à parte. Além de importantes para a história da arte, dois dos quadros-vedetes da exposição, "A Origem do Mundo", de 1866, e "Mulher Nua Deitada", de 1862, ficaram desaparecidos durante anos.
O primeiro foi encomendado a Courbet em 1886, por um rico diplomata turco, Khalil-Bey, que habitava Paris. O pintor o deu de presente ao diplomata, que já havia adquirido "Sono", também na exposição, no qual duas jovens dormem nuas e enlaçadas. O turco precisou vender sua coleção para pagar dívidas. "A Origem do Mundo", que nunca havia sido exposto, foi vendido em segredo. Reapareceu em Paris e foi comprado em 1913 pelo colecionador húngaro Ferenc Hatvany.
Escondido no cofre de um banco em Budapeste, em 1942, o quadro foi levado em 1945 pelo Exército Vermelho, e não pelos nazistas, como se pensou a princípio. Hatvany o recuperou na década de 1950 e o revendeu.
O psicanalista Jacques Lacan comprou o quadro de um marchand para dar de presente a sua mulher, Silvia Lacan, ex-mulher de Georges Bataille.
Na casa dos Lacan, somente alguns privilegiados tinham acesso a essa origem do mundo, um corpo de mulher deitado, numa perspectiva ousada, que deixa ver apenas uma parte dos seios, as coxas e a vagina.
Depois da morte de Silvia, seus herdeiros deram o quadro ao Estado como pagamento dos impostos de inventário da herança de Lacan.
Já "Mulher Nua Deitada" retrata uma cortesã languidamente deitada, depois do amor. Ele também pertenceu a Hatvany e esta nas mãos de seus herdeiros atualmente.


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