|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Análise/artes plásticas
Com Salão de Belas Artes, governo regride ao século 19
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Até hoje, a Secretaria de
Cultura do Estado recebe inscrições para o 1º
Salão de Belas Artes de São
Paulo, que acontece em janeiro
de 2008, no prédio da Bienal.
Os vencedores concorrerão a
prêmios no valor máximo de
R$ 6 mil e suas obras ficarão no
acervo da secretaria.
Belas-artes? É estranho que,
em pleno século 21, um órgão
estadual de cultura organize
um evento com um termo tão
datado, que remete aos salões
criados no século 19 para expor
as obras criadas nas academias
de belas-artes e por isso denominadas "acadêmicas".
Foi contra os procedimentos
acadêmicos que a arte moderna
se insurgiu, ao mesmo tempo
em que vários salões alternativos foram criados para expor a
nova forma de produção. Um
dos grandes marcos do impressionismo foi, por exemplo, a
mostra com 30 artistas, em
abril de 1874, no ateliê do fotógrafo Felix Nadar, portanto fora do salão oficial, na qual participaram Cézanne, Renoir e
Monet, entre outros.
No Brasil, a Semana de Arte
Moderna de 1922, em São Paulo, foi um manifesto contra o
academismo e a noção de belas-artes. Mesmo a 38ª Exposição
de Belas Artes, realizada durante a gestão de Lucio Costa na direção da Escola Nacional de Belas Artes, no Rio, em 1931, teve
seu nome alterado para Salão
Revolucionário, a fim de atrair
artistas de perfil moderno.
Estranhamente, o "novo" salão é promovido em conjunto
com a APAA (Associação Paulista dos Amigos da Arte), organização social criada para administrar teatros estaduais, e
não por nenhum das instituições que cuidam das artes plásticas no Estado, como a organização que administra o Paço
das Artes, por exemplo.
Tradição
No material de divulgação,
explica-se que o objetivo "é
continuar a tradição do antigo
Salão Paulista de Belas Artes e
revelar trabalhos artísticos vinculados exclusivamente à arte
figurativa". Ora, há vários salões em todo país que se originaram nos moldes de salões
tradicionais, mas acompanharam as mudanças no tempo e
hoje se dedicam à produção
contemporânea, como em Ribeirão Preto ou Salvador. Outros, como em Recife e Belo
Horizonte, passaram a oferecer
residências artísticas, com bolsas para estimular a produção,
obtendo sucesso. Obras produzidas nesses salões chegaram a
ir direto para bienais internacionais, como a de Veneza.
Por que, então, São Paulo retorna ao século 19 e ao figurativismo, quando denominações
desse tipo caducaram? Como
isso pode fazer parte da política
cultural do governo estadual?
O curador Paulo Herkenhoff
costuma abordar o conservadorismo paulista enfurecendo
os curadores locais, mas o que o
governo do Estado está promovendo é um atestado do reacionarismo brasileiro.
Texto Anterior: Internet: Jornalismo cultural é tema de debates Próximo Texto: Teatro: Filme acompanha Soleil em Cabul Índice
|