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Exposição em Paris destaca Courbet
Retrospectiva na França, a maior dedicada ao artista nas últimas décadas, apresenta nus como "A Origem do Mundo"
Mostra no Grand Palais, que vai até janeiro de 2008, tem 120 quadros do polêmico pintor, um dos maiores artistas do século 19
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Cento e vinte quadros para
provar que Gustave Courbet
(1819-1877) não pode ser resumido a um único nu, mesmo
que este seja "o mais famoso sexo feminino da pintura ocidental", como escreveu um crítico.
"A Origem do Mundo" também está lá, claro, em local privilegiado, no primeiro andar,
pois ninguém ignora que a
maioria das pessoas quer sobretudo ver o famoso quadro,
que pertenceu ao psicanalista
Jacques Lacan até sua morte.
As filas diante da exposição
"Gustave Courbet", inaugurada
neste mês e aberta até 28 de janeiro de 2008, provam a curiosidade do público em conhecer
melhor a obra do inventor do
realismo, um pintor narcisista,
que se imortalizou em dezenas
de auto-retratos, ora como um
pintor em seu ateliê, um de
seus quadros mais conhecidos,
ora como um jovem artista no
quadro chamado "O Desesperado", imagem-símbolo dessa
exposição, reproduzida nos
cartazes, em dezenas de objetos e no catálogo. Nele, Courbet
se retratou com traços de uma
beleza viril e frágil.
A exposição no Grand Palais
é a maior retrospectiva do artista nos últimos 30 anos. A
mostra é grandiosa pelo número de quadros, 120, pela importância do pintor, um dos maiores do século 19, e pela polêmica que cercou sempre a vida e a
obra desse artista, como explica uma das curadoras, Laurence des Cars. Republicano convicto, Gustave Courbet morreu
no exílio na Suíça, depois de
ter-se envolvido com a Comuna de Paris, em 1871.
Os nus de Courbet formam
um capítulo à parte. Além de
importantes para a história da
arte, dois dos quadros-vedetes
da exposição, "A Origem do
Mundo", de 1866, e "Mulher
Nua Deitada", de 1862, ficaram
desaparecidos durante anos.
O primeiro foi encomendado
a Courbet em 1886, por um rico
diplomata turco, Khalil-Bey,
que habitava Paris. O pintor o
deu de presente ao diplomata,
que já havia adquirido "Sono",
também na exposição, no qual
duas jovens dormem nuas e
enlaçadas. O turco precisou
vender sua coleção para pagar
dívidas. "A Origem do Mundo",
que nunca havia sido exposto,
foi vendido em segredo. Reapareceu em Paris e foi comprado
em 1913 pelo colecionador
húngaro Ferenc Hatvany.
Escondido no cofre de um
banco em Budapeste, em 1942,
o quadro foi levado em 1945 pelo Exército Vermelho, e não pelos nazistas, como se pensou a
princípio. Hatvany o recuperou
na década de 1950 e o revendeu.
O psicanalista Jacques Lacan
comprou o quadro de um marchand para dar de presente a
sua mulher, Silvia Lacan, ex-mulher de Georges Bataille.
Na casa dos Lacan, somente
alguns privilegiados tinham
acesso a essa origem do mundo,
um corpo de mulher deitado,
numa perspectiva ousada, que
deixa ver apenas uma parte dos
seios, as coxas e a vagina.
Depois da morte de Silvia,
seus herdeiros deram o quadro
ao Estado como pagamento dos
impostos de inventário da herança de Lacan.
Já "Mulher Nua Deitada" retrata uma cortesã languidamente deitada, depois do amor.
Ele também pertenceu a Hatvany e esta nas mãos de seus
herdeiros atualmente.
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